O historiador romano Tácito chamou de aestili as populações que, nos primeiros séculos da era cristã, habitavam a região entre os rios Vístula e Niemen, voltada para o mar Báltico. Mais tarde, nos séculos II e II, a área sofreu a invasão dos godos, que eram povos germânicos vindos da Escandinávia. Aos godos se seguiram os borússios ou prussianos, aparentados aos letões e lituanos.
Pensando nos 180 mil homens bem armados e treinados na obediência cega a seu chefe supremo, o rei, o escritor francês disse em 1788: "A Prússia não é um Estado que possui um exército, mas um exército que possui um Estado".
Formavam a mais temível e numerosa força armada da época. Foi com esse poderoso instrumento que a Prússia garantiu seu lugar entre as grandes potências européias do século XVIII.
Originalmente os prussianos eram um povo de caçadores guerreiros e acabaram por entrar em conflito, no século XIII, com o ducado polonês da Masóvia, constituído no médio Vístula, em torno da cidade de Varsóvia. O duque da Masóvia sabia o tipo de inimigo que tinha pela frente e, para contê-lo recorreu ao auxílio da ordem dos Caçadores Teutônicos, criada no período das Cruzadas com a missão de dar combate aos infiéis na Terra Santa. Depois de um século de muita briga, os Cavaleiros Teutônicos dominaram a região, que daí em diante começou a prosperar.
No entanto, a dominação teutônica apoiava-se na força das armas e numa organização de tipo feudal, que reduzira os prussianos à servidão. Eram inevitáveis as revoltas internas, promovidas pelos nobres proprietários de terra e pelos comerciantes das cidades. Isso,somado aos conflitos com a Polônia, abalou o poderio teutônico no século XV. Resultado: a Polônia, defrontou-se com um inimigo enfraquecido por convulsões internas saiu ganhando. Quando a paz foi assinada em 1466, a Ordem Teutônica teve que ceder as regiões da Pomerélia, Mariemburgo, Kulm e Ermland, incorporadas à Polônia com o nome de Prússia Real; e foi obrigada a aceitar a suserania polonesa sobre o restante de suas terras, a "Prússia Oriental", ou seja, aparentemente autônoma, a área era apenas um feudo, vassalo do rei da Polônia.
Em 1525, finalmente, toda a Prússia era transformada num ducado hereditário sob suserania polonesa. Quem promoveu essa modificação foi um alto dignatário prussiano, o Grão-mestre Alberto de Hohenzollern ou de Brandemburgo, como passou a denominar-se, ao concluir a paz de Cracóvia com o Rei Sigismundo da Polônia.
Esse ducado passaria como herança, em 1618, a joão Sigismundo de Brandemburgo. Nasceu, assim, o Estado brandemburguês-prussiano, que incluía, além do Eleitorado de Brandemburgo, tipo de Estado que tinha direito a voto na eleição do imperador, e do Ducado da Prússia, pequenos territórios ao longo do curso inferior do rio Reno (Clèves, Mark, Ravensberg). Mas o novo Estado , sem consistência territorial, uma vez que suas diferentes áreas não tinham fronteiras comuns, pois não possuía plena independência. E os Hohenzollern eram duplamente vassalos: do Imperador do Sacro Império Romano-Germânico (pelo Eleitorado de Brandemburgo) e do rei da Polônia (pelo Ducado da Prússia).
A união com o Brandemburgo ligou o destino da Prússia ao dos Estados alemães. A região alemã não conhecera o movimento que,nos séculos XV e XVI, levara à constituição de grandes Estados nacionais centralizados pelo poder monárquico, em outras áreas da Europa (Portugal, Espanha, França, Inglaterra). Manteve, à semelhança de península itálica, a feição herdada do período medieval: um mosaico de pequenos domínios, onde predominavam os vínculos feudais. Ao todo, eram mais de 360 Estados, diferentes em extensão, recursos e sistemas de governo.
O Sacro Império, cujos domínios não se reduziam aos territórios alemães, era governado da Áustria pela família dos Habsburgos. Mas as diversas políticas e a debilidade militar da maioria dos Estados tornaram a região alemã alvo do interesse de algumas nações européias, em expansão econômica e territorial. A França, por exemplo, conseguiu subtrais a Alsácia em 1648 e o Estrasburgo em 1681 do domínio dos Habsburgos. Já a Suécia, interessada no controle do Báltico, tomou a Pomerânia Ocidental em 1648. Pelo leste, a ameaça vinha da Rússia, que estava em plena expansão. Com esse cenário iniciou-se a ascensão da Prússia, primeiro em aliança e a seguir em conflito com os Habsburgos.
Não se pode negar que, realmente, a grandeza prussiana foi obra dos Hohenzollern, a partir de Frederico Guilherme, o Grande Eleitor, que governou de 1640 a 1688. No seu governo, alargaram-se as fronteiras do Brandemburgo-Prússia, que recebeu a Pomerânia Oriental, os antigos bispados de Miden e Halberstad e o Ducado de Magdeburgo, ao seu concluída a Paz de Vestfália, assinada em 1648, ela pôs fim à "Guerra dos Trinta Anos", travada entre os Habsburgos e os Bourbons, este da França.
Enquanto procura dar mais coesão aos dispersos territórios dos Hohenzollern, Frederico Guilherme consegue em meio de guerras e tratados pôr fim à suserania polonesa sobre o Ducado da Prússia. E com uma hábil política de alianças, obtém sucessos militares, que transformam o Brandemburgo-Prússia em líder dos Estados protestantes alemães. A exemplo das grandes nações européias, sonha com a criação de um grande império colonial; para isto estabelece entrepostos comerciais na Guiné. Mas essa realização teve vida curta.
No plano interno, o esforço de Frederico Guilherme é voltado para a construção de um Estado forte; com ele, nasce a monarquia absoluta prussiana. Formou um exército que em pouco tempo se tornou o primeiro da região alemã, e com apoio nele dobrou impiedosamente as resistências locais ao absolutismo.
A obra de Frederico Guilhermne sobreviveria à sua morte. Foi continuada por seu filho e sucessor Frederico, que reinou de 1688 a 1713. Excelente político, Frederico, em troca de apoio militar ao imperador Habsburgo, obteve que este o reconhecesse como rei da Prússia. E a 18 de janeiro de 1701, fez-se coroar em Koenigsberg, com o nome de Freedrico I; a partir de então todos os territórios do Brandemburgo-Prússia passaram a chamar-se simplesmente Prússia.
O dinamismo da região, nessa época, contrasta com a estagnação dos outros Estados germânicos. Enquanto cresce a população urbana, a Academia de Belas-Artes e a Academia de Ciências de Berlim transformam esta cidade em importante centro cultural.
À vida faustosa e alegre da corte de Koenigsberg, Frederico Guilherme I, sucessor de Frederico I, preferiu a austeridade de seu gabinete de trabalho em Berlim. Honrando a tradição dos Hohenzollern, foi um incansável defensor do estado forte prussiano, que governou com mão-de-ferro de 1713 a 1740.
Um grande problema era o estado territorialmente disperso. Para superá-lo, criou uma administração burocrática exemplar, dividida em departamentos especializados. O numeroso corpo de funcionários era regido por uma disciplina férrea e por um devotamento absoluto ao Estado.
No tempo de Frederico Guilherme I, a economia prussiana cresceu a passos largos. A agricultura beneficiou-se da recuperação das terras pantanosas do leste, totalmente colonizadas, e da abolição da servidão em todas as propriedades da coroa. Com uma política protecionista, o rei taxou pesadamente as importações, ao mesmo tempo em que estimulava a exportação. Com isso, beneficiou o comércio e a produção locais, possibilitando por outro lado a acumulação de moeda nos cofres do Estado.
Mas a grande preocupação do monarca,que lhe valeu o apelido de "Rei-sargento", foi o poderio militar prussiano. Enquanto a população total do estado não ultrapassava dois milhões de pessoas, seus efetivos militares chegavam a 83 mil homens. Para ter ideia do que isso significava, considere-se que, na mesma época, a França , dez vezes mais populosa, tinha um exército de 160 mil homens, apenas. Com essa força , Frederico Guilherme I participou da Guerra de Sucessão da Espanha, conflito que começara em 1701 e só terminou em 1714, e que opôs os Habsburgos à França na disputa do trono espanhol. Como saldo dessa participação, a Prússia recebeu pelo Tratado de Utrecht (1713) a região da Gueldria.
O exército de Frederico Guilherme I envolveu-se ainda na Guerra do Norte, entre a Suécia e os estados do litoral báltico (Dinamarca, Rússia, Saxônia e Polônia). E graças a isso obteve, com a Paz de Estocolmo, a posse da Pomerânia Ocidental (ou Pomerânia Sueca) e sobre a vizinha região de Stettin.
Mas, se eram muitas as satisfações vindas das vitórias que ampliavam o mapa prussiano, o "Rei-sargento" também tinha desgostos. O maior de todos: seu filho Frederico, um rapazinho franzino, que detestava a vida militar e evitava a companhia do pai. Preferia o convívio com a mãe e a irmã, junto das quais ouvia música, tocava flauta e lia os últimos livros dos romancistas, poetas e filósofos franceses. E por isso o velho Frederico Guilherme I chamava-o, com desprezo, de "francesinho".
O rei temia pelo futuro da Prússia, mas sem razão. O "francesinho" subiria ao poder em 1740, com o nome de Frederico II, e ele logo provaria que era da mesma estirpe dos Hohenzollern. E com uma vantagem sobre seus antecessores; era homem cultíssimo .
Frederico, o Grande, não fugiu à regra. promoveu grandes reformas jurídicas, aboliu a tortura, deu liberdade religiosa a seus súditos, terminou com a censura sobre a imprensa, ampliou o movimento de colonização, protegeu os intelectuais (entre os quais o pensador francês Voltaire).
O início do reinado de Frederico II, que os historiadores chamariam de "o Grande", tinha dado a impressão de que uma era de paz iluminada se abriria para a Pérsia; na verdade, a primeira metade de seu reinado, durante cerca de quarenta e seis anos, foi uma guerra contínua. No ano 1740, morria o imperador Carlo VI e, em base da "pragmática sanção", que autorizava a sucessão em linha feminil, subia ao trono Maria Teresa. Era evidente que muitos príncipes europeus fariam oposição; Frederico resolveu invadir imediatamente a Silésia, para ocupar algumas terras sobre as quais os Hohenzollern se achavam com direito, oferecendo a Maria Teresa, em compensação destas perdas, seu apoio militar contra os adversários. De fato, poucas semanas depois, durante uma festa da corte, enquanto nada fazia prever sua intensão, o rei deixou secretamente Berlim, alcançou as tropas e marchou para a fronteira silesiana. Maria Teresa recusou, porém, negociar com o invasor, de modo que Frederico se encontrou automaticamente em aliança com os Franceses, que avançavam do Ocidente; a campanha durou pouco mais de um anos; foi uma sequência de brilhantes vitórias prussianas e terminou com a conquista total da Silésia de parte de Frederico II. Após um início tão fulgurante de sua carreira de chefe de estado e de comandante de exércitos, o rei da Prússia devia esperar uma adequada reação de parte dos potentados europeus, interessados em manter o equilíbrio de forças em uma região densamente povoada e sem limites naturais, como era a Alemanha. Realmente, esta reação, chefiada por Maria Teresa, que via ameaçados de perto seus domínios, não se fez esperar; Inglaterra, Áustria, Holanda e saxônia uniram-se para trancar as nescedouras veleidades expansionista de Frederico. Este, que sofrera notável desfalque em seu potencial bélico, na última campanha, considerou , todavia, oportuno tomar a ofensiva e, em poucos choques vitoriosos, debelou um por um seus adversários, obrigando-os à paz; os príncipes alemães, que tinham contado humilhar o rei da Prússia, degradando-o para o título de marquês de Brandeburgo, tiveram que se arrepender e e admitir que ninguém, naquele momento, poderia competir com ele. Mas, assim que ficou livre dos pesados encargos de guerra, Frederico dedicou-se àquelas atividades para as quais se sentia mais inclinado. Reformou o exército sobre bases mais elásticas, desembarcou, ulteriormente, a burocracia estatal e a justiça. Infelizmente, enquanto Frederico estava entretido nessas obras de paz, seus ex-adversários, em nada tranquilizados pelos tratados assinados com ele, começaram novamente a movimentar-se, a armar soldados e a estreitar secretamente alianças.
França, Áustria, saxônia e Rússia teceram uma rede de tratados de mútuo socorro e, quando Frederico pediu explicações quanto àquelas manobras diplomáticas e concentração de tropas nas suas fonteiras, responderam-lhe tão evasivamente que ele, com a rapidez de decisões que o caracterizava, resolveu atacar primeiro. Em agosto de 1756, um corpo de 60.000 prussianos entrava subitamente na saxônia, sitiava a fortaleza em que se encerrara o exército saxão e batia sanguinolentamente os reforços austríacos, prontamente acorridos. O início da campanha não poderia ser mais brilhante. O ano seguinte foi pleno de combates em todas as frentes; rodeados de inimigos, que possuíam forças pelo menos em triplo às dele e recursos praticamente inexauríveis, Frederico podia contar apenas com seu gênio para sair vitorioso da luta. Suas manobras eram sempre as mais rápidas; movimentando-se com a massa de suas forças, ele batia os adversários separadamente, antes que eles se reunissem e o sobrepujassem pelo número; uma tática id~entica a essa, porque derivada justamente do estudo daquelas campanhas, usaria mais tarde Napoleão Bonaparte. Na terrível luta conduzida por Frederico contra toda a Europa, que o queria morto, vitórias e derrotas se alternaram durante sete anos, de 1756 a 1763.
Um por um, os adversários a de Frederico foram afrouxando; a paz firmada em Hubertsbourg, em 1763, ratificava o estado de fato adquirido em 1845, consignando à Prússia, definitivamente, o papel de grande potência. Daí até sua morte, Frederico embainhou a espada, salvo por uma breve cruenta campanha contra a Áustria, em 1778; preocupou-se mais com a administração de seu país, em que se revelou sempre mais hábil e sábio; publicou numerosas obras sobre vários assuntos, interessou-se pela arte e pela filosofia, manteve correspondência com os maiores cientistas de seu tempo. Seu prestígio na Europa, depois da "Guerra dos Sete Anos", era fortíssimo; foi ele quem, depois do efêmero reinado de Estanislau Poniatowsky, conduziu as negociações que levaram à retalhação do território polonês entre Áustria, Rússia e Prússia (1772).
Sob a gestão de Frederico, o Grande, o absolutismo monárquico atingiu o apogeu. O rei era o primeiro juiz, o primeiro general, o primeiro financista, o primeiro ministro, mas também o "primeiro lacaio do Estado", totalmente submetido ás necessidades do estado prussiano. E meio à Europa aristocrática do século XVII, a Prússia sobressaía como Estado militar, possuidor do maior exército europeu da época. Para Frederico II, uma das necessidades do Estado prussiano era expandir-se: e o "primeiro lacaio do estado" lançou-se, com seu poderoso exército, a essa tarefa.
No ano em que Frederico II subiu ao trono, declarava-se uma crise por causa da sucessão da coroa austríaca. Com a morte do imperador Carlos VI, a coroa foi para Maria Teresa, filha primogênita do rei, que tinha apenas 23 anos de idade. Imediatamente, Carlos Alberto, da Baviera, e Filipe V, rei da Espanha, apoiados pela França, reivindicaram a coroa, contestando a lei de Carlos VI que outorgava às mulheres o direito de sucessão.
Aproveitando-se da situação, Frederico II invadiu os domínios austríacos. Em duas campanhas, que levaram o nome de Guerras da Silésia ( de 1740 a 1742) e (de 1744 a 1745), conseguiu subtrair a Silésia aos Habsburgos. Mas a revanche viria, violenta, na chamada Guerra dos Sete Anos que durou de 1756 a 1763, onde os prussianos tiveram que enfrentar a Áustria, aliada a franceses, russos, poloneses, suecos e ainda a alguns Estados alemães.
O exército prussiano era forte e, depois de alguns reveses contra o forte inimigo, obteve uma série de vitórias. E ao ser assinado o Tratado de Hubertsburgo em 1743, a Prússia garantia para sia a posse da Silésia. Em 1772, Prússia, Rússia e Áustria fariam a primeira partilha da Polônia, com a qual Frederico, o Grande, anexou o Ermland e a Prússia Ocidental ou real. Assim, formou-se um Estado prussiano continental, que se estendia do rio Elba ao rio Niemen. Apenas pequenos territórios do ocidente continuavam separados.
No dia 17 de agosto de 1786, Sans-Souci, (Potsdam) palácio que o monarca prussiano fizera construir no melhor estilo francês, amanhece de luto. Frederico, o Grande, morrera. Agora a Prússia será governada sucessivamente por Frederico Guilherme II (1786 a 1797) e Frederico Guilherme II (1797 a 1840). Mas os Hohensollern continuam no poder; os territórios prussianos não param de crescer.
Rússia e Prússia, em 1793, Áustria, Rússia e Prússia, em 1795, fazem a segunda e a terceira partilha, dividindo entre si o que restara do território polonês depois de 1772. O território prussiano quadruplica com a incorporação da Posnânia, da Masóvia e de regiões orientais até Niemen. E a ascensão de Napoleão ao trono da França em 1840 aparecia como fato auspicioso para os Hohensollern; o imperador francês entregou a Frederico Guilherme II importantes regiões no centro da Alemanha.
Mas a formação da Confederação do Reno, união dos estados alemães aliados a Bonaparte, assustou o rei da Prússia, que se passou para o lado dos inimigos da França, estabelecendo com a Rússia uma aliança em 1806 (a chamada Quarta Coligação). As consequências foram desastrosas. Os franceses, no mesmo ano, invadiram Berlin e o Tratado de Tilsit (1807) acabou por retirar da Prússia a maior parte de seus territórios, além de impor pesada indenização de guerra e o acantonamento das tropas napoleônicas em solo prussiano.
Napoleão, mais tarde, é derrotado pelas potências européias que se lhe opunham e, pelo Congresso de Viena em 1815, a Prússia ficaria sem as possessões de leste obtidas pela terceira partilha da Polônia e sem a maior parte das anexadas na segunda partilha. Em compensação, recebe áreas consideráveis da Alemanha Ocidental. de Subsolo rico, esta regiões e mais a Silésia possibilitaram-lhe grande desenvolvimento industrial no século XIX. Rica, industrial e, ainda, militarmente forte, a Prússia pode realizar, em 1871, a unificação de toda a Alemanha, sob sua hegemonia.
PARA LER DESDE O INÍCIO
clique no link abaixo
Nenhum comentário:
Postar um comentário