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sábado, 24 de outubro de 2020

POVOS DA AMERICA LATINA


         A História ensina-nos que os estados colonialistas, isto é aqueles países que ocupam territórios situados, geralmente, em regiões distantes e habitados por populações atrasadas, a fim de explorá-los economicamente, vêem-se,mais cedo ou mais tarde, expostos ao risco de uma rebelião das próprias colônias contra a mãe-pátria. Ou são os próprios colonos que, depois de algumas gerações, não se sentem mais considerados cidadãos do longínquo  além-mar de onde seus pais emigraram e vêem-se, no governo metropolitano, apenas um inimigo capaz de sugar tributos; ou então, são os indígenas, cujo contato com os civilizados colonizadores lhes conferiu uma cultura e maturidade política, que se revoltam contra os estrangeiros, esquecendo os benefícios recebidos, para se recordarem unicamente dos vexames sofridos. De qualquer maneira, é quase fatal que os territórios coloniais acabem por se separar mais ou menos violentamente do poder  central, declarando-se independentes; e é uma independência sombria e orgulhosa, que não aceita compromissos. O primeiro clamoroso episódio, na história moderna, verificou-se na revolução das colônias inglesas da América Setentrional; a Ele seguem-se, a poucos decênios de distância, a revolta dos povos da América Latina, do México à Terra do Fogo. 
          E era uma revolta bem motivada por razões raciais, econômicas e políticas. Os soldados de Jorge Washington, de fato, pertenciam à mesma raça de seus inimigos,ao passo que os colonos do México ou do Peru eram, em grande parte, mestiços; portanto, seus laços de sangue com a Espanha já estavam bem afrouxados; além disso, a política inglesa para com as colônias, apesar de seus erros, podia-se considerar quase paternal, em confronto com a cega e brutal insipiência dos governadores espanhóis (insipiência e cegueira de que a Itália já recebera provas, tanto em Milão como em Nápoles). Embora a Espanha procurasse manter na mais absoluta ignorância seus súditos de além-mar, assim mesmo o exemplo da revolta norte-americana levantou clamor e ideias de independência tinham começado a serpentear nos ambientes mais bem informados do México, do Peru e da Colômbia; quando, então, a própria Espanha se encontrou às voltas com a prepotência napoleônica, na guerra dinástica, essas ideias tomaram corpo e encontraram francos apoiadores. Da Espanha, perturbada com as guerrilhas, não podiam mais chegar ordens nem reforços às guarnições americanas. Assim, quase contemporaneamente, comitês revolucionários surgiram em Caracas, em Buenos Aires, no México e no Paraguai; os chefes pertenciam à aristocracia intelectual ou rural, como Bolívar, na Venezuela, ou o clero, como os dois párocos, Hidalgo e Morelos, que chefiaram a insurreição do México. Os primeiros motins e as primeiras declarações de independência ocorreram entre 1808 e 1810. Cinco ou seis anos depois, a reação espanhola parecia levar a melhor por toda parte, os cabeças do levante tinham sido obrigados a fugir ou foram mortos e a situação voltava à normalidade. Contribuíram para este primeiro sucesso, a escassa organização dos revolucionários e a confusão reinante, até teoricamente, em seu campo; mas a revolução já recebera promessas ou tangíveis auxílios de outras potências, especialmente da Inglaterra, que enviara uma frota ao estuário do Rio da Prata, e dos Estados Unidos. Tanto uma como outra potência, em honra da verdade, não estavam motivadas por nobres motivos de liberdade e fraternidade para com os povos oprimidos, mas enxergavam, nos futuros países americanos, não mais sujeitos aos zelosos e absurdo monopólios espanhóis, um campo imenso para seus comércios. 
              Governar à distância dá muita dor de cabeça. Especialmente quando a colônia fica em outro continente e a comunicação mais rápida com a metrópole é a caravela. Pensando nisso é que a Coroa Espanhola decidiu dividir suas possessões na América em vice-reinos, entregando a administração a nobres da Espanha, gente de confiança do rei. 
Na América do Sul do século XVIII havia três desses vice-reinados: Nova Granada, Peru e Prata. Subordinadas respectivamente a Novo Granada e Peru, havia duas subdivisões territoriais: as capitanias gerias da Venezuela e do Chile. Era assim que o rei da Espanha controlava suas terras sul-americanas. Seu poder era exercido não só por intermédio dos vice-reis e dos funcionários administrativos. Também os membros da Igreja eram agentes da autoridade Real, ajudando a manter a população submissa à Coroa e convertendo os índios ao cristianismo. 
             Nesse tempo já se sabia que as terras americanas eram ricas em minérios e a Coroa Espanhola procurava tirar daí o maior proveito. Reservava para si o monopólio da extração de ouro e prata e concedia a particulares o direito de explorar os outros minerais. Mas para dar essas concessões cobrava pesado tributo: um quinto da produção pertencia à Coroa. 
          Os verdadeiros donos da economia local eram realmente os filhos de europeus, chamados de crioulos por terem nascidos na colônia. Eram donos de grandes fazendas - as estâncias - e tinham a seu serviço grande número de indígenas e negros africanos. Os crioulos, apesar de constituírem a elite intelectual,não tinham acesso aos cargos administrativos. Para esses postos havia espanhóis vindos diretamente da metrópole. 
           Assim, a aristocracia crioula era obrigada a submeter-se às ordens dos administradores, que eram fiéis aos interesses da Coroa. Acontece que, com o tempo, esses interesses foram ficando cada vez mais contrários aos dos crioulos, que se iam sentindo economicamente esmagados pela metrópole. Por isso, eles seriam os grandes responsáveis pela eclosão dos movimentos de independência na América do Sul espanhola, onde usariam como massa de manobra a grande legião de índios, negros e mestiços. 
           O século XVIII já assiste a diversas revoltas contra a Espanha, todas dominadas. Mas o espírito de rebeldia se intensifica.Por toda parte há insatisfação contra a metrópole. Nas minas e nas fazendas, a palavra de ordem é "independência". E os numerosos contatos comerciais, que apesar da proibição eram mantidos, permitiam que as ideias de libertação tomassem corpo entre a elite intelectual. Através desses contatos, chegavam as notícias da Revolução Francesa de libertação, como também da independência dos Estados Unidos  da América do Norte. Era um incentivo maior para o levante na colônia espanhola.
          Em 1796, forma-se uma aliança entre a França e a Espanha, que terá importantes reflexos na América do Sul. A Inglaterra, em guerra com a França, está agora também em guerra com a Espanha. Sua poderosa esquadra domina o mar e apropria-se do comércio, rompendo as comunicações marítimas entre a Espanha e as colônias. 
           E é assim que os ingleses apoiam os insurretos americanos. Em 2806, colaboram em duas tentativas de levante na Venezuela. Os movimentos não tem êxito, mas revelam um líder nacional: Francisco Miranda. Ao mesmo tempo, os ingleses estão também no Sul, provocando a revolta contra os espanhóis em Buenos Aires. Ainda aqui vão mal e são rechaçados pela própria população.
             Enquanto isso, as coisas estão mudando na Europa. Em 1808, os franceses invadem a Espanha, o rei Carlos IV e seu filho Fernando VII abdicam e cedem o poder a napoleão, que coloca no trono seu irmão José. O povo espanhol não ceita o jugo e uma junta insurrecional constitui-se em Sevilha, e representará por seis anos a Espanha livre. 
             Napoleão quer conquistar popularidade na América, mas os emissários que envia para obter aliança com os espanhóis de além-mar não conseguem êxito. Uma após outra as possessões espanholas americanas vão-se colocando ao lado da junta de Sevilha. Inteligentemente, os crioulos associam-se aos espanhóis da colônia, dando força ao movimento antifrancês; e aproveitam para dar ao levante um caráter separatista. 
              Impotente para dominar a América espanhola, Napoleão muda de tática. Passa a incentivar a independência da colônia, para criar problemas à Espanha. Para isso recorre a agentes instigadores. Um destes, Desmolard, ficou conhecido por ter provocado um movimento que irrompeu em abril de 1810, em Caracas. E em março do ano seguinte, um Congresso reúne os cabildos venezuelanos e depõe o Governo. É proclamada a independência. Em dezembro, Quito segue o exemplo de Caracas. 
             Buenos Aires, que em 1809 aceitara o vice-rei designado pela junta de Sevilha, derruba-o no ano seguinte e elege uma junta que agrupa os principais elementos crioulos. 
             Eles agora estão mal e tentarão recuperar o terreno perdido. Na Europa estão melhor, pois a Junta de Sevilha começa a expulsar os franceses da Espanha, com a ajuda da Inglaterra.
               Se a Espanha vai-se fortalecendo, no mesmo ritmo  as colônias que proclamaram sua independência vão-se debilitando. Falta ajuda externa, o isolamento geográfico impede a coesão e, o que é pior, os revolucionários já manifestam entre si sérias divergências. 
               Assim, pouco depois da independência, a Venezuela é sacudida por uma guerra civil. Miranda, que fora nomeado ditador do país, é deposto e substituído por Monteverde, comandante do exército real. O movimento de libertação está abalado, mas continuará, liderado agora por um extraordinário líder. Nasceu em Caracas e seu nome é Simon Bolívar (1783 - 1830). 
             De volta de Inglaterra, aonde fora pedir apoio, Bolívar organiza um pequeno exército e consegue libertar a cidade de Cartagena (em Nova Granada), em fevereiro de 1813. Mas não para: já em maio parte para a conquista da Venezuela. Entra em Caracas em agosto e derrota Monteverde. Em janeiro de 1814, ganha o título de "Libertador", outorgado pela municipalidade de Caracas. 
            Mas a segunda república venezuelana terá a mesma sorte que a primeira. As tropas reais reconquistam terreno, Bolívar não consegue manter-se em 1815 embarca para a Jamaica. 
          O ano de 1815 é mau para os rebeldes. A monarquia foi restaurada na Espanha, e a metrópole agora quer conter os insurretos da colônia. E manda considerável reforço para as tropas reais; 56 naus trazem mais 10 mil homens, comandados pelo General Morillo. Com isso, a Espanha triunfa em Nova Granada, bate a junta que se formara em Santiago do Chile, reconquista a Venezuela. No sul, a sorete dos rebeldes é pouca coisa melhor. Apesar do assédio espanhol a Buenos Aires, eles conseguem manter-se, mas não tem condições de alargar suas bases. Uruguai, Paraguai e a região de Charcas, na Bolívia, estão em mãos dos realistas.  O ano de 1815 termina com a Espanha praticamente dona da situação. Vencedores, os realistas impõem um regime de terror. Os principais rebeldes são executados sumariamente em massa.
            Mas não demora para o panorama mudar outra vez. Bolívar está na Jamaica, mas não descansa. Com ajuda britânica, ele compõe um pequeno exército e desembarca na costa venezuelana em janeiro de 1817. Auxiliado por camponeses e engrossando a tropa com mercenários ingleses e irlandeses ele segue de vitória em vitória. Depois de dominar a maior parte do vale do rio Orinoco, Bolívar lança-se com 2.500 homens a uma audaciosa empresa: atravessa os Andes, penetra na Colômbia pela vale do madalena e esmaga o inimigo. Em agosto, domina Bogotá, com o que possibilita a formação dos Estados Unidos da Colômbia, recebendo os poderes de presidente e ditador militar. 
            Bolívar anima-se, o inimigo enfraquece-se. O Libertador arremete agora sobre a Venezuela, conquista Caracas e a 30 de agosto de 1821 nasce a terceira república nesse país. Bolívar é o presidente. 
            A reação espanhola, ante os movimentos de independência que se manifestaram cerca de 1820, em todos os domínios americanos, foi áspera e despida de Discernimento. Os espanhóis fuzilaram sem misericórdia os rebeldes, mas com isso conseguiram apenas acelerar o processo separatista.  E, a 24 de maio de 1822, Antônio José Sucre, seu lugar-tenente, conquista Quito que, juntamente com a Colômbia e a Venezuela, formará a Grande Colômbia, sob a presidência do Libertador. 
            Agostinho Iturbide, comandante das guarnições espanholas do México, passou para o lado dos insurretos, provavelmente apenas porque vira na rebelião uma oportunidade para uma rápida e extraordinária carreira. De fato, ele se fez eleger imperador, mas descontentou logo seus turbulentos partidários e, poucos anos depois, acabou diante do pelotão de fuzilamento. 
          Simão Bolívar comandou uma expedição bélica, nas florestas da Venezuela. Ele foi a figura de maior relevo da insurreição da América Espanhola; aos dotes militares, aliava, realmente, lealdade e fina acuidade política. 
           A revolta, aparentemente estava debelada, mas reacendeu-se por toda a parte, com maior furos, cerca de 1820. No México, onde, como vimos, o próprio chefe das tropas espanholas, o General Agostinho Iturbide, assumiu as rédeas da insurreição e chegou a proclamar-se imperador em 1822; um império, todavia, que teve alternadas vicissitudes e que durou menos de um ano e terminou co mo fuzilamento do soberano, por obra dos seus próprios sequazes e com a sucessiva proclamação da república federal mexicana. Contemporaneamente, insurgiram-se os países da América Central, que proclamavam sua independência da Espanha e a constituição de uma Federação, destinada, no entanto,a dissolver-se, bem cedo, por causa de rivalidades internas. Na Colômbia, a luta era retomada com a volta de Simão Bolívar, a figura de maior relevo em toda a história da América Espanhola. Homem culto, tão liberal e "moderno" que emancipou todos os escravos de sua fazenda, Bolívar deu provas de excepcional capacidade militar, conseguindo bater os espanhóis em numerosos encontros e batalhas campais, tanto que mereceu a alcunha de "Libertador da América Espanhola". Sua sagacidade política e seu enorme prestígio lhe permitiram, terminada a campanha, reunir em um só estado as turbulentas populações da Colômbia (destinadas, após sua morte, a cindirem em três países: Venezuela, Colômbia e Equador) e estender seu protetorado ao Peru. Contemporaneamente, o Chile e Argentina tinham, também, assumido sua definitiva soberania, sem o auxílio inglês. Em pouco menos de dez anos, a Espanha perdera irremediavelmente seu império e encontrava-se relegada a um plano secundário.
         
          Notável foi o auxílio prestado pelos Norte-Americanos e pelos Ingleses ao movimento libertador dos povos da América Espanhola. A vitoriosa insurreição da Argentina, do Uruguai e do Chile foi validamente apoiada por frotas de guerra inglesas.    
                No Sul, as coisas melhoraram para os rebeldes em 1816, quando no Prata, monarquistas e republicanos, depois de uma briga, acabaram unindo-se, contra os espanhóis. A 9 de julho daquele ano, um congresso proclamava a Declaração de Independência das províncias Unidas da America do Sul. Mas nem o Paraguai nem a Banda Oriental (Uruguai) estariam presentes no congresso.  E a região de Charcas continuava dominada pelos espanhóis.  Os rebeldes do Sul precisam de um líder, e ele surge: é o oficial argentino José de San Martin (1778 - 1850). 
              San Martin, em 1815, sai da cidade de  Mendoza comandando poderoso exército e, a exemplo de Bolívar, lança-se através dos Andes, numa ação que, como a do Libertador, ficará famosa pela audácia. Ultrapassando um desfiladeiro a 4.200 m de altitude, suas tropas entram no território chileno e unem-se às do líder local Bernardo O'Higgins (1778 - 1842). Vencem os realistas em Chacabuco e O'Higgins é nomeado ditador supremo do Chile. 
              Mas a luta não termina aí. Passam-se dois anos de combates, antes da vitória de Maipú, que é decisiva. Em 1818, o Chile é declarado Estado Livre e soberano. 
               Contudo, falta ainda conquistar o Peru. Aí, os espanhóis, entrincheirados a 3 e 4 mil metros de altitude, constituem séria ameaça à precária dos ex-vice-reinados de Nova Granada e do Prata. 
           Com auxílio da esquadra inglesa de Lorde Cochrane, San Martin desembarca suas tropas nas costas peruanas no início de 1821. Os espanhóis são batidos em Lima e a independência é proclamada, mas será duro mantê-la.  Nas montanhas, a resistência espanhola vai-se reorganizando. Enquanto isso acontece, Bolívar progride em direção ao Sul. 
             Em junho de 1822, os dois grandes chefes - Bolívar e San Marttin - encontram-se finalmente em Guaiaquil. Lutam pela mesma causa, mas não conseguem um entendimento. San Martin retira-se da luta e vai terminar sua vida na Europa, onde morrera em 1850. A Bolívar  competirá a tarefa de continuar a luta pela independência. 
           Os espanhóis reorganizam-ser como podem, nas montanhas, e conseguem retomar a capital peruana, assim como outro importante baluarte, o porto que está ligado à cidade (Callao). 
          Mas essa alternativa de vitória é, na verdade, o último alento das forças realistas. Tanto assim que já em 9 de dezembro de 1824, Sucre, bravo lugar-tenente de Simão Bolívar, esmaga definitivamente a resistência espanhola em Lima. E a 18 de janeiro de 1826, a guarnição de Callao, que já resistia havia dois anos, decide render-se. 
            Depois de um século de lutas, a América do Sul colonizada pela Espanha estava livre. 
            A libertação das colônias espanholas e da portuguesa (Brasil) foi toda realizada durante a primeira metade do século XIX. Ao fim das lutas que trouxeram a independência às possessões da Espanha, o mapa da América do Sul apresenta-se bem mais subdividido, já com um aspecto semelhante ao que tem hoje.

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quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A CIVILIZAÇÃO GREGA - SUAS CRENÇAS E HISTÓRIA.

 



       No período denominado "pré-histórico, a Grécia era habitada por indivíduos autóctones (nascidos no país) e por tribos baixadas, presumivelmente, do Oriente. Estas populações, que os estudiosos chamam Eteócretos pré-gregos, tinham seu centro mais importante em Creta, de onde dominavam todo o Egeu. Essa remota civilização, chegou até nós através de documentos arqueológicos, é chamada "cretense ou egeia". 
           No início do II milênio a.C., começaram a descer do Norte populações arianas, que invadiram aos poucos o Hélade, estabelecendo ali os primeiros troncos indo-europeus. Estes novos habitantes, denominados "Proto-gregos", deram origem à civilização minóica ou micênia, de que Micenas foi o centro mais importante. Pelos fins do II milênio, começaram as migrações internas. Aos Acaios, baixados dos montes balcânicos, para ocupar o Peloponeso, substituíram-se os Dórios me os Jônios. Os vencidos, em fuga, emigraram aos poucos para as ilhas e para as costas orientais da Ásia Menor, dando origem àquela colonização que tanta importância assumiu para a expansão helênica. 
         Quais tinham sido os elementos trazidos para religião dos Pré-gregos e quais pelos Proto-gregos ainda não está positivado. As divindades gregas, de fato, revelam nitidamente, influências de concepções religiosas a elas pre-existentes. Zeus, por exemplo, já é conhecido, ainda criança, no ambiente cretense; quanto a Hera, sua consorte, nada nos impede que consideremos como outro aspecto de poderosa senhora, soberana absoluta, na primitiva religião mediterrânea. 
     Zeus é o deus supremo dos Gregos, aquele que está acima de todas as coisas. Na Grécia antiga, os poetas chamavam-no "pai dos deuses e dos homens". Dele dependem o bem e o mal individual; quando se enfurece, troveja do alto do Olimpo, do píncaro em que reside, arremessa seus raios e extermina quem pecou. Mas Zeus é sobretudo, um deus benéfico, que proporciona as chuvas, favorece o suceder-se das estações, o alternar do dia e da noite. Sucessivamente, o simbolismo natural (característico da estirpe ariana, de que os Gregos eram um ramo), a imaginação férvida que distinguira os Helenos de todos os demais povos do mundo, e a convicção nascida no período "heroico", de que nos tempos mais remotos sua pátria era constituída por personagens dotados de virtudes sobrenaturais, levaram os gregos não só a "deificar"os fenômenos da natureza, mas também as qualidades físicas e morais do homem e a imaginar os deuses em forma humana. Disso derivou uma religião "antropomórfica", com um vasto Olimpo agitado perlas mesmas paixões que alegram e atormentam a Humanidade. 
         Entre o oitavo e o sétimo século, a literatura grega enriqueceu-se de uma obra que foi uma primeira tentativa de ordenação teológica do mundo, a "Teogonia", poema por alguns atribuído a Hesíodo, e por outros, a Homero. 
            Narra, então, a teogonia que a princípio havia o "Caos", e  a ele se seguiu Gea, a Terra, vindo depois Eros, o amor, autor e propagador da vida. Do Caos nasceram o Dia e a Noite; de Gê, Urano, o Céu. da informe matéria, teve origem na religiosidade helênica, o Universo, mito de ordem, entendido como separação de contrastes, Dia-Noite, Sobra-Luz, Caos-Harmonia. O nascimento dos deuses, através de sucessivas gerações, é também um contínuo caminho rumo `-a ordem da hierarquia divina. Da união de Urano e Gê, nasce Oceano (o grande rio, que circunda a Terra), os Titãs, os Ciclopes, e os Gigantes. Mas Urano teme a monstruosa prole e a encerra nas profundezas do Tártaro subterrâneo. Instigado pela mãe Gea, Cropnos, o último dos Titãs, castiga Urano e toma-lhe o lugar. Da união de Cronos com Réia Cibele, nascem esplêndidos filhos: Deméter, Hera, Hades, Poseidon. Mas, como seu pai, também Cronos desconfia dos filhos e por isso os engole um por um, assim que nascem. Quando nasce Zeus, a mãe resolve escondê-lo, para subtraí-lo à crueldade do pai, ao qual faz engolir, em substituição, uma pedra envolta em faixas. 
             Zeus transcorre sua infância na ilha de Creta. Tornado adulto, decide punir a crueldade paterna. Cronos é derrotado,Zeus situa-se em seu lugar e torna-se o déspota absoluto do Olimpo helênico. Junto a ele está, como vimos, Hera, a consorte fiel e mãe de Héfaistos, Ares e Hebe. 
            Hera preside às justas bodas, e é a senhora das mulheres casadas; o seu animal sagrado é o pavão. Seguem-se Afrodite, deusa da beleza e do amor, nascida da espuma do mar; Atena, nascida diretamente do cérebro de Zeus, é a virgem dos olhos cintilantes, que preside à guerra e protege a paz; personifica a eterna sabedoria e a prudência; Apolo simboliza o sol resplandecente (Febo) que, com seus raios, pode causar doenças e epidemias, mas também curar. Porque nada foge ao seu olhar, ele é o deus dos oráculos; Ártemis ( de origem minoica) é a deusa das selvas e dos bosques. Irmã de Febo, personifica a lua.
            Também para os gregos antigos os primitivos locais do culto eram situados ao ar livre; nas matas, perto das fontes, no cume dos montes ou nas praias! A seguir, foram escolhidos locais apropriados, até que se chegou à construção dos templos. 
            Os sacerdotes não constituíam castas e não tinham poder doutrinal a impor ao povo. Eram os custodes das sagradas tradições, ministros das cerimônias, que conheciam o ritual e os celebravam de maneira apropriada, para serem sempre bem recebidos pelas divindades. As mulheres eram excluídas do sacerdócio e, geralmente, consagradas ao serviço das divindades femininas.
           O culto doméstico baseava-se no lar (considerado como nume supremo da casa), no qual o fogo ardia sempre. 
           Os deuses eram objeto de públicas festas religiosas, de que todo o povo participava. Celebérrimas foram as "Grandes Pan-Ateneias" de que temos documentação nas "decorações do Pártenon", na Acrópole de Atenas. 
           Também os gregos se preocupavam com o problema da sobrevivência. Da fé numa segunda vida, cultivada desde os tempos mais remotos, temos testemunhos arqueológicos: restos de holocaustos em sufrágio dos defuntos e móveis e utensílios, necessários na vida ultra-terrena, foram descobertos em alguns túmulos da época micênia. 
           Segundo a crença homérica, a essência do homem derivava de um sopro vital, que, no instante da morte, o abandonava. Na religião grega, muita importância se atribuía aos "mistérios", cultos secretos, aos quais eram admitidos apenas os iniciados. Durante essas cerimônias, explicavam-se os significados alegóricos em relação com a vida de além-túmulo. Celebravam-se, por vezes, também, os antigos ritos agrários. Era severamente vedado ao neófito revelar aquilo que vira e ouvira durante a celebração dos "mistérios".
             Na Grécia, dava-se grande importância à resposta do oráculo, que se obtinha em dias designados, principalmente, por uma sacerdotisa, a pitia; esta sentada sobre uma tripode, entrava em um estado de exorcização, provocado pelos vapores que saiam de uma fresta do pavimento. 
            Os gregos antigos não tinham noção do pecado e não cultivavam virtudes. Admitia-se que os próprios deuses eram escravos das mesmas paixões humanas. 
             Mas esta fraqueza, irreconciliável com o senso do divino,chamou a atenção dos filósofos. Entre os mais conhecidos adversários do antropoformismo da divindades gregas estava Xenofonte, que negou, em nome de um mais alto ideal divino, a concepção homérica dos fatos descritos muita à imagem do homem. Todavia, enquanto de um lado esta critica serve para nobilitar o  conceito moral, de outro lado se presta para demolir as bases de toda crença religiosa, chegando a uma verdadeira e própria intolerância. Como reação, o governo de Atenas censura e pune os propagadores das novas ideias, e tal perseguição cumina com a condenação de Sócrates, em 399 a.C. 
            Com o aparecimento de Alexandre Magno, no século IV a.C., a Grécia entra em contato com o oriente, fundindo elementos místicos próprios com aqueles trazidos das novas religiões. Cultos gregos passaram, assim, para a Ásia e para o Egito, ao passo que divindades egípcias encontravam adoradores na Grécia. Com esta nova forma religiosa, que se denominou Helenismo, os deuses do Olimpo foram conhecidos por outros povos, mas perderam a antiga autoridade, chegando mesmo a um enfraquecimento do culto. 
            Desde séculos, a Grécia, a terra que deu à humanidade um dos período mais esplêndidos de sua história e os fundamentos de todas as artes, de cada ciência, do próprio pensamento humano, jaz em sil^}encio, esmagada sob o peso do domínio turco. Romanos, Bizantinos, Venezianos, Otomanos sucederam-se neste país, criador das formas democráticas que hoje dominam o mundo, impondo-lhe sua rudez de guerreiros (aludimos aos Turcos, não certamente aos Romanos e Venezianos), aos herdeiros de Tucídides e de Demóstenes. E o povo grego, reduzido em número, contaminado pelas múltiplas invasões, indefeso, como muitos povos de antiga civilização, deixou-se esmagar, reduzir ao silêncio. Mas o domínio turco provoca aquilo que as precedentes invasões não tinham  conseguido: a revolta, gerada pela diversidade de fé e de hábitos, pela ferocidade, pela incivilidade dos dominadores. O povo grego, tal  como vemos na idade moderna, possui, aparentemente, bem pouco dos "Helenos" da idade pré-cristã; dez séculos de silêncio cultura cancelaram qualquer vestígio do antigo vigor. Todavia, o idioma é o mesmo, ou pouco semelhante, e as tradições e as recordações de dias melhores timbram em não se apagarem. No século XVI, quando a maré otomana ameaçava submergir a Europa, surgiram na Grécia associações de montanheses que dificultavam a passagem do invasor, conduzindo uma espécie de pequena guerrilha; eram patriotas, mais provavelmente, cristãos que mal suportavam o jugo muçulmano, e "foras-da-lei", gente que cometeu algum crime e que procurava a impunidade nos bosques; de qualquer maneira, com o decorrer do tempo, estes bandos de "cleftas", isto é, de bandoleiros, assumiram um sabor político, de rebelião contra o invasor turco e sua autoridade. A primeira e real revolta,todavia, eclodiu em 1770, enquanto o império otomano estava empenhado em uma guerra contra a Rússia; a aproximação da frota russa no Egeu provocou o levante das populações da Moreia e da Tessália. Os Russo aceitaram esta revolta com um útil diversivo, mas não a apoiaram de maneira alguma, de modo que a reação turca, desencadeada logo depois, com largo emprego de recursos e de ferocidade, teve jogo fácil. Entretanto, agora a chamada liberdade estava acesa, fomentada também pela Revolução Francesa e pelas incursões dos exércitos napoleônicos, que agitavam por toda a Europa o lábaro da liberdade. Os Gregos que viviam no exterior, especialmente no Oriente, possuíam cultura e riquezas, os bens que faltavam aos seus conterrâneos que viviam na pátria. Eles se incumbiram, portanto, de auxiliar os movimentos de revolta que haviam sobrevivido à insurreição e à repressão turca, subvencionando e interessando a seu favor a opinião pública e os governos do mundo ocidental. Surgiram assim, na Grécia e fora dela,  associações secretas de cunho liberal, as "Aterias", que procuravam prosélitos e preparavam-se para deflagrar  a "revolução de independência grega".  A ocasião ofereceu-se, em 1820, quando da guerra promovida pelo Sultão contra Alí, paxá da Jordânia, considerado rebelde pela Sublime Porta (a Sublime Porta era o governo otomano). Este incitou a população grega à luta contra os Otomanos e obteve imediata aprovação e apoio; as revoltas da Espanha e da Itália tinham, realmente, despertado o ardor bélico e independentista dos Gregos. Chefe supremo da revolta era Alexandre Ypsilanti, que, com seu irmão Jorge, baixava da Romênia à frente da "Sagrada Falange", o irmão, Demétrio (ambos eram oficiais do exército russo), dirigia a rebelião na Moreia; Marcos Botzaris percorria a Acarnânia e os pequenos chefes locais levantavam as populações centrais. A Turquia, ainda de posse de meios infinitamente superiores àqueles dos insurretos, reagia em todas as frentes e derrotava Alexandre Ypsilanti, que era feito prisioneiro, mas os voluntários gregos não se entregavam, e até, reunindo-se em Epidauro, na Argólida, proclamavam a independência de seu país do jugo turco e elevavam a à presidência do novo governo Alexandre Maurocordato. Em combate noturno, na periferia de Missolonghi, tombava mortalmente o herói grego Botzaris, animador da revolta e denodado defensor da  pátria. Mas, agora, já a causa da independência grega vencedora, graças ao apoio dos países da Europa. 

             Na verdade, o movimento patriótico grego começou muito antes que a revolta política organizada em forma de banditismo favorecido pela população e conduzido a dano do invasor muçulmano. 
         Os sacerdotes da Igreja grega, logicamente ao lado dos oprimidos e, portanto, dos insurretos - aos quais estavam ligados pela comunhão de pátria e de culto - foram as primeiras vítimas da repressão turca. Aqui, vemos o último ato do processo contra o patriarca grego, ou seja, sua execução. 
           De toda parte da Europa, entretanto, os espíritos melhores se proclamavam solidários com os rebeldes; reminiscências clássicas e novas ideias liberais fundiam-se para arrebanhar para a causa grega os ânimos de todos os homens dignos de serem considerados civis. Comitês filo-helênicos (amigos dos Gregos) surgiram por todas os recantos e procuravam sacudir a indiferença dos governos, socorrendo ao mesmo tempo, com armas e dinheiro, os insurretos; de todos os rincões da Europa partiam voluntários decididos a imolar sua vida no altar da independência grega. Entre todos, não podemos deixar de lembrar Lorde Byron, uma das figuras mais representativas da Época, que foi morrer entre as muralhas de Missolonghi, e o Conde Santorre de Santarosa, animador do movimento piemontês de 1821, valoroso apóstolo da liberdade.
                O jovem poeta Lorde Byron chegou de barco às costas gregas, onde encerraria sua bela carreira de vida venturosa na poesia. Byron foi levado a participar da revolta grega pelos seus princípios estéticos e políticos. Seu exemplo valeu muito para a causados Insurretos. 
        

            Entretanto, os Gregos não teriam certamente conseguido o intento - demasiada era a disparidade entre as forças rebeldes e aquelas dos opressores - se não houvessem intervindo potências estranhas para dar uma reviravolta na luta. A sorte quis que, naquele momento, a causa grega coincidisse com os interesses de algumas nações européias. E foi graças à Rússia, à Inglaterra e à França que a Turquia foi derrotada e,em 1830, após alternadas vicissitudes, a Grécia viu reconhecida sua independência pela Turquia e por toda a Europa. 

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sábado, 17 de outubro de 2020

NAPOLEÃO BONAPARTE - A TENTATIVA DE DOMINAR O MUNDO

 

                     A glória e o poder parece ter tomado conta do cérebro deste grande militar. O homem cujo nome começava a ser conhecido, naquele outono de 1795, que assinalou o fim do período revolucionário, era um jovem magro, de pequena estatura,rosto pálido e sério; tinha apenas 26 anos de idade e já era general de artilharia, depois de uma daquelas fulmíneas carreiras que caracterizam as épocas de desordem política. Para sorte sua, ele nunca fora demasiado exposto, nos dias mais turvos da Revolução; distinguira-se durante o assédio de Toulon, mas somente em seu uniforme de artilheiro, não de homem de partido. Homem "novo"(à sua família, corsa de origem toscana, tinha sido reconhecido o título de nobreza em 1757, ficou sendo, em um momento em que o povo estava farto de desordens e matanças, uma das pessoas que, mesmo não estando ligada aos Barbões, não queimara seus cartuchos seguindo os maiores expoentes da Revolução; estava ligada, por gratidão, a alguns maiorais do novo Diretório e, por isso, podia pensar que seria um instrumento fiel e seguro nas mãos do governo. Além disso, demonstrara conhecer bem seu mister, coisa algo raríssima naquela época de improvisações e reviravoltas. Não há de que se espantar, pois, se justamente a ele, Napoleão Bonaparte, um jovem despido de recursos e compromissos, foi concedido, como, que em recompensa de sua rápida ação em defesa da Conversão, o comando do exército, na Itália. Naquele período, a França encontrava-se apertada pelo torniquete dos exércitos legitimistas que, após alguns sucessos iniciais, foram obrigados a deter-se e permanecer ao longo das fronteiras naturais, os Alpes e o Reno. Nos Alpes, um corpo de tropas francesas, mal armadas e com poucos víveres, estava sendo ameaçado pelos austro-piemonteses; as operações dirigidas por Massena, em 1794, tinham até levado as tropas republicanas a ocupar algumas fortalezas da Ligúria. 
          Em março de 1796, quando o jovem corso foi assumir o comando de seu exército, as condições dos franceses eram precárias; a posse do novo general mudou de chofre a situação, transformando uma lenta e ineficaz guerra de posições em uma rápida ofensiva. Ele lançou suas tropas contra os Piemonteses, assistidos por ium corpo austríaco, e derrotando-os em Cairo Montenotte, em Milésimo, em Dego, em Ceva e em Mondovi; em menos de um mês, o Piemonte foi obrigado a pedir armistício e retirar-se da luta.  Com uma rápida manobra, Napoleão avançou sobre o grosso das tropas austríacas; em 14 de maio, Milão foi tomada, e os imperiais foram obrigados a encerrar-se em Mântua e no Alto Ádige.
  

      O primeiro sucesso, tão rápido e inesperado, proporcionara a napoleão não só o favor, mas também o entusiasmo das populações italianas. As ideias da Revolução, da qual o tricolor da França parecia ser o lábaro, levavam a um povo, estagnado já por mais de três séculos de uma incurável inércia política, um sopro de novidade  e uma esperança de liberdade e independência. Ao jovem general, tudo parecia sair felizmente, suas manobras eram rápidas e resolutas, ao passo que as dos adversários encalhavam em mil obstáculos; um apos outro, os exércitos austríacos se dissolviam sob os golpes do pequeno exército francês. 
           Os primeiros encontros com os austro-piemonteses revelaram desde logo o gênio brilhante de Napoleão Bonaparte. A batalha de Rivoli é considerada pelos historiadores como um modelo de estratégia.
        Toda a Itália, inclusive o Estado Pontifício, estava praticamente nas mãos do jovem conquistador; pelo tratado  de Campofórmio (outro de 1797), a França apodera-se quase inteiramente da península italiana e cedia a Sereníssima república de Veneza aos Austríacos. O entusiasmo com que os franceses tinham seguido as proezas do seu general é facilmente compreensível.  Além do incalculável aumento de prestígio, Napoleão assegura ao seu país imensas riquezas, seja em dinheiro, seja em obras de arte, conquistadas por toda parte onde suas tropas passavam. 
            Se o povo leva em triunfo o jovem "deus da guerra", o Diretório temia-o; de dócil instrumento, aquele obscuro artilheiro corso revela-se, em pouco tempo, senhor de uma fibra excepcional de dominador, capaz de, um dia ou outro, querer desembaraçar-se dos companheiros e consegui-lo. Foi o receio  de sua perigosa vizinhança e ao mesmo tempo o projeto de abrir à França os caminhos, ricos de promessas e de tesouros, do Mediterrâneo oriental, quem sugeriu uma aventura além-mar. Meios adequados, digamos, pouco existiam, porque o mar estava dominado pela Inglaterra, contra a qual era principalmente dirigido o golpe. Apesar disso, a esquadra francesa, zarpando secretamente de Touton, em 17 de maio de 1798, alcançou o Egito, após haver conquistado Malta aos seus Cavaleiros; a fortuna, fiel amiga de Napoleão, conservou distante a frota de Nelson. No Egito, os regimentos franceses percorreram o vale do Nilo qual uma rápida rajada de fogo; tomada Alexandria, a cavalaria de Murad-Bei foi desbaratada na batalha das Pirâmides. Mas no dia 1º de agosto, um mês após o desembarque, poucos dias depois do encontro vitorioso, veio a ducha fria que todos poderiam esperar; Nelson surpreendera a frota francesa ema Abuquir e destruíra-a; a expedição do Egito estava desligada da madre pátria. Talvez o único resultado da expedição francesa ao Egito foi a descoberta da "pedra de Roseta", uma lápide trilíngue, da época dos Ptolomeus que, alguns anos depois, permitiu a Champolion decifrar a escrita egípcia. 

          A derrota de Abuquir, separando o exército do Egito da França, tornara problemático o êxito de Napoleão, que desejava abrir à república um amplo campo colonial e comercial no Mediterrâneo oriental. Parece que, efetivamente, depois do rude golpe vibrado por Nelson à sua frota, o general francês houvesse concebido um plano tão gigantesco quanto absurdo: abrir caminho, através da Síria e da Anatólia, até Constantinopla e, daqui, avançar ao longo da península balcânica até o vale do Danúbio. Se a ofensiva na Síria constituía realmente a atuação da primeira parte desse projeto, a realidade incumbiu-se de reduzir a mais suaves propósitos o jovem conquistador; diante de São João d'Acre, defendido por um corpo turco comandado pelo inglês Sidney Smith, o exército invasor estacou, vencido pela resistência do adversário, pelo escasso abastecimento e pela peste, que começava a grassar entre suas tropas. Nesse ínterim, chegavam da França notícias sempre maias alarmantes (os próprios ingleses se encarregavam de fazer chegar a napoleão os jornais franceses); a Itália estava perdida, o Diretório imponente, a ameaça nas fronteiras se agravava. Napoleão, ao ver o golpe perdido no Oriente, não hesitou em abandonar seus exército e embarcar para a França, onde sua chegada seria recebida como uma libertação. E assim foi, realmente. Atravessando de novo, com felicidade, o Mediterrâneo, iludindo a perseguição de Nelson (um desses lances de sorte que tanto o protegeram), o general desembarcou na França entre o entusiasmo da população e, poucos dias depois de sua chegada a Paris, depôs o Diretório, instaurando uma nova Constituição. O golpe de estado não exigiu muita concentração de forças; após a longa anarquia, o frágil governo diretorial caiu e o povo se submeteu, sem reagir, a um governo ditatorial. Apesar das aparências, a ditadura instituiu-se pois que, no triunvirato dos três cônsules, o que predominava era a vontade de Bonaparte. Na verdade, Napoleão, auto-elegendo-se, pouco depois,Primeiro Cônsul, lançou rapidamente as bases para a reorganização do Estado, escolhendo seus colaboradores com aquela acuidade que foi talvez sua mais brilhante característica, reorganizou o exército e preparou novas levas para a campanha que iria reconquistar, em breve, os territórios perdidos. Poucos meses de calmaria e, na primavera de 1800, o Primeiro Cônsul chegou à Itália à frente de seu "Exército de Reserva", pronto para vingar as derrotas sofridas pelos diretoriais. O choque decisivo, após um vasto e  Inconcludente manobrar nas colinas piemontesas, ocorreu nas margens do Bormida, perto de Morengo. Narra-se que o exército desfilou junto ao forte de Bard, que domina o Vale de Aosta, à noite, no mais completo silêncio, com as rodas dos canhões envoltas em trapos. Outra lenda, menos benévola, insinua, a invés, que Napoleão havia corrompido o comandante do forte. Contudo, Napoleão, que não o esperava, e foi colhido desprevenido pelos Austríacos do general Medas e sobrepujando, mas, para sua sorte, quando a retirada francesa estava assumindo o aspecto de uma fuga, surgiu a divisão Desaix, que inverteu as sortes da batalha. A notícia da vitória, expedida por Melas, às quatro horas da tarde, chegou a Viena quase simultaneamente com aquela da derrota. A campanha da Itália encerrou-se com a paz de Lunéville, ocorrida em 1801, por meio da qual a França ficou com a Itália toda nas mãos, dos Alpes ao Míncio; no ano seguinte(1802), a República Cisalpina foi transformada em República Italiana.
            Os cinco anos que se seguiram foram, talvez, os mais prósperos para o jovem ditador, ricos de obras verdadeiramente geniais e duradouras. A paz de Amiens, em 1802, sancionara uma trégua com a Inglaterra, que até então tinha sido a principal adversária do novo regime,mas, em 1804, as águas novamente se turvaram e Napoleão sentiu crescer contra si a hostilidade dos Europeus, fomentada pelos Ingleses e pelos emigrados franceses. Um destes, um príncipe das conspirações antibonapartistas, foi raptado por ordem de Napoleão e fuzilado em Vincennes. No mesmo período, a segurança de que gozava no interior e o poderio de seus exércitos levaram Napoleão a arriscar a cartada mais difícil de sua extraordinária carreira: fazer eleger-se soberano. A tarefa lhe foi fácil, como era de esperar-se; após um plebiscito da nação, Napoleão colocou em sua cabeça a coroa imperial, em Notre Dame, na presença do Papa Pio VII. 

             O império napoleônico  já era uma realidade; em 20 de maio de 1805, Bonaparte, no Duono de Milão, punha na cabeça, com as suas próprias mãos, a "Coroa Férrea", proclamando-se "Rei da Itália e declarando: "Deus ma deu, ai de  quem a tocar!"
             Os preparativos já se iam organizando contra ele e incitaram-no à luta; um imponente exército e uma frota com nadadores foram reunidos em Boulogne, a fim de preparar a invasão da Inglaterra, invasão que ficaria sendo seu sonho durante anos, mas que não tentaria nunca, temendo o poderio marítimo inglês. Em princípio de 1805, formou-se a coalizão entre a Inglaterra, Áustria e Rússia, e a guerra tornou-se inevitável. Sete corpos do exército francês invadiram a Alemanha, batendo, numa série de combates, os Austríacos do general Mack; em outubro, este redeu-se, sem ter podido juntar-se aos Russos. A notícia da derrota naval de Trafalgar não conteve o ímpeto dos franceses, que avançavam na Morávia e, na planície de Austerlitz, em 1805, travaram a primeira e única batalha campal da guerra, concluída com uma fulgurante vitória francesa. O mar permaneceu no domínio inglês, é verdade, mas a Europa inteira era de Napoleão. 
               Em 21 de outubro de 1805, nas águas do cabo Trafalgar, a marinha britânica esmaga a frota francesa comandada por Villeneuve e conquista, para o século XIX, o domínio dos mares. Sir Horácio Nelson, o heroico almirante inglês, cai mortalmente ferido no tombadilho da "Victory". 
             O bloqueio continental, decretado por Napoleão, tinha a finalidade de privar a Inglaterra dos mercados europeus, mas conseguiu apenas geral descontentamento. As mercadorias inglesas que conseguiam varar o bloqueio eram saqueadas pelos financistas que, depois as queimavam publicamente. 
          O conquistador que tolhe a liberdade dos demais povos, em nome do  ideal político ou social, ou, mais simplesmente, para assegurar ao seu país um bem-estar superior, é obrigado, qual um bandido, a viver perenemente de armas em punho, porque sua primeira derrota significaria o desmoronamento de todo o edifício por ele penosamente construído. De 1806 em diante, assistimos às ansiosas tentativas de Napoleão para consolidar sua posição, sem expô-la ao risco de guerras ruinosas; seu sonho, muito evidentemente expresso, é que a Europa aceite o fato consumado, que os soberanos depostos ou privados de seus territórios se conservem em paz. Isto, naturalmente, não ocorre. As vítimas não se conformam e até procuram alianças, desejando não uma estéril desforra, mas a definitiva ruína do conquistador. 
         Em julho de 1807, após a última calamitosa campanha hibernal, que vira a queda de Prússia, na batalha de Jena (outubro de 1806) e a derrota dos exércitos russos em Eilau e em Friedland, parece que a posição do novo imperio francês seja, em tudo, sólida e inatacável. Em Tilsit, no Niemen, isto é, na fronteira entre Rússia e Polônia, Napoleão e Alexandre I firmam um acordo, que é uma espécie de partilha da Europa entre as duas máximas potências. Mas, Napoleão sabe muito bem que, enquanto a Inglaterra permanecer intacta, enquanto suas frotas de combate cruzarem imperturbáveis por todos os mares, seu poderio no continente existirá apenas em aparência. Ele possui uma única arma para dobrar a economia inglesa, o "bloco continental", que deveria subtrairà Grã-Bretanha seus mercados, e procura empregar esta arma de qualquer modo; entre 1807 e 1811, sua política e suas campanhas são voltadas para assegurar-lhe a aplicação integral. Em 1807, Portugal, que se opunha ao ruidoso projeto napoleônico, acaba desaparecendo do mapa geográfico; no ano seguinte, Napoleão não hesita, a fim de fechar a brecha representada pelos portos do Estado Pontifício, em apoderar-se das terras da Igreja, inclusive de Roma. O Papa, naturalmente, se opôs à ocupação dos territórios da Igreja e, em represália, lançou sua excomunhão contra Bonaparte; este mandou prendê-lo e levá-lo para Fontainebleau. 
           A Espanha, frágil aliada da França, estava atormentada por dissídios dinásticos; convidado para árbitro entre o rei Carlos IV e o príncipe Fernando VII, que lhe disputava o trono, Napoleão, salomonicamente, faz com que ambos abdiquem e entrega a coroa a seu irmão José, no ano de 1808. O povo da Espanha revolta-se e ataca os franceses com as armas que possuem e com todo o seu furor; mas, logo, um corpo inglês, comandado pelo futuro duque de Wellington, desembarca na península, para fornecer auxílio e armas aos insurrectos. E, desde esse ano, ou seja, de 1808 até 1813, a França enterraria homens e dinheiro na Espanha, sem proveito algum, e seus exércitos acabariam desmantelados, um após outro,pelos guerrilheiros, que atacavam de noite, que atiravam de todos os lados e sumiam, que destruíam as colunas de abastecimento, atocaiando-se com os fuzis apontados, atrás de cada janela, de cada moita. Nada enfraquece o moral de um exército mais do que esta guerra contra o nada, mais do que este contínuo viver em alarma, vislumbrando um guerrilheiro em cada camponês e uma tocaia em cada mover de folhas. Os franceses defendiam-se como sucede nestes casos, com repressões ferozes e indiscriminadas e, naturalmente, isto não fazia senão aumentar o ódio contra eles. 
              Apesar de todos os esforços dos generais napoleônicos, que ali perderam quase meio milhão de homens, a guerrilha espanhola jamais foi sufocada.
               Entretanto, também a aparente tranquilidade do resto da Europa vem sendo abalada. O Papa Pio VII, que se opunha à autocracia, é subjugado e conduzido prisioneiro para a França, mas isso retira de Napoleão o apoio dos católicos. Áustria, Prússia e Inglaterra aproveitam-se da situação espanhola para praticar um novo ataque, formando a conhecida "quinta coligação". Napoleão, como é claro, percebe o perigo e ataca fulminantemente, separando os corpos do exército adversário, chegando até Viena e bombardeando-a, e acabando por infligir ao exército austríaco, comandado pelo arquiduque Carlos, a derrota final, Wagram (julho de 1809), em uma batalha tão sanguinolenta como aquela de Eilau. É o supremo esforço do conquistador; a fortuna ainda lhe permanece ao lado, mas já se percebem os primeiros afrouxamentos, o mundo está farto de sangue, a Europa mal o suporta o domínio francês, que obstacula o nascedouro nacionalismo dos estados alemães. Em 1809, Napoleão decide divorciar-se de sua tão amadíssima Josefina, que não lhe dera um herdeiro; sua preocupação é sempre a    quela de conferir uma forma estável ao seu domínio, nascido de uma revolução e de um golpe de Estado; neste caso, ele está também preocupado pela necessidade de criar uma dinastia, porque sabe que é  somente a sua figura, o seu prestígio pessoas, que consegue manter o nível imenso e artificioso império. A proposta de Metternich, que sugere a candidatura de Maria Luísa, da Áustria, o seduz; pensa que, finalmente, sua casa, aparentando-se com aquela ilustre dos Habsburgos, poderá gozar do reconhecimento e do respeito dos demais soberanos. O matrimônio é celebrado em abril de 1810 e, em março de 1811, nasce o herdeiro esperado. Um aeróstato leva aos romanos a notícia de que Deus e o Imperador Francês lhes haviam concedido um rei. Napoleão está no auge de sua glória, mas a paz que, finalmente, sorri à Europa, desaparecerá dentro de poucos meses, entre os tiros de canhão de sua última luta. 
               Chegamos ao ano de 1812; aos pés de Napoleão humilha-se um continente inteiro; os soberanos, autênticos ou por ele criados, aceita-lhe servilmente as ordens, mas, entre os povos, já serpenteiam lampejos de revolta, a Espanha resite, obstinada e heroica, os próprios franceses aspiram somente à paz.Mas, ao invés, aquela paz ilusória, que durara apenas alguns anos, está para ser novamente comprometida. A política do bloco continental estava privando alemães, italianos, poloneses, russos (russos também, porque Alexandre I empenhara-se, em Tilsit, naquela absurda guerra econômica) de toda possibilidade de comércio marítimo. Era natural que a Rússia, única grande potência, para enfrentar a França, se rebelasse em primeiro lugar contra esta servidão, e abrisse, embora oficiosamente, seus portos às mercadorias inglesas. Foi esta talvez a causa que induziu Napoleão à desastrada determinação de declarar guerra ao Tzar; ou foi, quiçá, o desejo de incontestável domínio, a sede de uma imensa aventura. Mais provavelmente, foi a inelutável lei histórica que não permite a um conquistador sentar-se sossegado sobre as presas de guerra acumuladas, porque uma pausa, uma atitude pacífica provocaria a imediata reação ofensiva das vítimas e dos inimigos ainda de pé. 
         O fato é que, em 1812, as tropas do "Grande Exército", mais de meio milhão de homens de todos os recantos da Europa, começaram a afluir, através das pontes do Niemen, extravasando em território russo. Atacado já por aquela extrema segurança que não pode faltar a um homem que realizou talvez a mais brilhante carreira de toda a história, Napoleão acredita que Alexandre trema ao rufarem os tambores e se apresse a pedir-lhe a paz; mas o Tzar evita fazê-lo, levanta o entusiasmo de seu povo, decidido a repelir o invasor, e confia o comando das tropas ao grande general Kutuzov, um velho obeso e zarolho, veterano das guerras contra os Turcos e das campanhas napoleônicas. Depois de uma folga, fatal, de quinze dias, Napoleão avança rumo ao coração da Rússia; seus regimentos conseguem apenas raramente ter contato com o exército russo, que se retira, destruindo atrás de si tudo quanto possa ser útil ao inimigo. Esmolensco, Vjazma e outras cidades ainda são devastadas pelo fogo. Napoleão percebe quer está vibrando golpes no vento e procura sempre obrigar o adversário a voltar-se e travar combate. Em Berodino, no rio Moscova, os Russos finalmente se detém. Kutuzov, contrário ao choque decisivo, a isso é obrigado pela insipiência do Tzar e pela opinião pública. E o choque se verifica, enorme, sangrento; se as primeiras batalhas de napoleão tinham sido brilhantes manobras, as últimas, de Eilau e esta de Borodino, foram imensos e confusos massacres. Ele devia suas ultimas vitórias mais ao seu prestígio e à desunião dos adversários do que a uma efetiva superioridade. A grande batalha, às portas  de Moscou, terminou sem vencedores; os exércitos pararam de atirar quando ficaram exaustos; e, depois disso, retomaram sua marcha para o oriente, para as posições de antes. 
   

          Em 15 de setembro, Napoleão  entrava na capital russa deserta. Os primeiros regimentos de cavalaria marcham pelas ruas de Moscou; janelas trancadas, ruas e praças silenciosas e quase desertas. A maior parte da população já abandonou a cidade. E, logo na mesma noite,  em vários pontos da capital,  começaram a alastrar-se os primeiros incêndios. Durante mais de um mês, os franceses permaneceram em Moscou, sempre mais esquálida, no meio das chamas que ameaçavam de todos os lados. 
          Finalmente, quando o inverno já estava às portas e Napoleão se convencera de que os Russos não tinham intenção alguma de negociar a paz, o formidável exército, em que já estavam visíveis os sinais de esfacelamento, refluiu para o ocidente, pela estrada de Kaluga. Kutuzov, com suas tropas repousadas e aumentadas, perseguiu-o. Privados de indumentária hibernal e de abastecimentos, apavorados pela infinita distância que os separava da pátria, os regimentos franceses transformaram-se em uma interminável multidão de fugitivos, atropelados pela cavalaria cossaca, pelos patriotas, pelos francos atiradores, que disparavam de todos os cantos; menos de cinquenta mil homens, esgotados pela fome e pelo gelo, alcançaram, no janeiro seguinte, a Polônia. 
            Napoleão já em dezembro abandonara suas tropas moribundas em plena nove; de trenó, chegara a Paris, para ali organizar a resistência.  Toda a Europa estava revoltada. Napoleão arma-se como pode, defende-se e ataca furiosamente, mas agora a sorte já o abandonou, e ele se bate em condições de nítida inferioridade numérica e moral. A França, exausta, não lhe pode oferecer senão 250 mil recrutas, sem prática e sem confiança; em Leipzig, após uma breve campanha, a 19 de outubro de 1813, ele está decididamente batido, pela primeira vez em quinze anos. O único a acreditar em sua sorete é ele mesmo; retira-se combatendo encarniçadamente, atira-se ora sobre um, ora sobre outro adversário, conseguindo, aqui e acolá, obter brilhantes êxitos que, no entanto, não resolvem uma parada para ele já perdida. Entre agosto e março de 1814, Prussianos, Austríacos, Russos, Suecos, reduzem a farrapos aquele que tinha sido o mais forte exército da Europa. As defecções, na própria França, são inúmeras. Os aliados, em 31 de março de 1814, entram em paris e o próprio Senado declara deposto o  poderoso Imperador. Encerrado em sua corte de Fontainebleau, Napoleão abdica em favor do filho, tentando mesmo suicidar-se, mas, afinal,resigna ao seu destino e parte para o exílio. 
               Um mito de invencibilidade tombara; Napoleão parte para ilha de Elba, para onde os aliados vencedores o remeteram. 
             Um homem, que durante muitos anos tenha sido habituado a dominar de maneira absoluta, dificilmente consegue convencer-se de que a sorte não mais se encontra a seu lado, e que ele se acha definitivamente batido. Inúmeros exemplos, antigos e recentes, provam como é árduo para um ditador renunciar ao seu posto de comando, aceitar a repentina mudança da sorte, Os "Cem Dias", a última desesperada empreitada de Napoleão contra a Europa, agora já toda hostil, constituem um dos mais aparatosos e patéticos exemplos dessa relutância, tão humana e compreensível, em admitir a própria derrota. O homem que percorrera, em vinte anos, a mais estupenda carreira de que há lembrança na História,que, vindo do nada, vira a seus pés os povos e os soberanos da Europa, que acabara por habituar-se à sua incrível e constante sorte, que se vira adulto, exalçado, venerado qual um deus, não pode acreditar, aos quarenta e seis anos, que já era um homem acabado.
          Assim, ele não aceita sua segregação em Elba, no momento do desastre, quando todos o abandonam, e talvez a perspectiva de uma existência obscura e tranquila não o assuste.  Mas, superando o primeiro momento de desânimo, o antigo desejo de poder, que o impelia, de espada em punho, pela Europa toda, e também suas não extintas energias despertam. As obras de construções e de estradas, as ordens minuciosas que ele envia  por escrito aos seus ministros - que moram no andar de baixo - não passam de brinquedo, em que ele desabafa sua paixão pelo mando, pela organização; o grande projeto começa, certamente, a preocupá-lo logo depois de poucos meses de sua chegada à ilha. Ainda hoje, na ilha de Elba, caminha-se sobre estradas abertas por ele. 
             Em um pequeno navio, alugado em Portoferraio, Napoleão deixa a ilha de Elba, na noite de 26 de fevereiro de 1815, cerca de dez meses após sua abdicação e, em outras seis embarcações, seguem-no 1.100 homens, a ele fidelíssimos. Ainda uma vez, nem ingleses, nem borbônicos conseguem interceptá-lo. Três dias depois, desembarca em Canes e macha rumo ao Norte, entre a atônita surpresa daqueles que o reconhecem. A notícia alastra-se num relâmpago, os regimentos enviados para prendê-lo são apanhados, mais uma vez, por aquele entusiasmo contagioso e indefinível que aquele homem sempre provocara entre os soldados com sua presença, e as tropas acabam aderindo a ele. Gradativamente, a expedição vai-se transformando em uma marcha triunfal. A Paris, em 20 de março, Napoleão chega literalmente transportado por uma onda de multidão aclamante, em uma apoteose espontânea e popular, como ele próprio jamais havia conhecido. Suas previsões revelam-se exatas, a França amava mais sua tempestuosa ditadura do que o calmo governo dos Borbões. A notícia imprevista expulsara de seus palácios o rei e os nobres legitimistas, que haviam regressado depois da abdicação, e os enxotara para além dos confins belgas; explode como uma bomba, em Viena, onde os vencedores se haviam reunido, assaz agradavelmente, em congresso. A volta de Napoleão a Paris, depois de menos de um ano de exílio, transformou-se, aos poucos, em uma apoteose; o entusiasmo do povo se tornou tão violento a ponto de por em perigo a própria incolumidade do imperador. 
          Talvez Napoleão se houvesse iludido em que a Europa aceitasse o fato consumado, ratificando sua retomada do francês; ou, talvez, esperara poder manter-se à testa da nação, batendo os exércitos adversários com um de seus costumeiros milagres bélicos. Mas os aliados recorreram às armas, como era lógico, e, dois meses depois, uma avalancha de homens e canhões avançava contra os recrutas amontoados por Napoleão. 
           A campanha dos "cem dias" terminou, como erá lógico prever-se, em um desastre para os Franceses; a sorte dera as costas ao seu favorito, o astro de Napoleão tombara no acaso, definitivamente. Em Waterloo, na tarde tempestuosa de sua derrota, Bonaparte, em vão, procurou a morte no campo de batalha; as balas pareciam evitá-lo e ele terminou, cansado e acabrunhado, por entregar-se aos ingleses. 
          Os biógrafos do grande Corso, quase todos bonapartistas ferrenhos, costumam atribuir as suas vitórias exclusivamente ao seu gênio, e suas derrotas à infelicidade ou à imperícia de seus colaboradores; na realidade, uma batalha, especialmente naquela época, era feita de um rosário de fatos fortuitos, sobre os quais bem b pouco podiam influir as decisões dos generais, e que, geralmente, pensavam, irrevogavelmente, nas sortes do combate. Um grupo de soldados que erram o caminho, um mensageiro que é morto por uma bala extraviada, um temporal que faz atolar os canhões, um regimento que é invadido pelo pânico, todas estas coisas, outrora, aconteciam aos adversários de napoleão e nunca a este, ao passo que agora, a sorte encaminhara-se contra suas tropas e favorecera seus inimigos. Em 18 de junho, após o remate de uma breve campanha, o exército napoleônico enfrenta, perto de Waterloo, na Flandres, os ingleses, comandados pelo duque de Wellington, e os Prussianos de Blucher. Ao entardecer, após dez horas de luta, os franceses estão derrotados,e o episódio determinante da batalha é fornecido justamente por um daqueles acasos a que aludimos; o general Grouchy, atirado contra os reforços trazidos por Bluncher, quando os franceses pareciam quase vitoriosos, errara o caminho, e, assim, trinta mil Prussianos, bem descansados, caem em cimados exaustos franceses. 
            Repetem-se os dramas de um ano antes; Napoleão abdica, pede ao novo governo poder continuar combatendo, pensa em fugir para a América, mas, finalmente, entrega-se aos ingleses, os quais, para prevenir novos riscos, remetem-nos, a toda pressa, para Santa Helena, uma ilhota perdida no Atlântico. 
            Agora, ele também, o mais tenaz fautor de si próprio,achava-se convicto de que seu destino estava cumprido. Os últimos anos de sua vida transcorreram silenciosos, animados apenas pelas exacerbadas desavenças entre o prisioneiro e seu carcereiro, sir Hudson Lowe. O homem, que durante vinte anos convulsionara o mundo, agoniza, assistido por poucos amigos, aqueles que quiseram segui-lo no exílio. Napoleão Bonaparte morreu, ao que parece, de uma úlcera gástrica perfurante, em 5 de maio de 1821. 


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sexta-feira, 16 de outubro de 2020

A EUROPA NO INÍCIO DO SÉCULO XIX

Champs-Élysées - Paris.

        Com o Congresso de Viena, começa a nova era. Esgotada por vinte anos de guerra, pela crise que as ideias liberais da Revolução Francesa tinham provocado em cada país, a Europa prepara-se para elaborar os novos princípios, em uma atmosfera de paz, pelo  menos na aparência.  Em Viena, foram reunidos, em congresso, os representantes da Rússia, da Áustria, da Inglaterra, da Prússia e da França borbônica; trata-se, pelo menos teoricamente, de reconduzir o mundo ao "atatu quo ante", de anular, com tratados regulares, vinte e seis anos de História; algo muito difícil, mesmo para um Metternich ou um Talleyrand. Podemos dizer que o Congresso de Viena, um dos mais longos e ricos de intriga de que há lembrança na História, reuniu, na capital austríaca, a fina flor da diplomacia e da aristocracia da Europa. Ficou célebre, além da participação dos vultos que os denominavam - Metternich, Talleyrand, Castlereagh, o Tzar Alexandre I - também pelas festas e os intermináveis banquetes que diariamente alegravam os congressistas.  O ajustamento político, partindo do princípio de ignorar as aspirações dos povos, não era difícil de organizar; bastava acalmar os legítimos desejos dos senhores depostos ou dos soberanos vencedores. Assim, a Áustria, forte pelo fato de que a Itália "já não era mais que uma expressão geográfica" (frase celebríssima pela sua incrivel cegueira, é da quele fino político que foi o príncipe de Metternich), tomou para si a Lombardia e o Véneto; a Toscana foi entregue a Fernando II de Lorena; Luca, a Maria Luísa de Borbão; Parma, Placência e Guastala, à esposa de Napoleão, Maria Luísa d'Ástria; Módena, a Fernando IV d'Este Lortena; o reino das "Duas Sicílias", a Fernando IV de Borbão. A sardenha voltava a ser do rei de Sabóia e a ela se anexava a Ligúria; a Prússia estendia seus limites até abarcar a Vestfália e a Saxônia; à Rússia foram reconhecidos os direitos sobre a Finlândia, a Bessarábia e parte da Polônia; a França reentrava em suas velhas fronteiras, o que para ela ainda era bom negócio. Os estados alemães formavam a confederação germânica, primeiro núcleo ideal da futura nação, sob a presidência da Áustria; os Países baixos, antigo feudo do Império, constituíam um reino, sob a casa de Orange;  Suécia e Noruega formavam um único estado, sob o cetro de Bernadotte, valoroso marechal, de napoleão, que fora eleito herdeiro da coroa da Suécia em 1810. 
          Bastante especiais são as conquistas da Inglaterra, consistentes em territórios já de fato ocupados pelos ingleses, mas que foram reconhecidos como de propriedade da nação britânica somente graças à tenacidade e notável habilidade do lorde Castlereag: Malta, Gibraltar, o Cabo da Boa esperança, algumas colônias francesas e espanholas; pontos-chaves, caminhos marítimos obrigatórios, ou terras susceptíveis de uma limitada exploração, cuja posse conformava e consolidava a supremacia marítima da Grã-Bretanha. Na prática, somente a Inglaterra demonstrou, no Congresso, saber realizar seus negócios com profundo discernimento e excepcional clarividência, assumindo, desde então, aquele caráter de potência mundial, que conservou até hoje. A Áustria, ao invés, com o Lombardo-Véneto, granjeava  para si um perigoso foco de desordens e, constituindo a Confederação Germânica, preparava os povos alemães para libertar-se de sua hegemonia. 
            A Inglaterra foi a verdadeira triunfadora da campanha de 1815. A vitória de Waterloo premiou o povo que soubera lutar, sem incertezas e sem comprometer-se, contra o tirano. O anúncio da vitória fez explodir, pelas ruas de Londres, o regozijo popular em sua forma mais franca.
           Um dos protagonistas da nova ordem europeia era, pelo poderio de seus estados e de seus exércitos, Alexandre I, o Tzar da Rússia. Napoleão adivinhara a gigantesca carga de energias que se ocultava no imenso império moscovita e já pensara, por um momento, em poder repartir, com Alexandre, o domínio do mundo. O jovem imperador sofria o encanto daquele estranho emaranhado de ideias meio religiosas e meio iluminísticas, que rodeava os círculos intelectuais de São Petersburgo, dominados, sobretudo, pelos maçons (os "livres pedreiros" haviam-se difundido enormemente pela Europa e a lojas russas tinham justamente elaborado um conjunto de teorias místicas e genericamente reformadoras). Além disso, deixara-se sugestionar por uma espécie de vidente, que o convencera de estar destinado a reunir o mundo em uma grande comunidade, irmanada pela fé em Cristo, e paternalmente orientada, pelos soberanos, por direito divino. Levado por esse conjunto de utópicas crenças, e talvez, também, pelo obscuro instinto dos povos europeus, que desejavam a paz a qualquer custo, Alexandre tornou-se promotor de uma união estável e pessoal, entre os soberanos dos maiores países; denominou-a "Santa Aliança", e o nome e o teor dos primeiros parágrafos do tratado revelavam suficientemente o caráter místico, mais do que político ou militar. Na prática, a Santa Aliança, à qual aderiram Áustria e Prússia e, a seguir, também países menores, ter-se-ia tornado um forte instrumento nas mãos dos soberanos, para apagar, em seu nascedouro,as "nefastas" ideias da Revolução, ou de qualquer outro movimento que ameaçasse o princípio da monarquia absoluta. A Inglaterra, única dotada de bom senso, em tão crédula e infantil aventura, conservou-se prudentemente distante da nova aliança, contrária ao espírito democrático de constituição britânica. 
                Na prática, a aliança, com o aparecimento em toda a Europa do espírito nacionalista, transformou-se em um instrumento de opressão, e também, como tal, serviu para debelar algum movimento revolucionário de modesta entidade; quando a hora da liberdade soou para todos os povos do continente, ela se revelou qual era, pueril e anacrônica utopia de um soberano que julgava poder fazer e refazer a História a seu bel-prazer. 
           Quando Luiz XVII veio retomar seu lugar no trono dos seus avós, percebeu-se logo que a época dos Borbões já terminara; o rei e seus cortesões pareciam anacrônicos, fantasmas de uma era já sepultada. 
         Os anos que se seguiram ao Congresso de Viena encontram, finalmente, uma Europa pacífica, exausta das guerras napoleônicas e da grande febre da Revolução Francesa, mas decidida a dirigir suas próprias forças para objetivos  de paz e de coexistência. Entre todos os estados que combateram o aventureiro corso e sua louca política de hegemonia, a Inglaterra e, sem dúvida, a que se encontra em uma posição de predomínio moral e material. Ela é a única nação que pode contrapor, à falência aparente e aos erros reais da revolução, um sólido regime democrático, fruto de séculos de luta parlamentar, é afinal, o único estado que preferiu às mesquinhas reivindicações territoriais ou de prestígio, a aquisição de sólidas bases para o desenvolvimento de seu comércio. E, na verdade, nós veremos, nos cem anos seguintes, a Inglaterra não só à frente da Europa, mas do mundo; veremos o poderio britânico firmar-se, nos cinco continentes, com força do direito, de uma superior civilização, de um férreo sentido cívico.
           Durante a época napoleônica, a Grã-Bretanha correra o maior perigo de sua história e tinha evitado, por milagre, a ruína econômica; agora, dissolvidas as nuvens borrascosas, todas as suas energias se canalizam rumo a objetivos pacíficos e produtivos. Não devemos pensar que a Inglaterra dos primeiros anos do século XIX fosse, politicamente ou socialmente, semelhante à atual; a aristocracia latifundiária dominava ainda, literalmente, todo o país; vigoravam, outrossim, leis medievais (como aquela dos caçadores furtivos, que condenava a trabalhos forçados o camponês que atirasse numa lebre) e o povo possuía direitos apenas nominais. Todavia, estes direitos existiam e havia sempre alguém que lutava por traduzir na prática aquilo que a lei sancionava, para defender os oprimidos e os exploradores; estes "tributos da plebe" surgiam agora, no seio da aristocracia intelectual, ora entre os aristocratas, sempre, de qualquer maneira, nas classes que tinham tudo a ganhar na conservação da ordem então vigente. Os distritos rurais, salvo raras exceções, encontravam-se nos primeiros anos do século XIX, em um estado de relativa miséria;em redor das aldeias, somente uma pequena parte da terra era cultivada, em comum, pelos habitantes, ao passo que o resto, por dezenas de milhas, era mato ou bosques incultos. As necessidades alimentares, impostas pelo sítio napoleônico, conduziam os lavradores a uma produção mais intensa de bens de sustento, estendendo, modificando e melhorando culturas e criação de gado. A maior parte dos proprietários foi obrigada a confiar faixas de suas terras a meeiros, para que cultivassem, e a lotear também o "campo aberto" que circundava as povoações. Foi assim que os campos ingleses assumiram aquele característico aspecto de tabuleiro de xadrez, conferido pelas inúmeras sebes que os dividem, e que conservam ainda hoje; o resultado, todavia, foi, em primeiro lugar, aquele de transformar uma quantidade de livres cultivadores em assalariados e obrigar muitos camponeses a procurar trabalho nas cidades, impelidos pela fome. As máquinas a vapor, que se iam difundindo sempre mais, estavam transformando o artesanato inglês, especialmente o têxtil, em uma verdadeira grande indústria e, nenhuma lei protegia os trabalhadores, estes eram submetidos a horários desumanos e recompensados com salários irrisórios. O afluxo de gente do campo para a cidade determinara o rápido crescimento de bairros de habitação para operários,esquálidos aglomerados de casarões enegrecidos pela fumaça das fábricas, onde aquela pobre gente, faminta e sem direitos, arrastava uma existência mais triste que se possa imaginar; rapazes de doze ou treze anos e pobres mulheres, preterindo-se os homens, que tinham pretensões mais elevadas. Em contraste com as míseras condições das classes mais humildes, pontilhava a opulência da aristocracia e da burguesia. 
              Protegida por lei de excepcional rigor, a caça permaneceu, durante todo o século XVIII, privilegio da nobreza e dos proprietários de terras. A caça a cavalo, ao veado ou à raposa, que exige um largo emprego de recursos, era, e em alguns lugares ainda é, um esporte reservado a poucos. até fins do século XIX, começou-se, de fato, a delinear os campos, restringindo o exercício da caça a territórios sempre mais modestos.
      Os Lordes, na maioria, grandes latifundiários, e suas famílias, gozavam, sobre seus subordinados, de direitos quase feudais, embora limitados por leis democráticas, que permaneciam, na sua maioria, letra morta. Entretanto, deste estado de coisas, que parecia ancorado em velhas tradições e preconceitos de casta, os próprios ingleses conseguiram sair, não através de bruscos arrancos de um movimento revolucionário, mas graças a um lento e eficaz trabalho de reformas. 
         Nos primórdios da revolução industrial, o capitalismo inglês valeu-se de mulheres e crianças, como operários, em detrimento dos homens, que exigiam salários mais altos. Passaram-se vários decênios antes que o desumano costume fosse abandonado. Contudo, a revolução industrial, que a princípio proporcionou  um abaixamento das condições de vida do povo, aumentando os desempregados, povoando sempre mais as cidades e lançando milhões de desgraçados á mercê de capitalistas sem escrúpulos, devia, a seguir, aumentar de tal maneira o bem-estar da nação que tornaria possível a execução daquelas reformas sociais em que a Inglaterra precedeu de meio século o resto do mundo. 
           O pugilismo, como esporte, renasceu, na Inglaterra, entre os séculos XVII e XIX. Enormes multidões assistiam aos encontros, que apaixonavam gente de todas as camadas sociais e que, geralmente, punham em risco a vida dos pugilistas. 
          O melhoramento das estradas, realizado graças aos maciços macadames (derivado do nome inventor) tornou o serviço das diligências inglesas o mais veloz do mundo. 

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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

CANADÁ - SUA HISTÓRIA E SUAS CONDIÇÕES GEOGRÁFICAS E POPULACIONAIS



             O Canadá é considerado com um país novo, seja pela colonização, muito recente, seja pelo grande desenvolvimento que teve nos últimos decênios. Sua economia, que até poucos anos era baseada apenas na agricultura, conta atualmente, com uma indústria de grandes proporções e de importância mundial.
             A população indígena, que os brancos encontraram em suas explorações pelo interior do Canadá, era constituída de Índios e esquimós. Estes últimos viviam, e vivem ainda hoje, nas costas do Ártico, mas seu número é agora muito limitado e bem inferior ao dos Índios. 
            Uma boa percentagem da superfície canadense é  ainda ocupada por extensas florestas, que vão desde o Labrador, beirando a Baía de Hudson, até à Colômbia Britânica, e alimentam a exportação de madeira e as indústrias igualmente profícuas da celulose, do papel e dos móveis. Os Europeus, desembarcados nas costas da América setentrional, iniciaram logo uma intensa e irracional exploração dos bosques; em seguida, porém, foi posto um limite na destruição das florestas, das quais uma boa parte está hoje incluída nos parques nacionais e, portanto, ao abrigo de qualquer devastação. 
            O Canadá é um dos produtores de trigo, e  o exporta em grande quantidade, dado o pouco consumo interno. Cultiva,ainda, outros cereais como batata, beterrabas para açúcar, tabaco e árvores frutíferas. 
            A criação de gado é riquíssima, sobretudo no Ontário e no Quebec. Todas as províncias oferecem ótimos pastos estivos ao ingente patrimônio zootécnico, constituído de equinos, ovinos e suínos. Com isso se alimenta, também, uma indústria de laticínios bastante adiantada. 
           Em três diferentes zonas é explorada, com ótimos lucros, a pesca: no Atlântico, perto dos bancos da terra Nova, pesca-se o bacalhau; nos Grandes lagos, encontram-se lúcios, sôlhas, trutas, etc.; no Pacífico, sobretudo, salmões. O preparo do peixe, durante os meses de pesca, requer o emprego de grande número de pessoas. Muito desenvolvida também é a caça aos animais de peles finas (raposa prateada, bisão, teixugo, marta, castor), embora já existam inúmeras fazendas de criação artificial que lhe tenham desferido um rude golpe. 
           Imensa é a riqueza minerária do Canadá, que possui riquíssimas jazidas carboníferas. Em constante aumento se acha a produção que alimenta as indústrias siderúrgicas; muito abundante é o petróleo, extraído de numerosas jazidas, dotadas de refinarias e oleodutos, a platina, o rádio, o urânio, o ouro, o chumbo, o zinco, o cobre e muitíssimos outros metais. 
            Importantíssima é a indústria hidrelétrica canadense, que explora os poderosos recursos hídricos de que o País é rico. Outras indústrias em pleno desenvolvimento, além daquelas já citadas, são a têxtil, a metalurgia, e quínica, a automobilística e a de calçados.
           A escassa população é insuficiente para explorar completamente os recursos enormes do território, que constitui, portanto, uma importante meta de imigração e que poderá hospedar, comodamente, um número de habitantes muitas vezes superior ao atual. 
            O Canadá é hoje, politicamente, um dos estados mais importantes do globo. 
          A parte setentrional da América do Norte é ocupada pelo extenso Domínio do Canadá, que cobre uma superfície de quase dez milhões de quilômetros quadrados, com uma população de cerca de 36 milhões. Trata-se, portanto, de uma das menores populações do mundo, considerando sua extensão territorial, segundo maior país. Os recursos econômicos deste país, que figura entre os mais ricos do planeta, são baseados, sobretudo, na riquíssima agricultura, na exploração das florestas de maneira sustentada, na pesca e na indústria mineira. A capital é Otawa, e outras cidades importantes são: Montreal, grande centro industrial; Toronto, rica de indústrias hidrelétricas e importante centro ferroviário; Quebec, situada no estuário do São Lourenço; Vancouver, Winnipeg, Hamilton e Edmonton. Toronto é a maior cidade, e muitos imaginam que é ele a  capital, mas não é. 

              O Canadá, que ocupa parte setentrional do Continente Norte-americano, não é limitado por fronteiras naturais a não ser em breves trechos. Observando a carta geográfica, -que, a oeste, quase toda a fronteira com o Alasca é uma linha reta, que coincide com o 142º meridiano e, ao sul,outra linha reta, seguindo o 49º paralelo, separando-o dos Estados Unidos. Depois, a linha fronteiriça corta as águas  dos Grandes Lagos e, por um breve trecho, segue o curso do São Lourenço, afinal, um andamento irregular até à costa atlântica. 
              Além e aquém dessa fronteira, a paisagem não muda, porque o território canadense, bem como o dos Estados Unidos, tem em comum as três zonas em que se divide o continente, no sentido dos meridianos: do lado do Pacífico, o grande conjunto de cadeias montanhosas; ao centro, a série de savanas,que se estendem, ininterruptamente, desde o Mar Ártico até o Golfo do México; e, do lado oriental, os relevos, de altura modesta, que descem em degraus para o Atlântico. 
             A norte e a nordeste, o Canadá alarga-se com uma costa acidentadíssima, com milhares de ilhas de todos os tamanhos, mas está fechado por mares quase permanentemente gelados; bastante acidentada, também, a costa do Pacífico, atrás da qual, porém, se eleva um poderoso sistema de montanhas, com poucas passagens. Seria, portanto, uma região de difícil acesso, se não tivesse uma porta, e a porta do Canadá é o Golfo de São Lourenço. O vale deste rio, que hoje é a zona mais densamente povoada do País, representou a principal via de penetração para o interior e foi percorrida pelos primeiros exploradores e pelos primeiro pioneiros. 
           João Coboto, com um pequeno navio e dezoito homens de tripulação, atravessou o Atlântico setentrional e desembarcou no Novo Continente, não se sabe ao certo se em terra Nova ou no Labrador meridional, tomando posse dessas terras em nome do Rei da Inglaterra. Nas pegadas de Coboto, numerosos outros navegadores desembarcaram  nas costas do Canadá, e exploraram as margens dos rio e dos lagos. Samuel Champlain, em 1603, subiu o curso de numerosos afluentes do São Lourenço e, em 1608,  fundou a cidade de Quebec.
              O italiano, Cristóvão Colombo, levou para o Novo Mundo os espanhóis, e foi ainda um italiano que, cinco anos depois,para lá conduziu os ingleses. Em 1497, João Caboto que se estabelecera em  Bristol e que, pelos seus concidadãos adotivos, é chamado de John Cabot, alcançou, provavelmente, a Terra Nova e plantou a bandeira inglesa nessas terras. 
             Em 1534, o francês Jacques Cartier, continuando as explorações que o florentino Giovanni de Verazzano realizara na zona, por conta do rei Francisco I, percorreu cuidadosamente as costas de Terra Nova e do Labrador, e, no ano seguinte, subiu de novo o São Lourenço até o ponto onde hoje surge a cidade de Montreal. 
           Entre franceses e ingleses, foi-se, assim, delineando uma rivalidade que teve influência na futura vida política do Canadá e que foi causa de longas lutas,  nas quais tomaram parte as populações indígenas, principalmente as tribos Iroquesas.
           Entre 1602 e 1635, Samaul Champlain   incrementou a colonização francesa, fundando estabelecimentos, colônias, missões, e desenvolvendo rapidamente o comércio. Em 1608, foi fundada a cidade de Quebec. No choque com os interesses Ingleses, os franceses levaram a pior; mas, alguns anos depois, o Cardeal Richelieu deu novo impulso à imigração francesa. Em 1663, Colbert declarou que as terras ocupadas deviam depender do Soberano da França e para lá enviou um governador. Entrementes, os ingleses exploravam os mares árticos, no intuito de descobrir e estabelecer uma via que levasse para a Ásia, a famosa passagem do Noroeste. 
             Henry Hudson, em 1610, entrou na baia que traz seu nome e foi seguido por Button, Baffin e outros audazes navegadores. Os intermináveis territórios do norte eram percorridos por bandos de caçadores e aventureiros ingleses que,armados, desciam para ameaçar as possessões francesas, enquanto, de suas colônias, ao longo do Atlântico, outros ingleses, colonos e pioneiros, embrenhavam-se pelo interior. Molestada por dois lados, a expansão francesa proceguiu,com fortes contrastes, até 1763. Neste ano, a França, após uma sangrenta guerra colonial e marítima, foi obrigada a abandonar seu território, que passou para a soberania inglesa, em seguida ao "Tratado de Paris". Houve ali, alguma tentativa de revolta, porém, bem cedo abandonada. Até esse momento, pelo vocábulo Canadá, designava-se apenas o litoral atlântico. Todo o resto era um espaço em branco nos mapas geográficos da época.  A colonização processou-se, lentamente, para oeste. A cidade de Toronto, no Ontário, surgiu lá por 1790; os primeiros estabelecimentos junto ao Lago Erie foram fundados em 1813. Atraídos também pela miragem do ouro, os primeiros piuoneiros atingiram a vertente do Pacífico, onde, em 1858, formou-se uma nova colônia, a Colônia Britânica. Quando, em 1867, a rainha Vitória da Inglaterra construiu o Dominion do canadá, este era formado pela federação de quatro territórios, onde o incremento europeu era mais antigo, isto é, no Onbtário, na Nova Escócia, no Novo Brunswick e no Quebec, (ou Baixo Canadá, cuja população é ainda, na maior parte, francesa. A esta federação, agregaram-se, mais tarde, o Manitoba, a Colômbia, a Ilha Príncipe Eduardo, a Alberta, o Saskatchewan e os imenso territórios do Noroeste e do Iucon, que até 1869 eram da companhia da Baía de Hudson. 
                 As extensas florestas, que ocupam cerca de 35% da superfície total do Canadá, alimentam a indústria de madeira, da celulose e do papel. Um exploração racional, agora, surgiu depois da desordenada destruição de plantas que, outrora, os europeus acrescentaram às imensas reservas florestais. 
            Em 1919, a Federação do Canadá foi reconhecida como Nação autônoma pela Comunidade Britânica. O chefe de Estado é um governador geral, nomeado pela coroa inglesa, por proposta do primeiro ministro canadense. Em 1950, também Terra Nova passou a fazer parte da Federação. 
       Atualmente, o Canadá possui um território de 9.959.401 km², pouco inferior, portanto ao da Europa, que é de 10.050.000 km². Sua população, porém, é escassíssima, em proporção à superfície, pouco mais de 35 milhões de habitantes. Os indígenas desapareceram quase completamente. Os idiomas são dois: inglês e francês, duas são as religiões: católica e protestante, com número quase igual de fiéis, que tende a diminuir pelo grau de cultura do povo atual. 
         Para o Canadá, a pesca representa uma atividade de suma importância, e é praticada em três zonas diferentes: nas costas banhadas pelo Oceano Pacífico, são pescados sobretudo salmões, e Vancouver é o centro principal de tal pesca; em Terra Nova, no Oceano Atlântico, pontificam a pesca e a indústria de bacalhau; finalmente, na zona dos Grandes Lagos, abundante é a pesca de trutas, lúcios e sôlhas. 
         Embora sua decadência seja visível, comparando-se com o passado, a caça aos animais de pelo precioso, como a raposa prateada, a marta, o castor, o bisão, e a lontra, conserva, ainda hoje, uma certa importância que, contudo, está diminuindo pelos movimentos ecológicos educacionais. A recente instalação e centros de criação artificial, que se estenderam rapidamente por todo o vasto território do Canadá, diminuiu notavelmente essa atividade, que antes era praticadas muita artesanalmente. 
             O novo Brunswick, a Nova escócia e a Ilha do Príncipe Eduardo são definidos como  as províncias marítimas do Canadá; ficam defronte ao Golfo de São Lourenço e seu clima goza da benéfica influência do mar. A região apresenta relevos algo arrendondados, que atingem, em alguns pontos,1200 metros de altura. A península da Nova Escócia prolonga-se na ilha do Príncipe Eduardo, muito plana e de clima suave, terra das raposas prateadas e, na do Cabo Bretão,é rica de carvão. Outras numerosas ilhas pontilham o golfo, que é limitado, a noroeste e a este, pela Terra Nova. esta ilha, quatro vezes e meia o tamanho da Sicília, de costas acidentadas e interior desolado, coberta de tundras e florestas, é pouco habitada; nevoeiros, ventos gelados, pluviosidade, invernos longos e nevosos fazem dela uma permanência pouco agradável. Mas a grande piscosidade das águas adjacentes atrai numerosas flotilhas de pescadores, até dos Estados Unidos e da Europa. Em toda essa zona marítima, os recursos econômicos principais são constituídos pela pesca (especialmente do bacalhau), da exploração extensas das florestas, da fruticultura, das minas de carvão. 
            No decorrer de milênios, os rios cavam as rochas por onde correm, formando profundos abismos, que são denominados cânions. Os rios das Montanhas Rochosas possuem, todos, essa característica; nas margens de seus leitos, erguem-se rochosas paredes, quase todas áridas e escarpadas. 
Baia de Okkak.

          As costas da imensa península do Labrador, que se estende entre o Oceano Atlântico e a Baía de Hudson, são bastante acidentadas e o mar penetra em profundidade entre os montes e submerge os vales, dando origem a numerosos fiordes. A costa ocidental é mais uniforme do que a oriental, e amplas enseadas rompem a monotonia dessa zona. Um exemplo é a Baía de Okkak. 
            No estuário do São Lourenço, surge a velha cidade de Quebec (542 mil habitantes), que dá nome à província mais vasta do Canadá. O rio é navegável, até à cidade de Montreal, também para navios que possuam um calado de dez metros e constitui uma importantíssima artéria comercial, com exceção dos quatro meses invernais, durante os quais o estuário fica gelado. Montreal é a cidade mais populosa do Canadá, pois, co  os subúrbios, conta com mais de um milha e setecentos mil habitantes. É o centro comercial, industrial e financeiro da Nação, possui um dos mais importantes aeroportos do Continente e um porto fluvial muito extenso e modernamente aparelhado.
            Não distante de Montreal, na margem direita do rio Otawa, afluente do São Lourenço, surge a cidade de Otawa ( cerca de 1 milhão de habitantes), capital da Federação. Foi escolhida, para isso, pela sua posição que, no limitado território canadense daquele tempo, resultava ser central. A oeste do rio Otawa, começa o chamado Alto Canadá, ou seja, a província de Ontário, que recebe o nome do primeiro dos lagos que se encontram, subindo o São Lourenço. 
            Os cinco lago - Superior, Huron, Michigan, Erie e ontário - formam um verdadeiro e próprio mar interno, ligado a numerosos lagos menores, de um labirinto de rios e canais que tem uma grande importância para as comunicações. O Lago Superior recebe as águas do rio São Luis e pertence apenas em parte ao Canadá; está ligado ao acidentado Lago Huron, que forma, por sua vez, o Lago Michigan. Este último fica todo no território dos Estados Unidos. O Huron despeja suas águas no Erie e no Ontário, cujo desnível é de cerca de 100 metros. O rio que liga o Erie ao Ontário é o Niágara, que forma as famosas cascatas. À saída do Ontário, o São Lourenço está coalhado por mais de 1500 ilhéus; a paisagem é bastante pitoresca, rica de bosques, de chalés e de lugares para veraneio. 
           Na margem setentrional do Ontário, surge Toronto, capital da província e segunda cidade da Federação, (com cerca de dois milhões e setecentos e trinta mil habitantes) incluindo-se os subúrbios. Seu extraordinário desenvolvimento industrial é favorecido pela ilimitada disponibilidade de energia elétrica produzida pelo Niágara. É o principal tronco ferroviário do Canadá e tem um porto ativíssimo.  Toda a zona meridional da província é densamente habitada; entre os centros mais importantes, notam-se Hamilton e London. Toronto é uma bela cidade, rica de esplêndidos edifícios e de vastíssimos parques, estende-se pelas margens de uma ampla baía do Lago Ontário. Seu nome deriva de palavras indígenas, que significam "lugar de missão", e foi dado à cidade, cuja fundação foi iniciada lá por 1749, pelos franceses, em 1834, quando foi reconstruída depois da guerra de 1812. 
             Os campos são férteis; vastas plantações de milho, trigo, cevada, tabaco e linho se alternam com vinhedos e pomares; a criação de gado é bem desenvolvida; nas águas dos lagos, a peesca é abundante (trutas, sôlhas, lúcios)
             Com o emissário do Ontário, São Lourenço figura entre os rios mais importantes da América setentrional. Realmente, é uma grande via de comunicação e numerosas cidades surgiram às suas margens, embora, durante o período invernal, parte de seu curso permaneça gelado. 
         Depois do Lago Superior, avançando para oeste, começa o que se chama o "Canadá dos pioneiros"; são extensas planícies, intermináveis bosques de coníferas, numerosos lagos e uma rede complicadíssima de curso de água. O clima é continental; cinco meses de gelo e verões falidíssimos. Este território é ocupado por três províncias centrais: Manitoba, Saskatchewan e Alberta. 
            Em redor dos Lagos Winnipeg, Manitoba e Winnipegosis, a província de Manitoba é rica de culturas, de criações de gado, de níquel, de cobre. A capital, Winnipeg, tem cerca de 750 mil habitantes, com os subúrbios. Aqui, nos tempos passados, os compradores de peles concluíam seus lucrativos negócios com o Peles-Vermelhas e defendiam-se da concorrência de maneira muito simples, a tiros de pistola. 
            Desde o século passado até hoje, a população da cidade, que é a quarta da federação, aumentou bastante. 
               Em 1608, os franceses fundaram uma cidade ao fundo do longo estuário do São Lourenço: Quebec. Hoje, ela é um grande centro, com cerca de 543 mil habitantes, rico de industrias, e importante centro ferroviário. O grande porto é muito ativo, mas, durante alguns meses do ano, bancos de gelo bloqueiam todo o tráfego ao longo do rio. 
           Montreal, a cidade mais populosa do Canadá, foi construída na ilha da homônima, banhada pelo  São Francisco e pelo rio Ottawa, encontra-se numa posição de notável importância e, embora em boa parte do ano  o porto seja circundado pelo gelo, seu tráfego é intenso e contínuo. 
             O Saskatchewan recebe o nome do rio que o atravessa e em torno do qual se adensa a escassa população; é rico de trigo e de gado. Também a Alberta possui uma economia prevalentemente agrícola, mas ali abundam, ainda, as jazidas de carvão, de ferro, de petróleo; sua capital é Edmonton, de cerca de 982 mil habitantes, com os subúrbios. Das grandes cidades canadenses, é a mais setentrional; é ativíssima de indústrias e possui um grande aeroporto. Com a Alberta ocidental, começa a zona montanhosa, impérvia e atormentada. 
               As montanhas rochosas são flanqueadas por outras cadeias, com picos muito elevados e vales profundos, e estendem-se planaltos de clima áspero, cobertos de florestas e estepes, até à cadeia Costeira, que, qual uma muralha, desce rapidíssima para o Pacífico. A paisagem muda na fase litorâneo e se torna mais variada ew pitoresca; também o clima melhoras e permite culturas agrícolas. As costas acidentadas lembram os fiordes noruegueses. O território constitui a mais ocidental das províncias canadenses; a Colômbia Britânica,rica de todos os recursos, florestas, pesca marítima e fluvial, (salmão), criação de gado, agricultura, energia hidrelétrica, minas de carvão e de outros minerais. Sua capital é Vitória, situada na Ilha de Vancouver, mas a maior cidade é Vancouver, nas proximidades da fronteira com os Estados Unidos; com os subúrbios, atinge 635 mil habitantes e é um centro comercial de primeira importância. 
             Todas essas províncias, que se alinham da costa atlântica à do Pacífico, possuem uma característica comum: as zonas mais habitadas, as cidades maiores, as áreas maiormente cultivadas e exploradas e as principais vias de comunicação se adensam na parte meridional. Assim, no Quebec, a vida se desenrola nas margens do São Francisco, ao passo que, na parte meridional, se estende a grande Península do Labrador, semi-deserta, fria e selvagem, coberta de tundras e florestas. A população do Ontário concentra-se na zona dos lagos, enquanto a parte setentrional da província, até à baia de Hudson, é quase deserta. O mesmo fenômeno  ocorre nas províncias centrais e na Colômbia Britânica. Podemos, pois, a grosso modo, tomar o paralelo 54º como limite dos grupos humanos; ao norte desta linha, os territórios são de todo despidos de população ou a tem apenas nos centros habitados recentemente, devido á exploração das florestas ou das minas. 
               Mais vazias ainda, tanto que têm uma densidade de pouco mais de um habitante por 100 km², são as terras ao norte do Paralelo ¨60º, que formam os dois territórios da federação denominados Noroeste de Yukon. A capital deste último é Whitehorse, que tem apenas 25 mil habitantes, como uma modestíssima aldeia européia. Os terrenos paludosos, as florestas densíssimas, os relevos montanhosos, ásperos e selvagens, o labirinto dos rios, o clima rigidíssimo, constituem obstáculos muito duros para o povoamento desses territórios. O Mackensie é o rio mais importante, com um comprimento de cerca de 4.000 Km, mas, durante três quartas partes do ano, seu delta acha-se gelado. Mais desolado ainda é o território de Yukon, atravessado, no alto curso, pelo rio homônimo. 
             Defronte das costas setentrionais do continente, estende-se o Arquipélago americano-ártico que, geograficamente, pertence às terras polares e, administrativamente, depende do território canadense do Noroeste. É separado da Groenlândia pelo  Estreito de Davis e pela Baía de Baffin, e é constituído por um numeroso conjunto de ilhas acidentadas, que têm o aspecto, pelo menos as meridionais, assaz semelhantes ao do Canadá setentrional. As vastas pradarias alimentam rebanhos de renas selvagens (caribu) e de bois moscados. Ainda caça-se a raposa prateada, cuja pele é apreciadíssima. O governo instalou ali alguns estabelecimentos permanentes. A zona toda é importante do ponto de vista estratégico. 

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