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terça-feira, 14 de julho de 2020

OS PRIMÓRDIOS DA CIVILIZAÇÃO RUSSA E SUA HISTÓRIA

                       

               Os russos são um povo europeu de raça branca que se converteu ao cristianismo por volta do ano 1.000. No decorrer dos séculos foram muitas as contribuições da Rússia para a civilização. As escavações arqueológicas trouxeram à luz do dia em toda a planície sármata inúmeros objetos fabricados pelos habitantes primitivos no Paleolítico e no Neolítico, da Idade da Pedra, do Ferro e do Bronze, o que confirma a pática da criação de gado, do cultivo dos campos e de diversas atividades artesanais nessa época pré-histórica. 
               Esses criadores de gado e agricultores tornados sedentários criaram uma arte própria em que se conjugavam harmoniosamente formas animais e geométricas, inspiradas tanto no Oriente como nos gregos. Na arte dos citas, revelam-se o culto de uma deusa mãe e um conflito de forças obscuras; representam-se festas e cenas de guerra. Impressiona em especial a representação de pessoas que revelam uma semelhança espantosa com os habitantes da Rússia de um passado próximo: Os mesmos rostos bárbaros, o vestuário solto, mas preso com um cinto, e as calças largas que terminam em botas folgadas.
              A floresta, a estepe e os grandes rios navegáveis foram os elementos mais importantes do seu ambiente natural. Ainda hoje a paisagem da Rússia central é caracterizada por um vasto horizonte ladeado por florestas  azuladas. E do mesmo modo não se modificaram os vastos  campos e estepe do sul. Em nenhuma outra parte da Terra existe um país tão grande, tão uniforme, que pela sua simples ambiência tanto convide o o homem a um trabalho quase perpétuo. Todo o passado da Rússia, desde o início do cristianismo até hoje, é a história da exploração dos seus campos, dos Cárpatos ao oceano pacífico. 
             Muito além do Danúbio, além do Vístula, nas imensas planícies cobertas de florestas nas vastas estepes como o oceano, junto aos rios de lento e interminável curso, numa região sem limites, que o inverno sepulta sob um manto de nove e o verão faz resplender sob um glorioso fulgor de cores, viviam, outrora, homens de rosto selvagem e rudes costumes, nômades e rebeldes a qualquer espécie de autoridade. Citas e Sármatas, chamavam-nos os Gregos, que ele, os louros e bárbaros nórdicos, encontravam com espanto em suas migrações para o sul, na península de Querosolene, a quem hoje chamamos Crimeia. Lá floresceu, durante séculos, uma numerosa colônia  ateniense; naquela terra, e mais adiante, até o mar Cáspio e ao Cáucaso, avançaram as legiões romanas provenientes da Dácia, isto é da România.
                  Por volta do fim do século VIII a.C., aparecem nas estepes do sul da Rússia os citas de língua iraniana, que rapidamente suplantam seus antecessores cimérios e que, com a ajuda da sua invencível cavalaria, erigiram um reino poderoso. Heródoto deixou-nos um pitoresco relato dos seus costumes e usos, assim como da gloriosa resistência contra Dario, o rei dos Persas. Os arqueólogos desenterraram dos túmulos dos chefes citas, sepultados com suas mulheres e cortesões, inúmeros objetos que comprovam uma alta cultura. Os citas viviam como nômades ou agricultores, em harmonia com as colônias gregas que se haviam formado desde mo século VI em Olbia, Quersoneso, junto dos Bósforos e em outros lugares junto da margem norte do mar Negro. 
             Na Crimeia e em toda a Rússia meridional, até às margens do Cáspio, chegaram os legendários e os mercadores romanos; foram os primeiros contatos que a Europa teve com os povos selvagens das estepes asiáticas. 
                Hunos e Aváricos sucederam os italianos no domínio da região; no século VII, os eslavos, em seu grande ímpeto expansionista, ocuparam as imensas planícies  entre o  rio Volga (no planalto de Volgai) e o Vístula, indo misturar-se, ao norte, com os Fineses, dos quais assimilaram, em parte, os hábitos. E vemos, mais tarde, no século IX, aparecer , também nessa extrema ponta da terra da Europa, um povo muito nosso conhecido, o mais forte e genial da Idade Média, os Normandos. Em 862, o príncipe Rurik da Noruega teria fundado Novgorod, a primeira e mais importante cidade russa; o próprio nome Rússia derivaria justamente de Rurik e de seus descendentes. Colônias normandas foram, além de Novgorod, Rostov, Esmolensco, ou melhor, as únicas aglomerações humanas que então mereciam o nome de cidade. Kiev, situada na zona mais rica da Rússia, ao centro da fértil planura da Ucrânia, favorecida por clima mais suave e pela vizinhança com o vivíssimo mundo bizantino, conquistou logo uma posição de permanência. A própria Bizâncio, sob muitos aspectos, foi a matriz da civilização russa; de lá veio, entre outras coisas, o alfabeto cirílico, corrupção do alfabeto grego, que ainda é usado e que deve seu nome ao monge Cirilo, evangelizador dos Búlgaros. 
                  Mas quem são esses russos, esses fundadores de um grande império, que assimilaram de modo tão infeliz certos elementos de uma civilização primitiva? Uma vez que pertencem a um ramo oriental de raça eslava, devem ter ido para a Europa juntamente com os outros indo-germanos na época das migrações. Supõe-se que ocuparam inicialmente as vertentes norte dos Cárpatos e daí se expandiram pouco a pouco pelas planícies orientais, até o curso superior do Oka.  Depois de terem se deparado nas florestas virgens com tribos ugro-finesas, é provável que tenham se dirigido para o sul, uma região mais fértil, onde vieram a encontrar os citas. 
                   Em relação à formação do Estado russo, os escritos de alguns monges, cronistas ou historiadores da Idade Média firmaram durante muito tempo a convicção de que o ano de 862 correspondia à da fundação do Estado russo. Essa fundação era entendida com um ato criador ex nihulo - a formação espontânea de uma administração altamente organizada, de inspiração progressista, surgindo numa região habitada por tribos semi-selvagens. 
                  Segundo essa versão, uma comunidade eslava da região correspondente à atual de Novgórod ter-se-ia dirigido a um caudilho guerreiro varengo (isto é, escandinavo) chamado Rurik, para organizarem em comum a defesa dos seus domínios contra os povos vizinhos: "Venham e governem, a nossa terra é vata e fértil,mas falta-nos organização". Os descendentes do legendário príncipe Rurik  teriam seguido então para o sul, a fim dese estabelecerem  definitivamente  em Kiev, junto do rio Dniepr, e nessa região fundaram a capital de um grande reino. 
             Os largos rios da Rússia, que correm suavemente, não ameaçam a navegação nem com tempestades nem com rochedos perigosos; eles constituem vias de ligações naturais entre as povoações. O clima rigoroso,o longo inverno gelado e a luta contra a natureza determinaram certos traços do caráter russo: Uma coragem passiva,mas decidida, perseverança, considerável capacidade de resistência perante sofrimentos de toda a espécie, sentido prático, e uma certa melancolia. 
              Sabemos hoje que Kiev foi apenas uma etapa numa longa série de formações de estados no Sul da Rússia, e que já existiam relações entre os povos que viviam junto ao Dniepr e os habitantes das regiões do Danúbio, do sul latino, do norte germânico e do Império do Oriente, isso na época da fundação dos Estado Russo, ou mesmo anteriormente. 
             Tendo crescido em potência, os príncipes de Kiev ousaram desafiar o poderio de Bizâncio, mas a frota de Igor, que chegara até perto das muralhas de Constantinopla foi destruída pelo fogo grego, a famigerada arma criada pelos cientistas bizantinos em 941. Os descendentes dos Citas ainda não estavam em condições de enfrentar a culta e rica |Bizâncio, de onde chegara à Rússia o primeiro germe de civilização. 
                Ao nome do sucessor de Igor, Wladimir, cognominado, "o Grande", está ligado um fato capital da história russa: a conversão ao cristianismo. A Rússia adotou, a princípio, o rito grego, depois, definitivamente, o búlgaro-eslavo: o "metropolita", isto é, o bispo primaz da Rússia, dependia do patriarca de Constantinopla e permaneceu, a seguir, sempre separado do papado de Roma. 
       A Rússia apresentava, então, o aspecto de uma conglomeração de principados independentes, situação que foi uma das principais causas de muitos de seus males e que derivava do hábito dos soberanos bárbaros (essa mesma situação já aconteceu entre os Francos e os Germanos) de dividir o próprio território entre os filhos. Daqui, as lutas entre os herdeiros e sua substancial fraqueza ante os inimigos externos. 
             Em redor dos príncipes, vivia a grande nobreza dos campos, a classe dos Boiardos, senhora quase absoluta  de homens e bens; na cidade, dominavam os conselhos  de maiorais, que representavam a autoridade comunal. 
           Decaída no século XII, a autoridade de Kiev, afirmou-se a importância comercial de Novgorod, que permaneceu, depois, durante séculos, como o maior mercado russo, a cidade para onde afluíam mercadores de todas as raças, desde noruegueses aos tártaros. data deste tempo a primeira infiltração na Rússia de colonos germânicos que, embora hostilizados, conseguiram ali se instalar habilmente. 
               Pouco antes da nossa era, acelerou-se a migração de novas tribos para as estepes do sul da Rússia, e a mistura dos "bárbaros" na antiga região dos "citas" tornou-se cada vez mais complexa. Os getas, os iassenses, os roxolanos, os alanos, os bastarnas e os dácios substituem pouco a pouco os sármatas e formam entre o Dniepr e o Danúbio reinos extensos, mas pouco duradouros. Os romanos, por sua vez, irão alargar as suas fronteiras em direção ao oriente e ocupar a Dácia. 
           As grandes escavações recentemente efetuadas em várias regiões por arqueólogos soviéticos trouxeram à luz vastas informações muito exatas. Assim, sabemos da existência de uma arte florescente, nitidamente superior à arte contemporânea da Europa ocidental. Também foi descoberto  um grande número de aglomerados urbanos e indícios reveladores de uma estrutura social muito desenvolvida; ao lado dos campos de propriedade  comum existiam também as propriedades  privadas dos boiardos (influentes e abastados membros da sociedade em cujas sepulturas se encontram jóias e peças de ouro de fabrico local ou de origem oriental ou romana, o que prova a existência de desenvolvidas relações comerciais com essas longínquas paragens.
              A poligamia estava muito difundida, especialmente entre as classes superiores. Os povos que habitavam a norte de Kiev, o uso de "jogos demoníacos", no decurso dos quais uma mulher, após combinação prévia com o seu eleito, era raptada. Somente o povo dos polochanos, que habitavam a planície já desbravada ao redor de Kiev, abandonara tais costumes bárbaros; entre eles era hábito conduzir a noiva na véspera do casamento, numa solene procissão, para junto do noivo. 
                 Desde o século I a.C. os missionários gregos exerceram a sua atividade junto às tribos eslavas do antigo domínio romano junto ao Dniepr, assim como na Crimeia. Sabemos que em Bizâncio, em meados do século IX, foi nomeado um bispo cristão para os rhös do mar Negro. O Evangelho, traduzido para a língua eslava pelos santos irmãos Cirilo e Metódio, foi traduzido pelos búlgaros  para Kiev, onde substitui a tradução gótica de Vulfila. A princesa Olga, avó de Vladimir, bem como outras princesas russas, aceitaram o batismo. 
               Vencedor dos povos eslavos livres e das irrequietas tribos vizinhas, o príncipe Vladimir, um dos "santos"  da igreja russa ortodoxa, deve ter contribuído para essa evolução. Seu batismo em Kiev, realizado com grande pompa ocorreu em 989, após o casamento dom uma irmã do imperador de Bizâncio, representa, apesar de tudo, uma data importante na história do povo russo. 
                A  partir desse momento e durante séculos, vão constituir ligações íntimas e contínuas com o reino bizantino.
               No campo da arte, o povo russo revela uma capacidade receptora e um dote criador verdadeiramente dignos de admiração. Kiev se orgulha das treês cúpulas douradas da sua catedral, dedicada a Santa Sofia. 
               No governo do príncipe Iaroslav, sucessor de Vladimir, a capital, erguida sobre os rochedos do Dniper, ultrapassa em beleza a resistência dos primeiros Capetos da França. 
                A situação geográfica de Kiev, na encruzilhada das rotas comerciais que ligam desde as mais remotas eras a Europa e a Ásia, facilita o rápido desenvolvimento da troca de mercadorias. Essa evolução favorável permitia ao príncipe de Kiev manter relações em pé de igualdade com outras nações européias. Princesas russas tornam-se esposas  dos reis da Hugria, Noruega, Inglaterra, e uma será mulher do imperador alemão. Ana de Kiev, filha de Iaroslavi casou-se com Henrique Capeto, tornando -se rainha da França. 
               Na poca do início do domínio feudal ainda é considerável o número de camponeses livres (smerd).Mas o trabalho nas propriedades dos nobres é executado por homens dependentes, servos que provém das fileiras dos prisioneiros de guerra (kholop), ou camponeses que venderiam a sua liberdade pelo direito de cultivarem uma pequena parcela de terra. Mas os smerd livres, que pagam pesados tributos e dispõem de poucos animais de trabalho, vêem-se cada vez mais explorados à medida que as condições se modificam. É verdade que possuem terra para cultivar, mas tem de entregar um juro pré-capitalista sob forma de produtos agrários. 
              Em todos os centros surge uma cidade que fornece à região circundante os produtos dos artesãos, cada  vez mais especializados. Nas margens das grande vias surgem ricas cidades  como Novforod, Smolensk, Tchernikov. O seu número é tão grande que os escandinavos chamam a todo o país Gardaricyk (reino das cidades). Cada uma das cidades tornam-se o centro de um principado no qual os boiardos e os ricos mercadores formam a aristocracia. O artesanato floresce; segundo documentos da época, existiam mais de quarenta ofícios especializados, entre os quais os de oleiro, ferreiro, caldeireiro, armeiro, ourives e joalheiro, que produziam verdadeiras obras-primas. 
              Os principados menores também participam do comércio internacional, embora menos do que Kiev. Ocasionalmente vendem prisioneiros de guerra  como escravos, por vezes com as respectivas mulheres e filhos. No entanto, os principais objetos de troca comercial são as peles, o linho, a cera, o mel e certos produtos manufaturados, como finas cotas de malha. E compram-se artigos de luxo (panos, armas ricamente guarnecidas, objetos de culto, frutos meridionais) tudo para os senhores feudais, que, graças a uma balança comercial positiva, continuam a se enriquecer. 
              As grandes cidades russas, a maioria edificadas á margem de rios e rodeadas de fortes paliçadas de madeira, já nessa época oferecem um aspecto bastante imponente. No interior, erguem-se, ao lado de muitas casas de madeira, igreja de pedra, assim como as casas de pedra dos ricos, rodeadas de jardins e com telhados dourados, como os das igrejas.  A maioria das casas dos trabalhadores, com melhor renda, eram construídas perto das praças de mercado com madeira rústica (troncos de árvores). Por outro lado, nas regiões pobres em madeira, as paredes são construídas de argila, tipo pau-a-pic. 
                No início do século XIII, uma verdadeira catástrofe  histórica provoca a fim brusco do principado de Kiev e da sua promissora civilização. O feudalismo, que pouco a pouco se expandira, revelava uma característica desconhecida no Ocidente: todos os senhores feudais pertenciam a grande família dos Rurik. O príncipe Vladimir, que se considerava senhor de toda a Rússia, antes de morrer, dividira o país entre seus doze filhos, e ao primogênito, a quem os outros irmãos se mantinham subordinados, legara Kiev. A cada morte de um pequeno senhor, os parentes lançavam-se  em tremendas querelas sucessórias acerca da herança. Isso levava a lutas implacáveis. Um monarca posterior, Vladimir Monônaco, tentou em vão terminar com as querelas familiares mediante a fundação de um conselho de família, mas após a sua morte as inimizades renasceram. 
                  A tudo isso se acrescentou o perigo externo: na estepe, diante de Kiev, continuava a migração de povos. Os godos e magiares haviam encontrado uma pátria na planície do Danúbio e mais além; São Vladimir ocupara a região até o Volga e, nessas longínquas paragens da Rússia, submeteu o poderoso reino dos czares (que estranhamente haviam se convertido ao judaísmo), mas continuavam a rolar contra o Dniepr ondas de povos desconhecidos. As fortalezas de caráter primitivo erigidas ao longo da fronteira não conseguiam reter o avanço dos pechenegues e polovtsianos. Estes povos invadiram a região de Kiev, incendiaram as aldeias circundantes, roubaram o gado e raptaram mulheres e crianças. Os camponeses sobreviventes procuraram a sua salvação na fuga e se instalaram em regiões  menos expostas, a norte e oeste. Foi nessa época que a Rússia de Kiev começava a se despovoar e assim permaneceu durante os últimos anos do século XII. 


              Eis-nos, agora, diante de um novo e terrível acontecimento, que ameaçou por momentos não só a Rússia, mas a inteira civilização européia: a invasão dos Mongóis. 
               Descendo dos Urais, baixaram hordas de Mongóis, sob as ordens de Gengis Khan, conquistador da China e da Ásia central, fundador de um gigantesco reino cujas fronteiras se estendiam cada vez mais para o ocidente.  Os seus cavaleiros atingiram o mar Cáspio, venceram o Cáucaso e surgiram na planície russa.  Vinham dos desertos do Turquestão para assinalar sua passagem com horrendo sulco de sangue. Derrotando o exército dos príncipes russos, às margens do rio Kalka em 1223, eles avançaram qual um flagelo , destruindo estuprando e matando. Somente a morte de Gengis Khan poderia salvar a Rússia e a Europa. 
             A resistência oferecida ao redor de  Kiev pelos príncipes russos desavisados não foi suficientemente decidida. Apesar do apoio dsos seus antigos inimigos polovtsianos, foram totalmente derrotados em 1221 junto às margens do Kalka, ao norte do mar de Azov. 
             Após a morte de Gengis Khan em 1227, os seus herdeiros dividem entre si o imenso reino, e a parte ocidental  cabe ao seu filho Baty, que se dedica a novas expedições guerreiras. Conduzindo os exércitos para o norte, apoderam-se de Riazan e Vladimir, arrasa o principado de Susdal e para perto de Novgórod. No inverno seguinte, conquista Kiev, a Volínia, a Galícia, assom como parte da Polônia e da Hungria, até atingir a costa da Dalmácia, onde destrói Kotor e Dubrovnik. A morte do irmão mais velho e as disputas sucessórias obrigam-no a regressar à Ásia e a desistir da maioria das suas conquistas. 
              No decorrer dos dois séculos seguintes, a Rússia fica isolada em relação ao Ocidente. 
             Contudo, os suecos e os Cavaleiros Teutônicos, vizinhos ocidentais da Rússia, aproveitam-se da fraqueza do  país para tentar aumentar os domínios,  e obrigam o mais competente dos chefes russos dessa época, Alexandre Niévski, a empregar toda a sua energia para repelir os ataques. O próprio papa manda embaixadores falar com os senhores mongóis, que escravizavam a Rússia cristã. 
             A conquista de Kiev  dá origem a um horrendo banho de sangue, durante o qual os tártaros aniquilam praticamente toda a população. Em recentes escavações foram encontrados mais de 4.000 esqueletos numa vala comum da época. 
             Após a queda de Kiev, acelera-se a emigração russa. Muitos habitantes da região se refugiam nos Cárpatos ou na Galícia. Foi, então, que a miscigenação com a população polonesa dá origem ao povo da Ucrânia, e o grande principado da Lituânia estende o seu território por toda a margem direita do Dniepr. Outros russos instalam-se nos contrafortes sul dos Cárpatos e ficam sob o domínio dos húngaros. 
             Muito tempo antes da destruição, o centro do poderio russo havia se deslocado para o curso superior do Volga e do Oka. Esses descendentes da família  dos chefes haviam aí erigido os principados de Rostov, Vladimir e Susdal. Em 1169, o príncipe Andrei Bogoliubski entrega ao irmão0 a cidade de Kiev, que acabara de reconquistar, e muda a sua residência para Vladimir. Com esses acontecimentos, toda a nação russa modifica sua maneira de viver. Os próprios príncipes pouco mais são do que grandes lavradores, mais preocupados com o arrendamento das suas propriedades do que com querelas  relativas a heranças. 
               Mas os príncipes de Susdal são também vassalos dos tártaros. Tem de se deslocar às longínquas residências dos chefes mongóis para lhes demonstrar submissão. Estes exigem pesados tributos e obrigam por vezes os homens em idade de serviço militar a tomar parte nas suas expedições guerreiras. 
             Apesar dos raptos de um considerável número de mulheres e de alguns casamentos mistos, não surge uma raça mestiça de conquistadores e conquistados. o costume da segregação das mulheres que vai se alastrando entre a classe elevada russa, deve-se à influência oriental. 
             Os tártaros mongóis não eram selvagens, possuíam um Estado forte e um exército bem organizado. Mas a sua cultura era muito primitiva., não conheciam a civilização urbana e toda a sua economia se baseava exclusivamente na criação de gado. Eles conquistaram a Rússia, mas não lhes ofereceram nem a álgebra nem Aristóteles;portanto não tinha cultura desenvolvida. 
             O primeiro resultado da conquista da Rússia foi a decadência geral do artesanato, até aí florescente; certas profissões, como por exemplo, a do joalheiro de aldeia, despareceram totalmente. Outros artífices, como os fundidores, regridem a uma técnica mais primitiva; a arquitetura se desvia do tipo de construção tradicional. 
            A mudança da população para o norte, devido à incursão dos nômades, conduz a importantes modificações na estrutura social da nação. Nas regiões cobertas pela floresta, os príncipes asseguram para si enormes propriedades, cujas dimensões ultrapassam as de Kiev. Os nobres que se encontram a serviço dos príncipes seguem esse exemplo e se apossam igualmente de enormes territórios. A luta de classe torna-se aguda; muitos camponeses resistem às ordens de seus senhores e destroem o gado e as propriedades dos latifundiários; já os servos fogem para regiões desabitadas e surge então, pela primeira vez,  as ameaças de castigos para que não abandonem as propriedades. 
            Depois de Alexandre Niévski ter defendido Novgórod doa ataques dos suecos e dos Cavaleiros Teutônicos, a cidade começou rapidamente a se enriquecer e em breve surgiram muitos monumentos religiosos, mosteiros e igrejas, criando-se um estilo próprio, notável sobretudo pelos seus ícones e afrescos.  
               Apesar da infelicidade  da invasão mongol, a nação russa preservou a sua alma. O medo e o pânico provocados pela incursão dos nômades vão sendo esquecidos lentamente. 
                No século XII, quando Partis, Roma, Londres e Viena já eram grandes cidades florescentes, Moscou compunha-se de poucas cabanas no meio da vasta floresta russa. 
                Apesar das muitas catástrofes (incêndios destruidores e repetidos ataques por parte dos tártaros), a população de Moscou e arredores cresce rapidamente. Os camponeses sentem-se bem mais protegidos nesse forte domínio do que noutras regiões, o que leva os pequenos chefes vizinhos a se colocarem sob a proteção do príncipe, que procura erigir uma comunidade  de interesses a serviço da grandeza de Moscou. 

A expansão russa na Europa e Ásia
                   .
                  Depois de falarmos dos primórdios dessa civilização, passaremos a tratar da sua expansão na Europa e Ásia no período de 1462 a 1815. 
               Após a invasão mongol do século 13, as terras russas, antes parte da Rússia de Kiev, foram divididas. O leste ficou sob o domínio mongol, do qual o principado de Moscou se aproveitou para dominar os vizinhos e, finalmente livrar-se do jugo tártaro. O oeste foi absorvido pelo principado da Lituânia, que por fim juntou-se à Polônia. 
              O Estado criado pelos Grandes Príncipes de Moscou, no nordeste do território russo, conhecido como Moscóvia, expandiu-se por cerca de 350 anos, às custas da Suécia, Polônia e Lituânia a norte e oeste, dos tártaros e do Império Otomano ao sul e das tribos nômades do interior da Ásia a leste. 
         A Moscóvia estava isolada em 1462: quase todos os contatos com o Ocidente estavam cortados pela hostilidade de seus vizinhos, sendo impossível compartilhar os progressos da Europa. Não experimentou nem a Renascença nem a Reforma, embora influências culturais e artísticas tenham se infiltrado na Corte e na Igreja. O isolamento cresceu com  o aumento do cisma religioso entre cristãos orientais e ocidentais. Desde 1.54, a Igreja Ortodoxa russa tinha restrições ao catolicismo romano e, e, 1448, com a eleição de bispo próprio, separou-se de Constantinopla, que logo depois foi tomada pelos turcos otomanos.
                O crescente poder da Moscóvia manifestou-se na cruel anexação da cidade-república de Novgorod por Ivã II, em 1478, seguida da proclamação da independência do poder tártaro em 1840. No século 16, a República de Pskov foi anexada e a Moscóvia iniciou avanço para leste , com a conquista dos canatos de Kazan, em 1552, e Astrakhan, em 1556, o que permitiu o controle do baixo Volga e do mar  Cáspio. A Moscóvia não estava a salvo dos tártaros da Crimeia, que saquearam Moscou em 1571, e falhara na tentativa de estender seus domínios ao Báltico,nas guerras livonianas conduzidas por Ivã IV, o Terrível. Mas obteve êxito em outras áreas. O comércio lucrativo de peles, desde 1580, permitiu aos russos entrar na Sibéria; diversos fortes foram construídos (Tobolsk, Eniseisk, Yakutsk, Nerchinsk), estabelecendo o controle russo sobre o norte da Ásia e abrindo caminho para o comércio de seda com a China (comércio também desenvolvido com a Pérsia ao longo do Volga). Em fins do século XVI e no século XVII, a colonização russa se espalhou para o sul , perto do rio Oka, e os ucranianos migraram para leste, a partir da Polônia. Postos fronteiriços foram fixados, mais tarde transformando-se em cidades, como Orel, em 1564, Kursk e Voronej, em 1586. 
              Em 1613, após conflitos, que duraram de 1598 a 1613, que se seguiram à extinção  da antiga "casa real moscovita", Miguel, o primeiro da dinastia Romanov, foi eleito czar. Até o fim do século XVII, os moscovitas se dedicaram à conquista das terras perdidas para Lituânia, Suécia e Polônia e, apesare dos reveses, tiveram, entre 1640 e 1686, substanciais ganhos territoriais. Em 1648, os cossacos da Ucrânia levantaram-se contra a Polônia e declararam lealdade ao czar, inaugurando longo período de conflitos armados, em que Polônia, Rússia, Suécia e otomanos participaram até 1686, quando foi assinado tratado entre Rússia e Polônia confirmando a cessão de Kiev e das terras do médio Dnieper para a Rússia. 
              O isolamento ainda era o maior problema da Rússia. Havia potencial de comércio estrangeiro para os produtos florestais russos, mas as comunicações da Moscóvia com a Europa, por mar e terra, estavam bloqueados por suecos, poloneses e turcos hostis. Mercadores britânicos tinham aberto, através do mar Báltico, uma rota para Arkhangelsk (fundada por Ivã IV em 1584); mas, com condições climáticas desfavoráveis, a rota era navegável só no verão. 
                Tendo fracassado no avanço para o mar Negro, Pedro I, o Grande, após 1700, concentrou-se na obtenção de uma janela para o oeste. Após longa guerra, marcada pela vitória de Poltava em 1709, arrebatou Estônia e Livônia da Suécia pelo Tratado de Nystad, em 1721. Adquiriu o antigo porto de Riga e fundou o porto de São Petersburgo em 1703. O novo status da Rússia ficou claro à Europa quando o título de czar foi formalmente mudado para o de imperador, em 1721. 
               Os sucessores de Pedro retomaram sua política de expansão no mar Negro, bem sucedida no reinado de Catarina II, a Grande, na primeira entre 1768 a 1774 e na segunda entre  1787 a 1792, período das guerras turcas. O canato tártaro da Crimeia foi anexado e a Rússia passou a controlar a costa norte do mar Negro, desde o Dniester até o Cáucaso. Odessa, fundada em 1794, tornou-se o principal porto das exportações russas para o Mediterrâneo.
                  Entre 1772 e 1815, a fronteira terrestre  russa avançou de 900 Km dentro da Polônia. Com as partilhas ocorridas entre 1772 e 1793/95, a Rússia obteve boa parte de antigos territórios poloneses e lituanos e, após a queda de Grande Ducado de Varsóvia, constituído por Napoleão, o Congresso de Viena concordou em fazer do czar o soberano do reino polonês reconstituído. 


As guerras do século XVIII exigiram indústrias de armamentos e grande base de produção metalúrgica. Esta foi criada por Pedro I, principalmente nos Urais, onde havia jazidas de ferro e cobre e extensas florestas que permitiam a produção de carvão vegetal . Pedro I fundou fábricas, incentivou investimentos, encorajou negócios e estabeleceu um espécie de servidão industrial. 
          

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