Total de visualizações de página

quinta-feira, 30 de julho de 2020

CATARINA, A GRANDE E A EXPANSÃO DO IMPÉRIO RUSSO

           
          Catarina II, mais conhecida como Catarina, a Grande, nasceu em Stettin, na Prússia.  em 2 de maio de 1729 e faleceu em São Petersburgo na Rússia em 17 de novembro de 1796. Foi imperatriz da Rússia, reinou como Catarina II. Seu nome de batismo é Sofia Augusta de Anhalt-Zerbst.  Aos quinze anos foi levada à Rússia a convite da Imperatriz Elizabeth que logo demonstrou simpatia pela princesa alemã. Batizada na Igreja Ortodoxa de Moscou (28 de junho de 1744), recebeu o nome de Catarina Alexeievna e desposou o herdeiro eventual de Elizabeth, Grão-Duque Pedro (futuro Pedro III) no ano seguinte em São Petersburgo. Por cerca de 17 anos, o casal foi muito feliz, mas devido à expressiva inteligência de Catarina que nela via um meio para a realização de suas ambições. 
                   A meta de sempre foi chegar ao trono da Rússia. Historiadores acreditam que ela já pensava nele quando percorreu, de trenó, sob intenso frio, o vasto caminho desde sua cidade natal, na Pomerânia (atual Polônia), até a capital da Rússia. Tinha apenas quinze anos e ainda se chamava Sofia Augusta Frederica de Anhalt-Zerbst. Tudo indica que na viagem já sonhasse com o noivo que lhe fora designado: o Grão-Duque Pedro, sobrinho de Elizabeth, imperatriz da Rússia. 
Sabia que seu casamento era do agrado de seu rei e da czarina. Mas ambos tinham razões diversas: Frederico II da Prússia (sob cuja dependência estava então a Pomerânia) esperava estender seu domínio à Rússia, se lá contasse com o apoio da rainha; e esperava que Sofia Augusta fosse essa rainha. Quanto a Elizabeth, pensava poder manejar à sua vontade a recém-chegada, que afinal não passava de uma menina e não pertencia a uma família poderosa. Seu pai era apenas homem de confiança do rei da Prússia, ocupando o cargo de governador militar da cidade de Stettin. 
               Enquanto pensava em tudo isso, Sofia rumava para Moscou. Logo ao chegar, começou seu esforço para integrar-se à vida russa: aprendeu a língua, estudou a religião ortodoxa e em 1744 batizou-se segundo seus princípios recebendo o nome de Catarina Alexeievna. No ano seguinte, esposou o grão-duque. Se sonhava com o amor, desiludiu-se, pois Pedro lhe foi sempre indiferente; mas o trono não. E catarina pensava num jeito de apoderar-se dele. 
               Isto aconteceu com a morte de Elizabeth, em dezembro de 1761. Sucedeu ao trono o grão-duque, como Pedro II, homem fraco de físico e de espírito. Seu primeiro ato foi aliar-se a Frederico da Prússia. Catarina, alimentando o temores dos russos face à aliança, encorajou alguns generais a desalojar Pedro II e entregar o poder a ela. Mulher culta, vivaz e ambiciosa, apresentando-se como defensora da Ortodoxia e da glória russa e apoiada numa conspiração de cortesões, sob a liderança dos irmãos Orlov, impôs-se à sucessão de Pedro II, que foi destituído por um "pronunciamento" do regimento da guarda e posteriormente morto em 17 de julho de 1762. Os oficiais da Guarda, provenientes da nobreza latifundiária, impuseram sua pretendente. Catarina tornou-se imperatriz da Rússia. Mais tarde, Catarina II, a Grande.        
                Governou a Rússia com a mão férrea de uma déspota esclarecida, identificada com o povo russo, amiga e discípula dos Enciclopedistas franceses e desejosa de introduzir reformas. Internamente, reforçou os privilégios da nobreza sem mitigar as condições miseráveis do campesinato em estado de servidão. Externamente, desenvolveu uma política brilhante (partilhas da Polônia, guerra contra os turcos). 
                No século XVII, o absolutismo e seu princípio justificador, o direito divino dos reis (o monarca é onipotente por ser enviado de Deus), começavam a ser contestados pelas ideias liberais. Nas grandes nações européias - principalmente França e Inglaterra -, o liberalismo tinha a sustentá-lo uma nova classe: a burguesia, que não desejava ver sua ascensão barrada por um soberano tão poderoso. Na Inglaterra, a Revolução Gloriosa (1688 - 1689) estabelecera o primado burguês. Em 1789, a  Revolução Francesa varrera definitivamente o poder absoluta na França. Em outros países, o absolutismo, para sobreviver, mudou suas estratégias de poder: tornou-se "despotismo esclarecido". Assim aconteceu na Áustria de José II (1741 - 1790) e Maria teresa (1717 - 1788), e na Prússia de Frederico II (1712 - 1786). 
                Catarina também procurou adaptar-se aos ideais de seu tempo. Por isso, passou à história como a "déspota esclarecida". Costumava corresponder-se com Voltaire, o mais notável dos filósofos franceses, e também com Diderot, menos famoso, mas também muito importante. 
               Para mostrar-se esclarecida, era preciso reformar. E Catarina convocou um congresso de mais de seiscentos deputados, entre os quais havia representantes da nobreza, das cidades, e do campo. As discussões, orientadas por ela, deveriam chegar à elaboração de um programa para suprir as necessidades  das diversas regiões russas. Mas, após estarem reunidos por dois anos (1766 - 1768), os deputados se separaram sem nada terem feito. 
              Catarina resolveu agir sozinha. Logo após a dissolução desse congresso, publicou decreto no qual repartia o território russo em 44 províncias, subdivididas em distritos. Cada distrito passou a ter uma assembléia de nobres, que eram a classe proprietária de terras e a que gozava de maiores privilégios. 
              Os atos de Catarina, em benefício dos nobres, aumentaram o descontentamento dos camponeses. E estes, apoiados e liderados pelos "cossacos", uniram-se para a revolta. No início, enquanto avançavam pelo território  da Rússia em direção a Moscou, os revoltosos iam colecionando vitórias e aplausos. Mas, nas imediações da capital, foram massacrados pelos exércitos de Catarina; seu líder, o cossaco Pugachev, foi conduzido a Moscou  e ali decapitado em 1774. 
           Embora a rebelião fosse frustrada, a nobreza  sentiu-se ameaçada e reclamou garantias da czarina.  
                Seu apelo foi atendido. Em 1785, Catarina II promulgou a Carta da Nobreza abolindo os impostos dos nobres, que fora instituído por Pedro, o Grande em 1720; Concedu-lhes o direito de fundar manufaturas e de comerciar seus produtos dentro e fora da Rússia; apliou seus poderes sobre os servos e aumentou as obrigações destes. 
             Nesta época um general russo escreveu a catarina: "Não é Pugachev que tem importância, mas o desenvolvimento do povos". E para não provocar novas revoltas, Catarina tomou algumas medidas assistenciais. Construiu asilos, hospitais, hospícios, maternidades. Com isso, serenava os ânimos e garantia a sobrevivência de gente necessária para povoar as regiões desabitadas do Volga e da Ucrânia. 
             O clero também foi atingido pelos atos da czarina. Ela secularizou algumas propriedades eclesiásticas, em proveito do Estado, e tomou a seu cargo a manutenção de igrejas e conventos. 
             Seu governo não se limitou às fronteiras russas. Procurando uma saída para omar, catarina combateu a Finlândia em 1743, anexou uma parte do território filandês e conseguiu uma passagem para o mar Báltico. 
             Interferiu também na Polônia, enfraquecida com dissensões internas e abalada com a morte de seu rei, Augusto II. Aliada à Prússia, Catarina decidiu colocar no trono polonês um protegido seu, Estanislau Poniatowski em 1764. Uma vez instalado  da Polônia, Estanislau, influenciado pelas ideias  liberais francesas, tentou realizar uma série de reformas que restringiam o poder da nobreza. Rússia e Prússia protestaram. os poloneses acharam que a ocasião era adequada para recuperarem o governo de seu país. Os exércitos prussianos e russos invadiram a Polônia. Os austríacos, temerosos da expansão russa, e os turcos, estimulados pelos franceses, aliaram-se aos poloneses. A guerra perdurou até 1772, quando Catarina aceitou o plano de partilha da Polônia proposto do Frederico II; nesse acordo, a parte noroeste ficou para a Prússia; a Galícia, região sul-polonesa, passou para a Áustria; e a parte nordeste incorporou-se à Rússia. Mais tarde, foram feitas ainda duas partilhas da Polônia (1793 e 1795), o que permitiu à Rússia incorporar vastos territórios e estender sua influência na Europa central. 
             Ainda enquanto lutava contra a Polônia, Catarina moveu seus exércitos contra os turcos, em duas guerras que duraram quase vinte anos (de 1768 a 1774 e de 1775 a 1785). A Turquia foi vencida e teve de ceder à Rússia a costa setentrional do mar Negro e a península da Crimeia.
         Na vida privada, despertou grande curiosidade, através de uma literatura abundante, pela sucessão ininterrupta de seus amantes. Era uma autêntica predadora sexual. Não se pode negar que foi uma bizarra ascensão de uma princesa prussiana alçada ao trono de um país estrangeiro que governou com sabedoria. Era inteligente e charmosa com olhos azuis faiscantes. Coroada, soube caçar adversários e conquistar vastos territórios sem abdicar do desejo sexual. 
            Ter amantes era uma prática comum na corte imperial russa de Catarina - a ninfomaníaca. Aos 23 anos, depois de oito sem dividir a cama com seu marido, Pedro II, ela conheceu os prazeres da carne com o jovem Sergei Saltikov. "Ele era lindo como o dia", escreveu Catarina em suas memórias, dando a entender que ele era o verdadeiro pai de seu filho, Paulo I. Contudo, Saltikov  se cansou da imperadora autoritária, mas logo vieram muitos outros candidatos a amantes.  
           Numa ocasião ela confessou em seu diário: "Minha desgraça é que meu coração não pode se contentar nem uma hora se não tem amor". 
             Estanislau Poniatowski, um jovem de 23 anos, enviado pelo embaixador inglês, foi o gostoso brinquedinho de Catarina, que passou a gastar fortunas com seus amantes. De todos, o mais poderoso foi o tenente Grigori Potiomkin. Ele influía nas decisões da czarina, e talvez tenha sido o único que realmente amou. Vivia no palácio e, assim, só precisava dar alguns passos, subir uma escada e já estava no aposento real do pecado. Sempre que ia encontrá-la já chegava desnudo por baixo da roupa principal. Quando o sexo esfriou entre eles, Potiomkim passou a ser o  encarregado de selecionar os novos amantes. Era importante saber sobre a perfeita saúde do candidato, além de ser "bem dotado" e discreto. Ser favorito da czarina era uma verdadeira profissão. Os eleitos recebiam salário, e quando deixava de agradar recebia indenização com terras, rublos e servos. Em seguida, um novo favorito era escolhido por Potiomkin. Os novos candidatos eram examinados por um médico e depois submetido a uma prova íntima com uma condessa, sua dama de companhia; essa condessa fora premiada pela czarina como L'éprouveuse,  "testadora de capacidade masculina". Todo o amante potencial deveria passar uma noite com Bruce antes de ser admitido nos aposentos da czarina; só então esta  passava o relatório a Catarina que tomava a decisão sobre quem fora escolhido.  
                 Catarina já tinha 60 anos quando seu amante Alexamder Mamonov fugiu com uma dama de honra de 16 anos. Para vingar-se, a czarina enviou policiais disfarçados de mulheres que chicotearam-na na presença de seu marido. No entanto não há confirmação confiável sobre a veracidade dessa história. 
            Segundo alguns autores, Catarina teve dois filhos com favorito Grígori Orlov. Com ele viveu entre 1762 e 1772.
        O caso "secreto" e também mais duradouro se deu  com Grigóri Potemkin (1739 - 1791), gigantesco oficial que ela promoveu a príncipe, general e estadista. Parceria sexual e administrativa de 18 anos, até a morte dele, fez de Potemkin um "marido secreto". Eles se conheceram no dia da coroação dela, em 1762, e viraram amantes só doze anos depois. A relação, aberta, durou  ate a morte dele. O arranjo lhes permitiu enfileirar parceiros. Ela o chamava de "Galo Dourado"; ele, de "Matuchka" (Mamãe). Ele nunca se incomodou com os outros casos dela e também seduziu beldades nobres e plebeias, inclusive jovens sobrinhas.  Ela não se reprimia. Quando morreu, seu jovem amante Alexandre Lanskoi, chorou no ombro de Petemkin. 
               Ela, ao falecer em (1796, achava-se amedrontada pelas repercussões da Revolução Francesa. Temia que o mesmo acontecesse na Rússia.
.
           Quarenta sonos depois do congresso de Viena, a Rússia seguia sendo a maior potência militar da Europa e usou o seu poder para manter a ordem estabelecida em 1815. Nisso foi apoiada pela Áustria me a Prússia, enquanto a Grã-Bretanha  e a França se separaram dos princípios  que inspiraram o Congresso. A opinião pública britânica repelia o absolutismo e a repressão  que caracterizavam o regime russo, ao passo que da França emanavam impulsos revolucionários que continham uma ameaça para todas as monarquias. 
Depois de 1815, a Rússia transladou seu interesse aos Bálcãs e aos estreitos que uniam o Mar Negro ao Mediterrâneo. Os súditos turcos dos países balcânicos eram em sua maioria eslavos e ortodoxos, de maneira que os russos se consideravam seus protetores naturais. Como a Turquia se interpunha longitudinalmente entre a Rússia e o Mediterrâneo, os russo necessitavam estabeleceu seu predomínio sobre Constantinopla. Entretanto, a França, a Áustria e a Prússia também tinham ambições imperialistas nos Bálcãs e no Mediterrâneo Oriental, enquanto a Grã-Bretanha, que se opunha a qualquer expansão da Rússia, considerava indispensável que a Turquia mantivesse sua independência. Em 1841, uma Convenção Internacional sobre os Estreitos proibiu definitivamente a passagem de navios de guerra russo pelo Bósforo. Em 1853, a Rússia invadiu as províncias turcas do Danúbio e tomou o controle de Mar Negro, destruindo e afundando a esquadra turca. Em 1854, a Grã-Bretanha e a França declararam guerra aos russos, enquanto a Áustria  insistia na retirada das tropas russas para substituí-las pelas suas. A Grã-Bretanha e a França invadiram, então, a Criméia, e os russos, não podendo desalojá-los, tiveram de aceitar as humilhantes condições do Tratado de Paz de Paris, em 1856, comprometendo-se a não manter unidades navais no Mar Negro, nem bases em suas costas.
               Na década de 1870, a insurreição espontânea dos eslavos nos Bálcãs e a feroz repressão turca deram lugar a outra invasão russa na região (1877), mas, frente à oposição unânime das grandes potências, a Rússia se viu obrigada, uma vez mais, a ceder no Congresso de Berlim (1878). A Rússia, que havia travado com enormes gastos uma guerra que seu povo considerava absolutamente justa e libertado seus vizinhos eslavos e seus correligionários de uma terrível opressão, ficou de lado a contemplar a Áustria recolher os frutos da vitória ou, o que é pior, como estes eram devolvidos à Turquia. 
             Entretanto a Rússia conquistou todo o norte da Ásia, até as grandes cadeias montanhosas que a separavam da Pérsia, Afeganistão, Índia e China e inclusive mais além.Para poder dominar militarmente os nômades do Cazaquistão a leste do Mar Cáspio, teve de construir grandes fortificações, começando por Akmolinsk ao norte, em 1830, e concluindo com a fundação de Verny (atualmente Alma-Ata) em 1854. Entre os anos 1857 e 1864, a Rússia completou a conquista do Cáucaso e os exércitos que ficaram livres foram utilizados para dominar a Ásia Central. Aí, submeteram um após o outro os canatos usbeques de Kokand, Bukhara e Khivia, os nômades turcos e os montanheses de Tajik e Kirghiz. 
            No fianl do século XVIII, a colonização russa se estendeu até o Alasca e, no início do século XIX, foram construídas fortificações que chegaram tão ao sul coimo o Forte Ross, na Califórnia (1812). Contudo, esta última incursão foi de curta duração. Em compensação, o Alasca esteve em poder da Rússia até 1867, ano em que foi vendido para os Estados Unidos. 
          No extremo Oriente, graças aos Tratados de Aigun (1858) e de Pequim (1860), a Rússia estendeu suas fronteiras até o Rio Amur, pelo sul, e mais além de Vladivostok (fundada em 1860) na região costeira; além disso, adquiriu do Japão a parte austral de Sacalina em troca das ilhas Curilas. No ano de 1891 começou a construir a ferrovia transiberiana, mas o norte da Manchúria era um obstáculo para a rota direta a Vladivostok. Em 1896, a China cedeu à Rússia uma faixa de terra para que a ferrovia pudesse cruzar a Manchúria e, dois anos mais tarde, alugou Port Arthur, no Mar Amarelo, entregando à Rússia, desta maneira, um porto de águas temperadas  que não era afetado pelos gelos invernais. 
            Todos estes avanços eram contrários aos interesses  do Japão. Animado pela aliança nipo-britânica, o Japão começou as hostilidades em 1904. A Rússia, que estava em desvantagem porque tinha de lutar muito longe de seus principais centros industriais e urbanos, viu-se obrigada a renunciar, pelo Tratado de Postsmouth (1905), às concessões que obteve, de abandonar a Manchúria e de devolver o sul da Sacalina ao Japão, 

PARA LER DESDE O INÍCIO
clique no link abaixo 
           

domingo, 19 de julho de 2020

VIDRO - A DESCOBERTA E SUA IMPORTÂNCIA PARA A HUMANIDADE

.


                A história do vidro está mais do que nunca mergulhada na distante lenda e sua fabricação se encontra repleta de dificuldades e estudos infatigáveis.
               Os povos que disputam a primazia da invenção do vidro são os Fenícios e os Egípcios. Os Fenícios contam que, ao voltarem à pátria, do Egito, pararam em Sidon. Chegados às margens do rio Belus, pousaram os sacos que traziam às costas, que estavam cheios de natrão. O natrão era carbonato de sódio natural, que eles usavam para tingir lã. Acenderam o fogo com a lenha, e empregaram os pedaços mais grossos de natrão para neles apoiar os vasos onde deviam cozer os animais caçados. Depois, comeram e deitaram-se; adormeceram e deixaram o fogo aceso. Quando despertaram, ao amanhecer, em lugar de pedras de natrão encontraram blocos brilhantes e transparentes, que pareciam enormes pedras preciosas. 
            Os fenícios caíram de joelhos, acreditando que, durante a noite, algum gênio desconhecido realizara aquele milagre, mas o sábio Zelu, chefe da caravana, percebeu que, sob os blocos de natrão, também a areia desparecera. Os fogos foram, então, reacesos e, durante a tarde, uma esteira de líquido rubro e fumegante escorreu das cinzas. Antes que a areia incandescente se solidificasse, Zelu plasmou, com uma faca, aquele líquido e com ele formou uma ampola tão maravilhosa que arrancou gritos de espanto dos mercadores fenícios. O vidro estava descoberto!

             Esta é a versão, um tanto lendária, que nos transmitiram as narrativas de Plínio (historiador romano). mas, notícias mais verossímeis sobre o conhecimento do vidro surgiram lá pelo ano 4.000 a.C., após descobertas feitas em túmulos daquela época. Entre os tesouros de inestimável valor, que eram postos ao lado das múmias dos faraós e dos grandes sacerdotes, foram encontradas, também, pérolas de vidro de muitas cores, magnificamente trabalhadas,que até imitavam pedras verdadeiras. Julga-se entretanto que os egípcios principiaram a soprar o vidro em 1.400 a.C., dedicando-se, acima de tudo, à produção de pequenos objetos artísticos e decorativos, adquirindo, na sua elaboração, uma aperfeiçoada tecnologia de cores, como foi apurado ante as amostras descobertas nos túmulos de tel-El-Amana. Os Egípcios e os fenícios, tornados mestres consumados e competindo entre si na produção e comércio das vidraçarias, absorveram os mercados então conhecidos e forneceram aos poderosos reis e graciosas princesas colares e adornos que nada tinham a invejar, dada sua perfeição e luminosidade, às pedras preciosas. 
               Acredito que as duas versões podem ser verdadeiras, pois as grandes descobertas da humanidade aconteceram, muitas vezes por puro acaso. 
             O Império Romano, naquele tempo, principiava a expandir com aquela marcha possante de exércitos que ninguém conseguia obstacular e, após sujeitar também o Egito, reduzindo-o a uma província de Roma, fez-se pagar uma grande parte de tributos em objetos de vidro e em mão de obra, transferindo os melhores mestres vidreiros para a Itália (Roma). 
           O gosto pelo belo e pelo requintado começou a espalhar-se também nas severas casas romanas, e os patrícios competiam entre si, para revestirem paredes com chapas resplandescentes. Parece estranho que, mesmo usando o vidro para múltiplas finalidades, não tivessem compreendido a utilidade de aplicá-lo nas janelas, que permaneceram, mesmo nas mansões mais luxuosas, simples buracos com chapas fixas de vidro, ou amplas aberturas, que se fechavam com persianas inteiriças de madeira. O uso de janelas de vidro surgiu no fim do século I. 
             A estrada triunfal do vidro, considerando unicamente artigo de luxo, continuava, levado pelos Romanos, á medida que ocpupavam novas terras. Gália, Espanha, Reno, Portugal, Bretanha, floresceram de indústrias, mas, com a queda do império romano ocidental, no século IV, o preparo do vidro transferiu-se para o Oriente, especialmente perto do porto de Bizâncio (ultima cidade romana que se manteve por longos séculos, depois da queda do império ocidental); esta manteve-se até aos albores da Idade Média e mais além. A Síria consolidou sempre mais o rendoso comércio e é bastante provável que os venezianos, geniais e intrépidos navegantes que eram, tivessem aprendido dos sírios o segredo do difícil e preciosos preparo do vidro. A primeira indústria de Veneza nasceu no século V e teve seu maior esplendor no século XIV. Pelos fins do século XIII, o Conselho dos Dez ordenou que as fábricas fossem relegadas à ilha de Murano, a fim de evitar que os segredos da fabricação fossem divulgados. A profissão de oficial vidreiro, transmitida de pai a filho, tornou-se um título honorífico e assumiu força de celebridade, quando um veneziano inventou o sistema de fabricação de espelhos, lá pelo ano de 1317.
               Mas os países nórdicos não permaneceram indiferentes a esta nova indústria, tão rica, e um emissário do rei de da França, pagando regiamente a um mestre vidreiro, conseguiu descobrir os processos de fabricação. Da França, à Alemanha, à Boêmia, o segredo foi-se expandindo e surgiram novas e poderosas indústrias em concorrência com Murano, cuja decadência coincide com o início da nova era histórica. 
                 O vidro não ficou sendo unicamente uma prerrogativa dos ricos,pois, quando, no ano de 1876, o americano Weber inventou uma máquina para produção semi-automática das garrafas, todas as famílias puderam ter, para uso doméstico, vários objetos de vidro. 
               Hoje o vidro é produzido em larga escala pelo mundo todo. Continuamente novas máquinas são inventadas e, assim, a produção aumenta, possibilitando um menor custo e massificação do produto. 
  

PARA LER DESDE O INÍCIO 
clique no link abaixo 




quinta-feira, 16 de julho de 2020

ETRÚRIA - HISTÓRIA DOS ETRUSCOS

                   O nome Etrúria evoca silenciosas paisagens, com ciprestes perfilados, arcos antigos, abertos sob o límpido céu da Toscana, rosto cor ocre, de homens rígidos envoltos em sua toga pretexta, que olham para nós, do alto dos afrescos sepulcrais, mistério de lápides de grafite ou indecifráveis caracteres.  
                Todo o mundo Etrusco parece caracterizado por estes contrastes de luz e sombra; os Etruscos viveram, durante milhares de anos, no solo italiano, embora ninguém saiba de onde vieram; existem sobre eles milhares de documentos claríssimos, pelo menos na aparência, entretanto, ninguém lhes conhece o idioma, que continua sendo um enigma. Há mais de uma centena de anos, as escavações arqueológicas os museus com preciosos elementos, mas sobre a vida desse povo, de seus remotos ancestrais, pouco sabem os italianos, isto é, sabem apenas tudo aquilo que pode ser classificado e reconstituído, pelos objetos de uso, por uma série de afrescos e baixos-relevos; um panorama de figuras e de edifícios, ao qual falta, para torná-lo vivo e atual, a voz do historiador ou do poeta. Algo da língua etrusca ainda se sabe: os caracteres inteligíveis, algumas centenas de palavras  transmitidas pelos autores latinos ou decifradas por analogia com os antigos dialetos itálicos, são conhecidos, mas ninguém ainda está em condições de ler um documento etrusco com a mesma facilidade com que se decifra um papiro egípcio. De resto, já à época da última república romana, quase ninguém estava em condições de compreender o significado das fórmulas rituais etruscas, que os sacerdotes pronunciavam. 

                  As hipóteses quanto às origens desse povo, que aparentemente são encontradas na Itália já adulta e civilizada, são diversas e contraditórias. Heródoto, que viveu no século V a.C., já devia recorrer a funambulismos de erudito para justificar sua teoria, segundo a qual os Tirrenos (assim os Gregos chamavam os Etruscos), provinham da Ásia Menor ou mais exatamente, da Lídia; dessa mesma opinião, partilhava Helânico, que deles falava como sucessores do mítico povo Pelágico; quatro séculos mais tarde, Dionísio da cidade de Halicarnasso assegurava que os etruscos eram um povo autóctone da península italiana. Podemos acrescentar que uma passagem de Lívio poderia fazer pensar numa origem norte-oriental do povo etrusco, testemunhada, ao tempo do historiador latino, por uma sobrevivência da língua etrusca nos Alpes Réticos. Hoje, as opiniões não estão muito mais esclarecidas. O certo é que, durante os séculos IX e VII a.C., encontravam-se os Etruscos em pleno poder, em toda a Itália central, da Romanha ao Lázio, o que nos faz pensar numa civilização ainda mais antiga, caso não queiramos admitir a evolução etrusca daquela terra maricola e vilanoviana. Doze cidades, no período de máximo esplendor, pontificavam na federação etrusca: Vulci, Vetulonia, Tarquínia Cerveteri, Arezzo, Chiusi, Volterra, Cortona, Perúsia, Volsini, Veio e Populônia. Como vemos, tofdas estas cidades existem ainda hoje, orgulhosas de suas muralhas trimilenárias. Etruscas eram, também, as cidades transapeninas, Bolonha, Marzabotto, Ravena Cesena, Ádria, Spina, Mãntua; o domínio etrusco abarcava, no sexto século, quase toda a Itália setentrional, todo o centro da península, avançando até à Campânia, isto é, ate os limites da influência grega. Tratava-se, porém, de um domínio mais cultural e comercial do que militar, pois os Etruscos, pelo menos na época histórica, parece que não eram grandes soldados. Tanto isto é verdade que sucumbiram facilmente, no norte, ante as invasões dos Galos, que acabaram por arrebatar-lhes todas as suas posses além dos Apeninos, e , no  sul, ante aqueles belicosos camponeses do Lásio, que de Roma Partiram para a conquista do resto da Itália. Mas seus comerciantes mantinham relações com os povos transalpinos, provavelmente com todos os portos do Mediterrâneo e até com a própria Inglaterra meridional; sua frota dominava, incontestada, o alto e o baixo Tirreeno, o mar que conservou seu nome. 
                Roma, como afirmam a tradição e uma quantidade de testemunhos evidentíssimos, foi, durante certo tempo, uma cidade etrusca; etruscos foram os três últimos reis,Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio (a quem os etruscos chamavam de Mastarna); um afresco, em Vulci, mostra o herói Caile Vipinas, provavelmente o romano Célio Vipena, no ato de liberar Mastarna das cordas que o prendiam) e Tarquínio, "o Soberbo", sob cujo dom´nios os Romanos assumiram costumes e leis etruscas, transformando-se de uma insignificante aldeia numa poderosa cidade fortificada . 

                Através dos afrescos encontrados, podemos reconstituir a alegre e rica vida desses toscanos de há vinte e cinco séculos, seus banquetes animados pelo som dos instrumentos a plectro e das tíbias, suas festas e suas suntuosas cerimônias; para sorte nossa, seu culto pelos mortos era tão pronunciado e importante que os Etruscos faziam de seus sepulcros, tal como os Egípcios, uma especie de documentário de todo seu mundo.  Não há nada, nessa sua piedade para com os mortos, da nossa austeridade cristã; esculpido no tufo amarelado ou na azulada pedra arenácea, o morto patrício jaz estendido no leito do triclínio, brindado aos deuses com a última taça de vinho, com a cabeça e o peito ornamentados de coroas de flores; a gordura do corpo, o rosto maciço e carnudo, revelam-nos o homem vivido na fartura de uma vida despreocupada, sem pensamentos voltados para o além. 

                  Em seu redor, vasos de cerâmica, com esplêndidos desenhos, taças de ouro e prata, estatuetas votivas, ânfora e jarras de barro vermelho, modeladas com uma liberdade que em vão se procura nos melhores exemplares gregos. Já se procurou ver, em toda a produção artística etrusca, um simples reflexo da grande arte helênica; na realidade, a diferença entre a singela pureza de linhas que os Gregos sabiam imprimir mesmo nos mais humildes objetos e o estilo pomposo, humaníssimo e marcadamente italiano dos produtos etruscos, salta aos olhos  de qualquer pessoa. Em toda a vida etrusca se reflete essa tendência a reduzir aqueles elementos que os Gregos e os Orientais haviam espiritualizados ou divinizado, em t~ermos humanos, tangíveis; assim como suas vestes são mais ricas em cores e linha mais requintada, suas jóias são maciças, repletas de pesados relevos. Não sabemos, certamente, muito de sua vida intelectual, mas é bem provável que o engenho etrusco se voltasse mais para a aquisição de bens tangíveis do que a especulações filosóficas. 
              Sua própria religião, toda feita de práticas mágicas, de sombrias lendas e de misteriosos rituais, não trazia consigo nenhum vestígio de real espiritualidade; era eminentemente politeísta; tinham um verdadeiro panteão de deuses com forte influência da mitologia grega. As três divindades etruscas mais importantes era Uni, Tinia e Menrva.
              Denominados "Tirrenos!" pelos Gregos e "Túcios"pelos Romanos, os Etruscos habitavam, portanto, a parte da Itália Central compreendida entre as costas do Tirreno e os vales do Tibre e do Arno. Daqui, estenderam sua influência e seu domínio até às costas da Ligúria, á planície Padana, à Umbria, ao Lácio, à Córsega e atér a Campânia. A evolução social e civil, a proeminência política, econômica e cultural deste povo tiveram uma notável influ~encia sobre a Península do VII ao VII séculos a.C. No Lácio, o domínio dos Etruscos cessou ao fim do século VI, em seguida à derrota sofrida em Arícia por parte dos romanos. 
                  O Etruscos falavam um idioma diferente dos dialetos italianos; sua estirpe remonta à era das populações mediterrâneas pré-históricas, e desde os tempos mais remotos tiveram notável desenvolvimento, tanto espiritual como religioso.
               Contraposta à serena religião grega, a religião etrusca revela um caráter muito primitivo, por vezes hórrido, como se pode verificar em algumas pinturas sepulcrais. 
          O gosto pela magia e a preocupação com a vida futura já seriam mais do que suficientes para dar à religião etrusca o caráter sombrio que deixou sua marca em todos os rituais e monumentos da Etrúria.
              Todavia, até hoje não tem sido possível resumir, com sistemática precisão, todos os aspectos da religião etrusca e isso pela incerteza  das origens e pela dificuldade de se distinguirem as fontes literárias e arqueológicas genuinamente etrusca daquelas que, ao invés, são consideradas como contribuição de origem estrangeira. Além disso, a incerteza no decifrar algumas particularidades da língua é outro obstáculo de não ligeira importância acerca dos estudos de etruscologia. A enigmática religião dos Toscanos suscita tantas apaixonadas controvérsias, tantas hipóteses como as origens desso povo secreto. Tudo o que sabemos deles foi derivado das pesquisas arqueológicas e dos escritos dos autores clássicos. 
                   Segundo a mitologia etrusca, os deuses tinham uma hierarquia especial, ao cume da qual havia a trindade Tinia - Uni - Menrva. Algumas divindades, mesmo tendo um nome indígena, correspondem àqueles do panteão romano: Tínia (jeová), Uni (Juno), Menrva (Minerva), etc. Em outras, porém, sua correspondência falta de todos. Assim encontramos Usil (o deus Sol), Cilens e Tecum. 
                  Entre outras divindades em relação com o além-túmulo etrusco, encontram-se "Charun" e "Tuchulcha"Charun é afim do Caronte grego, mas entre os Etruscos, cabe-lhe a tarefa confiada às parcas na mitologia grega, pois é, de fato, o senhor da vida dos homens. Quando acha conveniente,pode por fim à existência de qualquer um, com um simples golpe do seu malho. Com ele etá Tuchulcha, dotado de duas grandes asas, com a cabeça e os braços cingidos de serpentes. Ao lado da ideia da morte, pelo seu caráter guerreiro, se encontram mais dois deuses : Leta e lar. Entre as divindades femininas infernais  temos Vanth, divindade benéfica, que recebe as almas; Celsu, Parca, dotada de um par de tesouras. Um lugar especial entre os deuses etruscos cabe a "Voltumna", que, segundo o escritor Verrão, corresponde a Vertumnus, máxima e antiga divindade etrusca, venerada em um santuário da Etrúria meridional, indicada sob o nome de Veltume. 
                Mais tarde, foram recebidas algumas divindades  do Olimpo grego: (Aplu (Apolo), Artume (Ártemis) Hercle ( Hércules) etc. 
              Os etruscos preocupavam-se, de maneira especial, em estudar os sinais exteriores da vontade dos deuses. A interpretação de tal vontade impeliu-os à prática de atos divinatórios, segundo sistema de origem antiquíssimo e consiste em interpretar os fenômenos naturais (terremotos e cometas), o voo dos pássaros, os nascimentos monstruosos etc. 
                Os atos do culto público eram estabelecidos pelos "libvris ritualis" (subdivididos em três partes: Livros rituais, livros fatais e livros aquerônticos) e pelo calendário lunar religioso. Estes livros, ainda, continham algumas normas, que se deviam seguir na fundação de alguma cidade, nos regulamentos sociais e militares e para consagrar um templo ou uma ara. 
                   Nos templos eram colocados sacerdotes recrutados entre os pertencentes a famílias nobres. Esse sacerdócio, hierarquicamente organizado, era dividido em três categorias, por vezes em colégios, e tinham á sua frente um "sumo-sacerdote". Grande era sua importância política, porquanto somente os sacerdotes sabiam interpretar os sinais do céu.  
             As celebrações do culto consistiam em preces, em oferendas incruentas e em sacrifícios cruentos. 
               Nos funerais eram colocados móveis, tapetes, víveres, porque, segundo a concepção religiosa etrusca, o defunto continuava, mesmo no Além, sua vida terrena. 
             Eram, em fim, homens que se salientavam principalmente por aquela sabedoria de vida que tornara famosos seus espetáculos, seus banquetes, seu artesanato; hábeis e arrojados comerciantes, pouco inclinados a sofrer os riscos e os aborrecimentos do serviço militar, decididos a gozar na terra tudo quanto a vida pode oferecer de bom, sem importar-se muito com o dia de amanhã. A verdade é que boa parte de sua sólida técnica legislativa militar e construtiva os Romanos herdaram dos Etruscos. 
             Povo, portanto, rico de vida e poder criador, capaz de exprimir obras primas de arte e de instalar sólidas empresas comerciais; arquitetos que sabiam construir edifícios tais que poderiam suportar mais de trinta séculos de assaltos e de intempéries; sábios que perscrutavam o futuro no fígado dos ovinos ou no  voo dos pássaros; requintados cultores da serenidade de convivência, musicistas, atores, homens hábeis ante qualquer manifestação de vida, que tornaram a Itália digna êmula da gloriosa Grécia.


PARA LER DESDE O INÍCIO 
clique no link abaixo
             



terça-feira, 14 de julho de 2020

OS PRIMÓRDIOS DA CIVILIZAÇÃO RUSSA E SUA HISTÓRIA

                       

               Os russos são um povo europeu de raça branca que se converteu ao cristianismo por volta do ano 1.000. No decorrer dos séculos foram muitas as contribuições da Rússia para a civilização. As escavações arqueológicas trouxeram à luz do dia em toda a planície sármata inúmeros objetos fabricados pelos habitantes primitivos no Paleolítico e no Neolítico, da Idade da Pedra, do Ferro e do Bronze, o que confirma a pática da criação de gado, do cultivo dos campos e de diversas atividades artesanais nessa época pré-histórica. 
               Esses criadores de gado e agricultores tornados sedentários criaram uma arte própria em que se conjugavam harmoniosamente formas animais e geométricas, inspiradas tanto no Oriente como nos gregos. Na arte dos citas, revelam-se o culto de uma deusa mãe e um conflito de forças obscuras; representam-se festas e cenas de guerra. Impressiona em especial a representação de pessoas que revelam uma semelhança espantosa com os habitantes da Rússia de um passado próximo: Os mesmos rostos bárbaros, o vestuário solto, mas preso com um cinto, e as calças largas que terminam em botas folgadas.
              A floresta, a estepe e os grandes rios navegáveis foram os elementos mais importantes do seu ambiente natural. Ainda hoje a paisagem da Rússia central é caracterizada por um vasto horizonte ladeado por florestas  azuladas. E do mesmo modo não se modificaram os vastos  campos e estepe do sul. Em nenhuma outra parte da Terra existe um país tão grande, tão uniforme, que pela sua simples ambiência tanto convide o o homem a um trabalho quase perpétuo. Todo o passado da Rússia, desde o início do cristianismo até hoje, é a história da exploração dos seus campos, dos Cárpatos ao oceano pacífico. 
             Muito além do Danúbio, além do Vístula, nas imensas planícies cobertas de florestas nas vastas estepes como o oceano, junto aos rios de lento e interminável curso, numa região sem limites, que o inverno sepulta sob um manto de nove e o verão faz resplender sob um glorioso fulgor de cores, viviam, outrora, homens de rosto selvagem e rudes costumes, nômades e rebeldes a qualquer espécie de autoridade. Citas e Sármatas, chamavam-nos os Gregos, que ele, os louros e bárbaros nórdicos, encontravam com espanto em suas migrações para o sul, na península de Querosolene, a quem hoje chamamos Crimeia. Lá floresceu, durante séculos, uma numerosa colônia  ateniense; naquela terra, e mais adiante, até o mar Cáspio e ao Cáucaso, avançaram as legiões romanas provenientes da Dácia, isto é da România.
                  Por volta do fim do século VIII a.C., aparecem nas estepes do sul da Rússia os citas de língua iraniana, que rapidamente suplantam seus antecessores cimérios e que, com a ajuda da sua invencível cavalaria, erigiram um reino poderoso. Heródoto deixou-nos um pitoresco relato dos seus costumes e usos, assim como da gloriosa resistência contra Dario, o rei dos Persas. Os arqueólogos desenterraram dos túmulos dos chefes citas, sepultados com suas mulheres e cortesões, inúmeros objetos que comprovam uma alta cultura. Os citas viviam como nômades ou agricultores, em harmonia com as colônias gregas que se haviam formado desde mo século VI em Olbia, Quersoneso, junto dos Bósforos e em outros lugares junto da margem norte do mar Negro. 
             Na Crimeia e em toda a Rússia meridional, até às margens do Cáspio, chegaram os legendários e os mercadores romanos; foram os primeiros contatos que a Europa teve com os povos selvagens das estepes asiáticas. 
                Hunos e Aváricos sucederam os italianos no domínio da região; no século VII, os eslavos, em seu grande ímpeto expansionista, ocuparam as imensas planícies  entre o  rio Volga (no planalto de Volgai) e o Vístula, indo misturar-se, ao norte, com os Fineses, dos quais assimilaram, em parte, os hábitos. E vemos, mais tarde, no século IX, aparecer , também nessa extrema ponta da terra da Europa, um povo muito nosso conhecido, o mais forte e genial da Idade Média, os Normandos. Em 862, o príncipe Rurik da Noruega teria fundado Novgorod, a primeira e mais importante cidade russa; o próprio nome Rússia derivaria justamente de Rurik e de seus descendentes. Colônias normandas foram, além de Novgorod, Rostov, Esmolensco, ou melhor, as únicas aglomerações humanas que então mereciam o nome de cidade. Kiev, situada na zona mais rica da Rússia, ao centro da fértil planura da Ucrânia, favorecida por clima mais suave e pela vizinhança com o vivíssimo mundo bizantino, conquistou logo uma posição de permanência. A própria Bizâncio, sob muitos aspectos, foi a matriz da civilização russa; de lá veio, entre outras coisas, o alfabeto cirílico, corrupção do alfabeto grego, que ainda é usado e que deve seu nome ao monge Cirilo, evangelizador dos Búlgaros. 
                  Mas quem são esses russos, esses fundadores de um grande império, que assimilaram de modo tão infeliz certos elementos de uma civilização primitiva? Uma vez que pertencem a um ramo oriental de raça eslava, devem ter ido para a Europa juntamente com os outros indo-germanos na época das migrações. Supõe-se que ocuparam inicialmente as vertentes norte dos Cárpatos e daí se expandiram pouco a pouco pelas planícies orientais, até o curso superior do Oka.  Depois de terem se deparado nas florestas virgens com tribos ugro-finesas, é provável que tenham se dirigido para o sul, uma região mais fértil, onde vieram a encontrar os citas. 
                   Em relação à formação do Estado russo, os escritos de alguns monges, cronistas ou historiadores da Idade Média firmaram durante muito tempo a convicção de que o ano de 862 correspondia à da fundação do Estado russo. Essa fundação era entendida com um ato criador ex nihulo - a formação espontânea de uma administração altamente organizada, de inspiração progressista, surgindo numa região habitada por tribos semi-selvagens. 
                  Segundo essa versão, uma comunidade eslava da região correspondente à atual de Novgórod ter-se-ia dirigido a um caudilho guerreiro varengo (isto é, escandinavo) chamado Rurik, para organizarem em comum a defesa dos seus domínios contra os povos vizinhos: "Venham e governem, a nossa terra é vata e fértil,mas falta-nos organização". Os descendentes do legendário príncipe Rurik  teriam seguido então para o sul, a fim dese estabelecerem  definitivamente  em Kiev, junto do rio Dniepr, e nessa região fundaram a capital de um grande reino. 
             Os largos rios da Rússia, que correm suavemente, não ameaçam a navegação nem com tempestades nem com rochedos perigosos; eles constituem vias de ligações naturais entre as povoações. O clima rigoroso,o longo inverno gelado e a luta contra a natureza determinaram certos traços do caráter russo: Uma coragem passiva,mas decidida, perseverança, considerável capacidade de resistência perante sofrimentos de toda a espécie, sentido prático, e uma certa melancolia. 
              Sabemos hoje que Kiev foi apenas uma etapa numa longa série de formações de estados no Sul da Rússia, e que já existiam relações entre os povos que viviam junto ao Dniepr e os habitantes das regiões do Danúbio, do sul latino, do norte germânico e do Império do Oriente, isso na época da fundação dos Estado Russo, ou mesmo anteriormente. 
             Tendo crescido em potência, os príncipes de Kiev ousaram desafiar o poderio de Bizâncio, mas a frota de Igor, que chegara até perto das muralhas de Constantinopla foi destruída pelo fogo grego, a famigerada arma criada pelos cientistas bizantinos em 941. Os descendentes dos Citas ainda não estavam em condições de enfrentar a culta e rica |Bizâncio, de onde chegara à Rússia o primeiro germe de civilização. 
                Ao nome do sucessor de Igor, Wladimir, cognominado, "o Grande", está ligado um fato capital da história russa: a conversão ao cristianismo. A Rússia adotou, a princípio, o rito grego, depois, definitivamente, o búlgaro-eslavo: o "metropolita", isto é, o bispo primaz da Rússia, dependia do patriarca de Constantinopla e permaneceu, a seguir, sempre separado do papado de Roma. 
       A Rússia apresentava, então, o aspecto de uma conglomeração de principados independentes, situação que foi uma das principais causas de muitos de seus males e que derivava do hábito dos soberanos bárbaros (essa mesma situação já aconteceu entre os Francos e os Germanos) de dividir o próprio território entre os filhos. Daqui, as lutas entre os herdeiros e sua substancial fraqueza ante os inimigos externos. 
             Em redor dos príncipes, vivia a grande nobreza dos campos, a classe dos Boiardos, senhora quase absoluta  de homens e bens; na cidade, dominavam os conselhos  de maiorais, que representavam a autoridade comunal. 
           Decaída no século XII, a autoridade de Kiev, afirmou-se a importância comercial de Novgorod, que permaneceu, depois, durante séculos, como o maior mercado russo, a cidade para onde afluíam mercadores de todas as raças, desde noruegueses aos tártaros. data deste tempo a primeira infiltração na Rússia de colonos germânicos que, embora hostilizados, conseguiram ali se instalar habilmente. 
               Pouco antes da nossa era, acelerou-se a migração de novas tribos para as estepes do sul da Rússia, e a mistura dos "bárbaros" na antiga região dos "citas" tornou-se cada vez mais complexa. Os getas, os iassenses, os roxolanos, os alanos, os bastarnas e os dácios substituem pouco a pouco os sármatas e formam entre o Dniepr e o Danúbio reinos extensos, mas pouco duradouros. Os romanos, por sua vez, irão alargar as suas fronteiras em direção ao oriente e ocupar a Dácia. 
           As grandes escavações recentemente efetuadas em várias regiões por arqueólogos soviéticos trouxeram à luz vastas informações muito exatas. Assim, sabemos da existência de uma arte florescente, nitidamente superior à arte contemporânea da Europa ocidental. Também foi descoberto  um grande número de aglomerados urbanos e indícios reveladores de uma estrutura social muito desenvolvida; ao lado dos campos de propriedade  comum existiam também as propriedades  privadas dos boiardos (influentes e abastados membros da sociedade em cujas sepulturas se encontram jóias e peças de ouro de fabrico local ou de origem oriental ou romana, o que prova a existência de desenvolvidas relações comerciais com essas longínquas paragens.
              A poligamia estava muito difundida, especialmente entre as classes superiores. Os povos que habitavam a norte de Kiev, o uso de "jogos demoníacos", no decurso dos quais uma mulher, após combinação prévia com o seu eleito, era raptada. Somente o povo dos polochanos, que habitavam a planície já desbravada ao redor de Kiev, abandonara tais costumes bárbaros; entre eles era hábito conduzir a noiva na véspera do casamento, numa solene procissão, para junto do noivo. 
                 Desde o século I a.C. os missionários gregos exerceram a sua atividade junto às tribos eslavas do antigo domínio romano junto ao Dniepr, assim como na Crimeia. Sabemos que em Bizâncio, em meados do século IX, foi nomeado um bispo cristão para os rhös do mar Negro. O Evangelho, traduzido para a língua eslava pelos santos irmãos Cirilo e Metódio, foi traduzido pelos búlgaros  para Kiev, onde substitui a tradução gótica de Vulfila. A princesa Olga, avó de Vladimir, bem como outras princesas russas, aceitaram o batismo. 
               Vencedor dos povos eslavos livres e das irrequietas tribos vizinhas, o príncipe Vladimir, um dos "santos"  da igreja russa ortodoxa, deve ter contribuído para essa evolução. Seu batismo em Kiev, realizado com grande pompa ocorreu em 989, após o casamento dom uma irmã do imperador de Bizâncio, representa, apesar de tudo, uma data importante na história do povo russo. 
                A  partir desse momento e durante séculos, vão constituir ligações íntimas e contínuas com o reino bizantino.
               No campo da arte, o povo russo revela uma capacidade receptora e um dote criador verdadeiramente dignos de admiração. Kiev se orgulha das treês cúpulas douradas da sua catedral, dedicada a Santa Sofia. 
               No governo do príncipe Iaroslav, sucessor de Vladimir, a capital, erguida sobre os rochedos do Dniper, ultrapassa em beleza a resistência dos primeiros Capetos da França. 
                A situação geográfica de Kiev, na encruzilhada das rotas comerciais que ligam desde as mais remotas eras a Europa e a Ásia, facilita o rápido desenvolvimento da troca de mercadorias. Essa evolução favorável permitia ao príncipe de Kiev manter relações em pé de igualdade com outras nações européias. Princesas russas tornam-se esposas  dos reis da Hugria, Noruega, Inglaterra, e uma será mulher do imperador alemão. Ana de Kiev, filha de Iaroslavi casou-se com Henrique Capeto, tornando -se rainha da França. 
               Na poca do início do domínio feudal ainda é considerável o número de camponeses livres (smerd).Mas o trabalho nas propriedades dos nobres é executado por homens dependentes, servos que provém das fileiras dos prisioneiros de guerra (kholop), ou camponeses que venderiam a sua liberdade pelo direito de cultivarem uma pequena parcela de terra. Mas os smerd livres, que pagam pesados tributos e dispõem de poucos animais de trabalho, vêem-se cada vez mais explorados à medida que as condições se modificam. É verdade que possuem terra para cultivar, mas tem de entregar um juro pré-capitalista sob forma de produtos agrários. 
              Em todos os centros surge uma cidade que fornece à região circundante os produtos dos artesãos, cada  vez mais especializados. Nas margens das grande vias surgem ricas cidades  como Novforod, Smolensk, Tchernikov. O seu número é tão grande que os escandinavos chamam a todo o país Gardaricyk (reino das cidades). Cada uma das cidades tornam-se o centro de um principado no qual os boiardos e os ricos mercadores formam a aristocracia. O artesanato floresce; segundo documentos da época, existiam mais de quarenta ofícios especializados, entre os quais os de oleiro, ferreiro, caldeireiro, armeiro, ourives e joalheiro, que produziam verdadeiras obras-primas. 
              Os principados menores também participam do comércio internacional, embora menos do que Kiev. Ocasionalmente vendem prisioneiros de guerra  como escravos, por vezes com as respectivas mulheres e filhos. No entanto, os principais objetos de troca comercial são as peles, o linho, a cera, o mel e certos produtos manufaturados, como finas cotas de malha. E compram-se artigos de luxo (panos, armas ricamente guarnecidas, objetos de culto, frutos meridionais) tudo para os senhores feudais, que, graças a uma balança comercial positiva, continuam a se enriquecer. 
              As grandes cidades russas, a maioria edificadas á margem de rios e rodeadas de fortes paliçadas de madeira, já nessa época oferecem um aspecto bastante imponente. No interior, erguem-se, ao lado de muitas casas de madeira, igreja de pedra, assim como as casas de pedra dos ricos, rodeadas de jardins e com telhados dourados, como os das igrejas.  A maioria das casas dos trabalhadores, com melhor renda, eram construídas perto das praças de mercado com madeira rústica (troncos de árvores). Por outro lado, nas regiões pobres em madeira, as paredes são construídas de argila, tipo pau-a-pic. 
                No início do século XIII, uma verdadeira catástrofe  histórica provoca a fim brusco do principado de Kiev e da sua promissora civilização. O feudalismo, que pouco a pouco se expandira, revelava uma característica desconhecida no Ocidente: todos os senhores feudais pertenciam a grande família dos Rurik. O príncipe Vladimir, que se considerava senhor de toda a Rússia, antes de morrer, dividira o país entre seus doze filhos, e ao primogênito, a quem os outros irmãos se mantinham subordinados, legara Kiev. A cada morte de um pequeno senhor, os parentes lançavam-se  em tremendas querelas sucessórias acerca da herança. Isso levava a lutas implacáveis. Um monarca posterior, Vladimir Monônaco, tentou em vão terminar com as querelas familiares mediante a fundação de um conselho de família, mas após a sua morte as inimizades renasceram. 
                  A tudo isso se acrescentou o perigo externo: na estepe, diante de Kiev, continuava a migração de povos. Os godos e magiares haviam encontrado uma pátria na planície do Danúbio e mais além; São Vladimir ocupara a região até o Volga e, nessas longínquas paragens da Rússia, submeteu o poderoso reino dos czares (que estranhamente haviam se convertido ao judaísmo), mas continuavam a rolar contra o Dniepr ondas de povos desconhecidos. As fortalezas de caráter primitivo erigidas ao longo da fronteira não conseguiam reter o avanço dos pechenegues e polovtsianos. Estes povos invadiram a região de Kiev, incendiaram as aldeias circundantes, roubaram o gado e raptaram mulheres e crianças. Os camponeses sobreviventes procuraram a sua salvação na fuga e se instalaram em regiões  menos expostas, a norte e oeste. Foi nessa época que a Rússia de Kiev começava a se despovoar e assim permaneceu durante os últimos anos do século XII. 


              Eis-nos, agora, diante de um novo e terrível acontecimento, que ameaçou por momentos não só a Rússia, mas a inteira civilização européia: a invasão dos Mongóis. 
               Descendo dos Urais, baixaram hordas de Mongóis, sob as ordens de Gengis Khan, conquistador da China e da Ásia central, fundador de um gigantesco reino cujas fronteiras se estendiam cada vez mais para o ocidente.  Os seus cavaleiros atingiram o mar Cáspio, venceram o Cáucaso e surgiram na planície russa.  Vinham dos desertos do Turquestão para assinalar sua passagem com horrendo sulco de sangue. Derrotando o exército dos príncipes russos, às margens do rio Kalka em 1223, eles avançaram qual um flagelo , destruindo estuprando e matando. Somente a morte de Gengis Khan poderia salvar a Rússia e a Europa. 
             A resistência oferecida ao redor de  Kiev pelos príncipes russos desavisados não foi suficientemente decidida. Apesar do apoio dsos seus antigos inimigos polovtsianos, foram totalmente derrotados em 1221 junto às margens do Kalka, ao norte do mar de Azov. 
             Após a morte de Gengis Khan em 1227, os seus herdeiros dividem entre si o imenso reino, e a parte ocidental  cabe ao seu filho Baty, que se dedica a novas expedições guerreiras. Conduzindo os exércitos para o norte, apoderam-se de Riazan e Vladimir, arrasa o principado de Susdal e para perto de Novgórod. No inverno seguinte, conquista Kiev, a Volínia, a Galícia, assom como parte da Polônia e da Hungria, até atingir a costa da Dalmácia, onde destrói Kotor e Dubrovnik. A morte do irmão mais velho e as disputas sucessórias obrigam-no a regressar à Ásia e a desistir da maioria das suas conquistas. 
              No decorrer dos dois séculos seguintes, a Rússia fica isolada em relação ao Ocidente. 
             Contudo, os suecos e os Cavaleiros Teutônicos, vizinhos ocidentais da Rússia, aproveitam-se da fraqueza do  país para tentar aumentar os domínios,  e obrigam o mais competente dos chefes russos dessa época, Alexandre Niévski, a empregar toda a sua energia para repelir os ataques. O próprio papa manda embaixadores falar com os senhores mongóis, que escravizavam a Rússia cristã. 
             A conquista de Kiev  dá origem a um horrendo banho de sangue, durante o qual os tártaros aniquilam praticamente toda a população. Em recentes escavações foram encontrados mais de 4.000 esqueletos numa vala comum da época. 
             Após a queda de Kiev, acelera-se a emigração russa. Muitos habitantes da região se refugiam nos Cárpatos ou na Galícia. Foi, então, que a miscigenação com a população polonesa dá origem ao povo da Ucrânia, e o grande principado da Lituânia estende o seu território por toda a margem direita do Dniepr. Outros russos instalam-se nos contrafortes sul dos Cárpatos e ficam sob o domínio dos húngaros. 
             Muito tempo antes da destruição, o centro do poderio russo havia se deslocado para o curso superior do Volga e do Oka. Esses descendentes da família  dos chefes haviam aí erigido os principados de Rostov, Vladimir e Susdal. Em 1169, o príncipe Andrei Bogoliubski entrega ao irmão0 a cidade de Kiev, que acabara de reconquistar, e muda a sua residência para Vladimir. Com esses acontecimentos, toda a nação russa modifica sua maneira de viver. Os próprios príncipes pouco mais são do que grandes lavradores, mais preocupados com o arrendamento das suas propriedades do que com querelas  relativas a heranças. 
               Mas os príncipes de Susdal são também vassalos dos tártaros. Tem de se deslocar às longínquas residências dos chefes mongóis para lhes demonstrar submissão. Estes exigem pesados tributos e obrigam por vezes os homens em idade de serviço militar a tomar parte nas suas expedições guerreiras. 
             Apesar dos raptos de um considerável número de mulheres e de alguns casamentos mistos, não surge uma raça mestiça de conquistadores e conquistados. o costume da segregação das mulheres que vai se alastrando entre a classe elevada russa, deve-se à influência oriental. 
             Os tártaros mongóis não eram selvagens, possuíam um Estado forte e um exército bem organizado. Mas a sua cultura era muito primitiva., não conheciam a civilização urbana e toda a sua economia se baseava exclusivamente na criação de gado. Eles conquistaram a Rússia, mas não lhes ofereceram nem a álgebra nem Aristóteles;portanto não tinha cultura desenvolvida. 
             O primeiro resultado da conquista da Rússia foi a decadência geral do artesanato, até aí florescente; certas profissões, como por exemplo, a do joalheiro de aldeia, despareceram totalmente. Outros artífices, como os fundidores, regridem a uma técnica mais primitiva; a arquitetura se desvia do tipo de construção tradicional. 
            A mudança da população para o norte, devido à incursão dos nômades, conduz a importantes modificações na estrutura social da nação. Nas regiões cobertas pela floresta, os príncipes asseguram para si enormes propriedades, cujas dimensões ultrapassam as de Kiev. Os nobres que se encontram a serviço dos príncipes seguem esse exemplo e se apossam igualmente de enormes territórios. A luta de classe torna-se aguda; muitos camponeses resistem às ordens de seus senhores e destroem o gado e as propriedades dos latifundiários; já os servos fogem para regiões desabitadas e surge então, pela primeira vez,  as ameaças de castigos para que não abandonem as propriedades. 
            Depois de Alexandre Niévski ter defendido Novgórod doa ataques dos suecos e dos Cavaleiros Teutônicos, a cidade começou rapidamente a se enriquecer e em breve surgiram muitos monumentos religiosos, mosteiros e igrejas, criando-se um estilo próprio, notável sobretudo pelos seus ícones e afrescos.  
               Apesar da infelicidade  da invasão mongol, a nação russa preservou a sua alma. O medo e o pânico provocados pela incursão dos nômades vão sendo esquecidos lentamente. 
                No século XII, quando Partis, Roma, Londres e Viena já eram grandes cidades florescentes, Moscou compunha-se de poucas cabanas no meio da vasta floresta russa. 
                Apesar das muitas catástrofes (incêndios destruidores e repetidos ataques por parte dos tártaros), a população de Moscou e arredores cresce rapidamente. Os camponeses sentem-se bem mais protegidos nesse forte domínio do que noutras regiões, o que leva os pequenos chefes vizinhos a se colocarem sob a proteção do príncipe, que procura erigir uma comunidade  de interesses a serviço da grandeza de Moscou. 

A expansão russa na Europa e Ásia
                   .
                  Depois de falarmos dos primórdios dessa civilização, passaremos a tratar da sua expansão na Europa e Ásia no período de 1462 a 1815. 
               Após a invasão mongol do século 13, as terras russas, antes parte da Rússia de Kiev, foram divididas. O leste ficou sob o domínio mongol, do qual o principado de Moscou se aproveitou para dominar os vizinhos e, finalmente livrar-se do jugo tártaro. O oeste foi absorvido pelo principado da Lituânia, que por fim juntou-se à Polônia. 
              O Estado criado pelos Grandes Príncipes de Moscou, no nordeste do território russo, conhecido como Moscóvia, expandiu-se por cerca de 350 anos, às custas da Suécia, Polônia e Lituânia a norte e oeste, dos tártaros e do Império Otomano ao sul e das tribos nômades do interior da Ásia a leste. 
         A Moscóvia estava isolada em 1462: quase todos os contatos com o Ocidente estavam cortados pela hostilidade de seus vizinhos, sendo impossível compartilhar os progressos da Europa. Não experimentou nem a Renascença nem a Reforma, embora influências culturais e artísticas tenham se infiltrado na Corte e na Igreja. O isolamento cresceu com  o aumento do cisma religioso entre cristãos orientais e ocidentais. Desde 1.54, a Igreja Ortodoxa russa tinha restrições ao catolicismo romano e, e, 1448, com a eleição de bispo próprio, separou-se de Constantinopla, que logo depois foi tomada pelos turcos otomanos.
                O crescente poder da Moscóvia manifestou-se na cruel anexação da cidade-república de Novgorod por Ivã II, em 1478, seguida da proclamação da independência do poder tártaro em 1840. No século 16, a República de Pskov foi anexada e a Moscóvia iniciou avanço para leste , com a conquista dos canatos de Kazan, em 1552, e Astrakhan, em 1556, o que permitiu o controle do baixo Volga e do mar  Cáspio. A Moscóvia não estava a salvo dos tártaros da Crimeia, que saquearam Moscou em 1571, e falhara na tentativa de estender seus domínios ao Báltico,nas guerras livonianas conduzidas por Ivã IV, o Terrível. Mas obteve êxito em outras áreas. O comércio lucrativo de peles, desde 1580, permitiu aos russos entrar na Sibéria; diversos fortes foram construídos (Tobolsk, Eniseisk, Yakutsk, Nerchinsk), estabelecendo o controle russo sobre o norte da Ásia e abrindo caminho para o comércio de seda com a China (comércio também desenvolvido com a Pérsia ao longo do Volga). Em fins do século XVI e no século XVII, a colonização russa se espalhou para o sul , perto do rio Oka, e os ucranianos migraram para leste, a partir da Polônia. Postos fronteiriços foram fixados, mais tarde transformando-se em cidades, como Orel, em 1564, Kursk e Voronej, em 1586. 
              Em 1613, após conflitos, que duraram de 1598 a 1613, que se seguiram à extinção  da antiga "casa real moscovita", Miguel, o primeiro da dinastia Romanov, foi eleito czar. Até o fim do século XVII, os moscovitas se dedicaram à conquista das terras perdidas para Lituânia, Suécia e Polônia e, apesare dos reveses, tiveram, entre 1640 e 1686, substanciais ganhos territoriais. Em 1648, os cossacos da Ucrânia levantaram-se contra a Polônia e declararam lealdade ao czar, inaugurando longo período de conflitos armados, em que Polônia, Rússia, Suécia e otomanos participaram até 1686, quando foi assinado tratado entre Rússia e Polônia confirmando a cessão de Kiev e das terras do médio Dnieper para a Rússia. 
              O isolamento ainda era o maior problema da Rússia. Havia potencial de comércio estrangeiro para os produtos florestais russos, mas as comunicações da Moscóvia com a Europa, por mar e terra, estavam bloqueados por suecos, poloneses e turcos hostis. Mercadores britânicos tinham aberto, através do mar Báltico, uma rota para Arkhangelsk (fundada por Ivã IV em 1584); mas, com condições climáticas desfavoráveis, a rota era navegável só no verão. 
                Tendo fracassado no avanço para o mar Negro, Pedro I, o Grande, após 1700, concentrou-se na obtenção de uma janela para o oeste. Após longa guerra, marcada pela vitória de Poltava em 1709, arrebatou Estônia e Livônia da Suécia pelo Tratado de Nystad, em 1721. Adquiriu o antigo porto de Riga e fundou o porto de São Petersburgo em 1703. O novo status da Rússia ficou claro à Europa quando o título de czar foi formalmente mudado para o de imperador, em 1721. 
               Os sucessores de Pedro retomaram sua política de expansão no mar Negro, bem sucedida no reinado de Catarina II, a Grande, na primeira entre 1768 a 1774 e na segunda entre  1787 a 1792, período das guerras turcas. O canato tártaro da Crimeia foi anexado e a Rússia passou a controlar a costa norte do mar Negro, desde o Dniester até o Cáucaso. Odessa, fundada em 1794, tornou-se o principal porto das exportações russas para o Mediterrâneo.
                  Entre 1772 e 1815, a fronteira terrestre  russa avançou de 900 Km dentro da Polônia. Com as partilhas ocorridas entre 1772 e 1793/95, a Rússia obteve boa parte de antigos territórios poloneses e lituanos e, após a queda de Grande Ducado de Varsóvia, constituído por Napoleão, o Congresso de Viena concordou em fazer do czar o soberano do reino polonês reconstituído. 


As guerras do século XVIII exigiram indústrias de armamentos e grande base de produção metalúrgica. Esta foi criada por Pedro I, principalmente nos Urais, onde havia jazidas de ferro e cobre e extensas florestas que permitiam a produção de carvão vegetal . Pedro I fundou fábricas, incentivou investimentos, encorajou negócios e estabeleceu um espécie de servidão industrial. 
          

PARA LER DESDE O INÍCIO 
clique no link abaixo 



quarta-feira, 8 de julho de 2020

A BORRACHA NA CIVILIZAÇÃO EGÍPCIA E NA MODERNA

               

          Já há dezessete séculos a.C. os Egípcios extraiam da árvore da acácia, às margens do rio Nilo, um líquido gomoso, para fins medicinais: a goma-arábia, que ainda hoje é usada para pastilhas e xaropes muito úteis para a cura da tosse. Mas o conhecimento dessa portentosa planta não ia além, e somente após a descoberta do Novo Mundo os espanhóis, ao chegarem à Amazônia, viram o excepcional produto, sob a forma de rudimentares bolas de brinquedo. Alguns indígenas estava deitados á sombra de certas árvores, de tronco alto, liso e cinzento, e deixaram cair sobre si o suco viscoso e cinzento que delas escorria. Pouco depois, o líquido formava uma película, que os índios destacavam delicadamente do corpo e começavam a enrolar tal como se faz com o fio num novelo. Curiosos, os espanhóis perguntaram o que eram aquelas estranhas coisas redondas, e os indígenas, para demonstrar a  serventia do brinquedo, começaram a lançar a bola um para outro, apanhando-a no ar ou deixando-a pular no chão. Mas os índios não usavam a borracha somente para brincar. Eles já lhe conheciam as propriedades impermeáveis e inflamáveis, pois com ela lambuzavam suas tangas e vestes rudimentares para se protegerem da chuva, e também, com ela, faziam projéteis flamejantes, que atiravam nos campos inimigos. 
                 Os espanhóis procuraram imitá-los, esparzindo o látex em seus mantos, mas tudo andou bem enquanto chovia. Aos primeiros raios de sol, o látex se dissolveu, grudando nas mãos e na roupa dos forasteiros, provocando cenas tragicômicas entre os rudes e ousados guerreiros. Este grave inconveniente fez com que os espanhóis não mais se importassem com a borracha nem com as árvores de onde escorria o precioso líquido. 
             A portentosa árvore que produz o "ouro branco" estaria ainda desconhecida se a tenacidade de um explorador francês, que se aventurou no recôndito das terras virgens e insidiosas para descobrir as lendárias plantações, não houvesse sido inquebrantável.             O audacioso explorador francês, Charles Marie de la Condamine, tomou conhecimento desta preciosidade quando teve em mãos, na França, uma amostra de látex em bruto, e começou a analisar e a estudar o maravilhoso produto; tendo a intuição de sua importância excepcional, partiu da França, rumo ao Peru, em 1735, em busca da árvore da borracha. Explorou todo a Amazônia e, mesmo não tendo individualizado nenhuma planta, chegou à conclusão de que esta devia crescer em grande quantidade naquela região. 
              Já cansado de vagar pelas imensas florestas virgens, onde aminais ferozes e tribos mais ferozes ainda lhe dificultavam o caminho, um companheiro de Condamine levara à sua pátria e o explorador se encontrou sozinho; mas, não desanimou e prosseguiu nas pesquisas. Após haver aguardado a estação propícia, embarcou para a Guiana Francesa e, ali, de alguns índios que fugiam do domínio português, recebeu as primeiras descrições da árvore da borracha. Condamine mandou-os desenhar o modelo de uma árvore e de suas folhas; e,m seguida, tirou várias cópias, que confiou aos seus agentes, para que a procurassem nas colônias. 
             Poucos meses depois, teve a confirmação de que árvores semelhantes  ao desenho cresciam em várias partes da América do Sul e ele próprio encontrou espessas plantações, nas terras dos selvagens ameríndios, pelas margens dos rios amazônicos. Desde aquele momento, a borracha despertou enorme interesse também na Europa, e uma crônica daquela época nos conta que uma onça de látex custou um guinéu, quantia realmente elevada para aqueles tempos. 
              A primeira manufatura de certa importância, entretanto, foi um terno de borracha, oferecido pelo governador do Pará, em 1759, ao rei de Portugal. 

             Em 1770, graças ao inglês Naime, obteve-se a primeira aplicação da borracha. Ele misturou ao látex substâncias granulosas, próprias para polir metais, isto é, alume e esmeril. Do produto obtido, fez uma pequena barra e, com esta, tentou cancelar o que estava escrito numa folha de papel. Com seu grande espanto, notou que as manchas desapareciam. Aos primeiros exemplares dessas borrachinhas foi paga a admirável quantia de cinco xelins cada um. Depois desta experiência, os artigos de borracha foram sempre mais procurados, mas somente muitos anos mais tarde, em 1839, graças ao engenho de um químico norte-americano, Chales Goodyear, que descobriu a vulcanização, tal produto se tronou de grande importância e utilidade.
               Não foi fácil para a Goodyear chegar à sensacional descoberta, pois suas experiências foram muitas vezes obstaculadas  por dificuldades quase intransponíveis, mas ele, com inabalável confiança, continuou a estudar e a aperfeiçoar o látex, a fim de torná-lo menos rígido e mais resistente. Quando todas as esperanças pareciam perdidas, quando, cansado e reduzido a desastrosas  condições financeiras, já estava prestes a abandonar aquela tarefa, que o apaixonava, o acaso veio em seu auxílio. Um saco de borracha, por ele fabricado, caiu sobre a estufa e pegou fogo; o químico, para fugir às pestilentas emanações, atirou-o pela janela, e, na manhã seguinte, ao encontrá-lo, percebeu que estava menos rígido; compreendeu, então, que o fogo realizara aquele milagre. Tinha descoberto, assim, a vulcanização, processo que serve para aumentar a elasticidade e a resistência da borracha e torná-la insensível ao calor e ao frio. 

              As principais árvores leitosas de que se extrai a borracha, no Brasil, são: a Seringueira (Havea Brasiliensis), a maçaranduba, a maniçoba, a gameleira, a sorveira e o caucho. A Seringueira é  a mais notável, pela sua capacidade de produção e que, em estado silvestre, existe  em toda a região amazônica.  Tem de 25 a 30 metros de altura, e  um diâmetro de 0,60 a 1,50, alcançando< às vezes, quatro metros de circunferência. O gênero Havea Brasiliensis compreende uma 20 espécies. Já foi uma das maiores riquezas  do Brasil, tendo perdido algo de seu poder depois que os ingleses, por intermédio de Henry Wickhan, levaram várias mudas para a Ásia, onde sua cultura é intensa e bem aproveitada. A Companhia Ford tentou intensificar a cultura da Hevea, mas sem resultados. Produzem látex a partir dos 3 anos, sendo mesmo, mais abundante nos vasos do tronco até à altura de 2 metros. os recipientes coletam, diariamente, de 30 a 60 gramas por árvore. Produto de grande consumo, está recebendo novamente as atenções de nosso governo, graças ao plano de recuperação da Amazônia.         
               Atualmente milhares de homens se dedicam  à coleta do precioso látex que produz a borracha. Somente na Ásia, os seringueiros produzem enorme quantidade deste produto. No Brasil os povos da floresta enfrentam todas as dificuldades para a extração do látex; todos os dias, o tronco da planta sofre   uma incisão, feita com machadinha, a espaços regulares, em sentido oblíquo, desde a base até à altura de um homem.