Champs-Élysées - Paris.
Com o Congresso de Viena, começa a nova era. Esgotada por vinte anos de guerra, pela crise que as ideias liberais da Revolução Francesa tinham provocado em cada país, a Europa prepara-se para elaborar os novos princípios, em uma atmosfera de paz, pelo menos na aparência. Em Viena, foram reunidos, em congresso, os representantes da Rússia, da Áustria, da Inglaterra, da Prússia e da França borbônica; trata-se, pelo menos teoricamente, de reconduzir o mundo ao "atatu quo ante", de anular, com tratados regulares, vinte e seis anos de História; algo muito difícil, mesmo para um Metternich ou um Talleyrand. Podemos dizer que o Congresso de Viena, um dos mais longos e ricos de intriga de que há lembrança na História, reuniu, na capital austríaca, a fina flor da diplomacia e da aristocracia da Europa. Ficou célebre, além da participação dos vultos que os denominavam - Metternich, Talleyrand, Castlereagh, o Tzar Alexandre I - também pelas festas e os intermináveis banquetes que diariamente alegravam os congressistas. O ajustamento político, partindo do princípio de ignorar as aspirações dos povos, não era difícil de organizar; bastava acalmar os legítimos desejos dos senhores depostos ou dos soberanos vencedores. Assim, a Áustria, forte pelo fato de que a Itália "já não era mais que uma expressão geográfica" (frase celebríssima pela sua incrivel cegueira, é da quele fino político que foi o príncipe de Metternich), tomou para si a Lombardia e o Véneto; a Toscana foi entregue a Fernando II de Lorena; Luca, a Maria Luísa de Borbão; Parma, Placência e Guastala, à esposa de Napoleão, Maria Luísa d'Ástria; Módena, a Fernando IV d'Este Lortena; o reino das "Duas Sicílias", a Fernando IV de Borbão. A sardenha voltava a ser do rei de Sabóia e a ela se anexava a Ligúria; a Prússia estendia seus limites até abarcar a Vestfália e a Saxônia; à Rússia foram reconhecidos os direitos sobre a Finlândia, a Bessarábia e parte da Polônia; a França reentrava em suas velhas fronteiras, o que para ela ainda era bom negócio. Os estados alemães formavam a confederação germânica, primeiro núcleo ideal da futura nação, sob a presidência da Áustria; os Países baixos, antigo feudo do Império, constituíam um reino, sob a casa de Orange; Suécia e Noruega formavam um único estado, sob o cetro de Bernadotte, valoroso marechal, de napoleão, que fora eleito herdeiro da coroa da Suécia em 1810.
Bastante especiais são as conquistas da Inglaterra, consistentes em territórios já de fato ocupados pelos ingleses, mas que foram reconhecidos como de propriedade da nação britânica somente graças à tenacidade e notável habilidade do lorde Castlereag: Malta, Gibraltar, o Cabo da Boa esperança, algumas colônias francesas e espanholas; pontos-chaves, caminhos marítimos obrigatórios, ou terras susceptíveis de uma limitada exploração, cuja posse conformava e consolidava a supremacia marítima da Grã-Bretanha. Na prática, somente a Inglaterra demonstrou, no Congresso, saber realizar seus negócios com profundo discernimento e excepcional clarividência, assumindo, desde então, aquele caráter de potência mundial, que conservou até hoje. A Áustria, ao invés, com o Lombardo-Véneto, granjeava para si um perigoso foco de desordens e, constituindo a Confederação Germânica, preparava os povos alemães para libertar-se de sua hegemonia.
A Inglaterra foi a verdadeira triunfadora da campanha de 1815. A vitória de Waterloo premiou o povo que soubera lutar, sem incertezas e sem comprometer-se, contra o tirano. O anúncio da vitória fez explodir, pelas ruas de Londres, o regozijo popular em sua forma mais franca.
Um dos protagonistas da nova ordem europeia era, pelo poderio de seus estados e de seus exércitos, Alexandre I, o Tzar da Rússia. Napoleão adivinhara a gigantesca carga de energias que se ocultava no imenso império moscovita e já pensara, por um momento, em poder repartir, com Alexandre, o domínio do mundo. O jovem imperador sofria o encanto daquele estranho emaranhado de ideias meio religiosas e meio iluminísticas, que rodeava os círculos intelectuais de São Petersburgo, dominados, sobretudo, pelos maçons (os "livres pedreiros" haviam-se difundido enormemente pela Europa e a lojas russas tinham justamente elaborado um conjunto de teorias místicas e genericamente reformadoras). Além disso, deixara-se sugestionar por uma espécie de vidente, que o convencera de estar destinado a reunir o mundo em uma grande comunidade, irmanada pela fé em Cristo, e paternalmente orientada, pelos soberanos, por direito divino. Levado por esse conjunto de utópicas crenças, e talvez, também, pelo obscuro instinto dos povos europeus, que desejavam a paz a qualquer custo, Alexandre tornou-se promotor de uma união estável e pessoal, entre os soberanos dos maiores países; denominou-a "Santa Aliança", e o nome e o teor dos primeiros parágrafos do tratado revelavam suficientemente o caráter místico, mais do que político ou militar. Na prática, a Santa Aliança, à qual aderiram Áustria e Prússia e, a seguir, também países menores, ter-se-ia tornado um forte instrumento nas mãos dos soberanos, para apagar, em seu nascedouro,as "nefastas" ideias da Revolução, ou de qualquer outro movimento que ameaçasse o princípio da monarquia absoluta. A Inglaterra, única dotada de bom senso, em tão crédula e infantil aventura, conservou-se prudentemente distante da nova aliança, contrária ao espírito democrático de constituição britânica.
Na prática, a aliança, com o aparecimento em toda a Europa do espírito nacionalista, transformou-se em um instrumento de opressão, e também, como tal, serviu para debelar algum movimento revolucionário de modesta entidade; quando a hora da liberdade soou para todos os povos do continente, ela se revelou qual era, pueril e anacrônica utopia de um soberano que julgava poder fazer e refazer a História a seu bel-prazer.
Quando Luiz XVII veio retomar seu lugar no trono dos seus avós, percebeu-se logo que a época dos Borbões já terminara; o rei e seus cortesões pareciam anacrônicos, fantasmas de uma era já sepultada.
Os anos que se seguiram ao Congresso de Viena encontram, finalmente, uma Europa pacífica, exausta das guerras napoleônicas e da grande febre da Revolução Francesa, mas decidida a dirigir suas próprias forças para objetivos de paz e de coexistência. Entre todos os estados que combateram o aventureiro corso e sua louca política de hegemonia, a Inglaterra e, sem dúvida, a que se encontra em uma posição de predomínio moral e material. Ela é a única nação que pode contrapor, à falência aparente e aos erros reais da revolução, um sólido regime democrático, fruto de séculos de luta parlamentar, é afinal, o único estado que preferiu às mesquinhas reivindicações territoriais ou de prestígio, a aquisição de sólidas bases para o desenvolvimento de seu comércio. E, na verdade, nós veremos, nos cem anos seguintes, a Inglaterra não só à frente da Europa, mas do mundo; veremos o poderio britânico firmar-se, nos cinco continentes, com força do direito, de uma superior civilização, de um férreo sentido cívico.
Durante a época napoleônica, a Grã-Bretanha correra o maior perigo de sua história e tinha evitado, por milagre, a ruína econômica; agora, dissolvidas as nuvens borrascosas, todas as suas energias se canalizam rumo a objetivos pacíficos e produtivos. Não devemos pensar que a Inglaterra dos primeiros anos do século XIX fosse, politicamente ou socialmente, semelhante à atual; a aristocracia latifundiária dominava ainda, literalmente, todo o país; vigoravam, outrossim, leis medievais (como aquela dos caçadores furtivos, que condenava a trabalhos forçados o camponês que atirasse numa lebre) e o povo possuía direitos apenas nominais. Todavia, estes direitos existiam e havia sempre alguém que lutava por traduzir na prática aquilo que a lei sancionava, para defender os oprimidos e os exploradores; estes "tributos da plebe" surgiam agora, no seio da aristocracia intelectual, ora entre os aristocratas, sempre, de qualquer maneira, nas classes que tinham tudo a ganhar na conservação da ordem então vigente. Os distritos rurais, salvo raras exceções, encontravam-se nos primeiros anos do século XIX, em um estado de relativa miséria;em redor das aldeias, somente uma pequena parte da terra era cultivada, em comum, pelos habitantes, ao passo que o resto, por dezenas de milhas, era mato ou bosques incultos. As necessidades alimentares, impostas pelo sítio napoleônico, conduziam os lavradores a uma produção mais intensa de bens de sustento, estendendo, modificando e melhorando culturas e criação de gado. A maior parte dos proprietários foi obrigada a confiar faixas de suas terras a meeiros, para que cultivassem, e a lotear também o "campo aberto" que circundava as povoações. Foi assim que os campos ingleses assumiram aquele característico aspecto de tabuleiro de xadrez, conferido pelas inúmeras sebes que os dividem, e que conservam ainda hoje; o resultado, todavia, foi, em primeiro lugar, aquele de transformar uma quantidade de livres cultivadores em assalariados e obrigar muitos camponeses a procurar trabalho nas cidades, impelidos pela fome. As máquinas a vapor, que se iam difundindo sempre mais, estavam transformando o artesanato inglês, especialmente o têxtil, em uma verdadeira grande indústria e, nenhuma lei protegia os trabalhadores, estes eram submetidos a horários desumanos e recompensados com salários irrisórios. O afluxo de gente do campo para a cidade determinara o rápido crescimento de bairros de habitação para operários,esquálidos aglomerados de casarões enegrecidos pela fumaça das fábricas, onde aquela pobre gente, faminta e sem direitos, arrastava uma existência mais triste que se possa imaginar; rapazes de doze ou treze anos e pobres mulheres, preterindo-se os homens, que tinham pretensões mais elevadas. Em contraste com as míseras condições das classes mais humildes, pontilhava a opulência da aristocracia e da burguesia.
Protegida por lei de excepcional rigor, a caça permaneceu, durante todo o século XVIII, privilegio da nobreza e dos proprietários de terras. A caça a cavalo, ao veado ou à raposa, que exige um largo emprego de recursos, era, e em alguns lugares ainda é, um esporte reservado a poucos. até fins do século XIX, começou-se, de fato, a delinear os campos, restringindo o exercício da caça a territórios sempre mais modestos.
Os Lordes, na maioria, grandes latifundiários, e suas famílias, gozavam, sobre seus subordinados, de direitos quase feudais, embora limitados por leis democráticas, que permaneciam, na sua maioria, letra morta. Entretanto, deste estado de coisas, que parecia ancorado em velhas tradições e preconceitos de casta, os próprios ingleses conseguiram sair, não através de bruscos arrancos de um movimento revolucionário, mas graças a um lento e eficaz trabalho de reformas.
Nos primórdios da revolução industrial, o capitalismo inglês valeu-se de mulheres e crianças, como operários, em detrimento dos homens, que exigiam salários mais altos. Passaram-se vários decênios antes que o desumano costume fosse abandonado. Contudo, a revolução industrial, que a princípio proporcionou um abaixamento das condições de vida do povo, aumentando os desempregados, povoando sempre mais as cidades e lançando milhões de desgraçados á mercê de capitalistas sem escrúpulos, devia, a seguir, aumentar de tal maneira o bem-estar da nação que tornaria possível a execução daquelas reformas sociais em que a Inglaterra precedeu de meio século o resto do mundo.
O pugilismo, como esporte, renasceu, na Inglaterra, entre os séculos XVII e XIX. Enormes multidões assistiam aos encontros, que apaixonavam gente de todas as camadas sociais e que, geralmente, punham em risco a vida dos pugilistas.
O melhoramento das estradas, realizado graças aos maciços macadames (derivado do nome inventor) tornou o serviço das diligências inglesas o mais veloz do mundo.
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