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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

A EXPANSÃO DOS ESTADOS UNIDOS PARA O OESTE

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             O vasto território conhecido como o Oeste americano oferecia grandes oportunidades e perigos aos colonos que se aventuram ir para lá. Em seu caminho estavam índios liderados pelo chefe apache Jerônimo, líder dos levantes indígenas   entre os anos 1880 e 1886. As carroças utilizadas pelos colonos pioneiros iam em caravana e começaram a instalar-se nos territórios do Oeste em meados do Século XIX. A caça ao búfalo significava para os índios a principal fonte de alimentação e abrigo indispensável que eram feito utilizando os couros dos animais abatidos. 
              A emigração em direção às novas terras do Oeste, inciada nos últimos anos do século XVIII, desenvolveu-se basicamente  nos inícios do século seguinte, quando as condições de vida nas pequenas feitorias situadas ao longo da costa atlântica começavam a tornar-se precárias e o terreno montanhoso não permitia um cultivo intensivo de cereais. A corrente migratória moveu-se lenta, mas incessantemente. Os pioneiros abandonavam as fronteiras primitivas, constituídas pelas faixas próximas ao litoral, superavam os Montes Alleghanys e avançavam pelos territórios situados ao Oeste dessas montanhas cobertos de grandes  bosques e habitados por índios. Assim foi se formando uma vasta região "fronteiriça", cuja população - composta por colonos, comerciantes de peles, criadores de gado e exploradores - foi abrindo novas rotas e estabelecendo assentamentos ao longo de sua marcha para o Oeste. 
       Os colonos britânicos da América  mantiveram durante anos relações cordiais com a metrópole, que a partir de 1660 se entorpeceram devido ao absolutismo político-religioso da monarquia inglesa. Ainda que a guerra com a França tenha estimulado momentaneamente a união das colônias com a Inglaterra, as contínuas rivalidades de ordem política e econômica produziram a ruptura entre os americanos e os ingleses. Em 1776, o Congresso Continental, reunido em Filadélfia, determinou a imediata declaração de sua independência, materializando-se no dia 4 de julho desse mesmo ano. Os Estados Unidos, entretanto, alcançaram sua plena autonomia em 1783, quando foi assinado o Tratado de Versalhes. 
              Neste momento, a república norte-americana era pequena e débil, sua população apenas alcançava os 3 milhões de habitantes e a metade de seu território estava ocupado por vizinhos hostis. Sua economia colonial era ainda tributária da "pátria mãe" e a classe dirigente estava perigosamente desorganizada. Entretanto, em menos de 100 anos, o jovem país transformou-se em uma grande potência. Próximo ao ano de 1890, a população havia aumentado de tal forma que superava a de todos os países europeus, exceto a Rússia. Sua economia era a mais produtiva do mundo. O território alcançou proporções continentais e o governo republicano converteu-se em uma administração forte, centralizada e estável. 
              A expansão da República norte-americano sustentou-se na abundância de seus recursos naturais. Enquanto as grandes potências européias  perseguiam seus sonhos imperialistas na África e Ásia, os norte-americanos invadiram o vasto território do interior, através do Mississípi, construindo seu próprio império. Os indígenas foram cedendo seu território aos brancos, ficando reduzidos em número e submetidos ao rápido avanço dos norte-americanos. A cultura indígena da América do  Norte foi superada pelos britânicos, e em seu lugar surgiu uma democracia capitalista integrada. 
               Em 1783, os Estados Unidos possuíam uma superfície de aproximadamente 2 milhões de Km², dos quais grande parte eram adequados para a agricultura. Este enorme território viu-se logo incrementado com outras extensões inclusive  mais vastas e mais férteis. A aquisição da Louisiana, em 1803 (2 milhões de Km²), foi uma sorte imensa para o presidente |Thomas Jefferson. A Flórida foi conquistada durante o governo de James Madison e a Flórida Oriental 155 mil Km²) foi comprada, sob a ameaça da força,durante a gestão de James Monroe. 
           Entre os anos 1845 e 1853, uma segunda série de aquisições de áreas contíguas completou o território continental dos Estados Unidos. As prolongadas negociações sobre o território do Oregon (740 mil Km²) terminaram em um acordo em 1846. A República do Texas (1 milhão de Km²) foi anexada  em 1845 e a vasta cessão mexicana (1 milhão 380 mil Km², em 1848, foi fruto de uma guerra de dois anos contra o México. Finalmente, em 1853, para poder controlar uma promissora via férrea, conciliou-se com os mexicanos a chamada "Compra de Gadsden". Em comparação com as aquisições anteriores, esta foi relativamente pequena, somente 78 mil Km?, mais ou menos a superfície da Escócia. 
          Todas estas grandes extensões foram ocupadas  com a mesma rapidez com que foram adquiridas. Antes de 1776, os norte-americanos foram instalando-se lentamente no que chamavam de Back land, isto é, no interior. Depois de 1800, este território  converteu-se na "fronteira" em linguagem norte-americana, e a linha de colonização se estendeu  em direção ao Oeste num ritmo impressionante. Segundo a definição tradicional, entende-se por "fronteira" o limite de uma região com uma densidade  de ao menos dois habitantes por milha quadrada (0,8 hab. por Km²). Antes de 1783, esta linha encontrava-se a leste dos Montes Apalaches, salvo uama pequena colônia situada no distante e inóspito território de Kentucky. Trinta anos mais tarde, toda a parte central do continente estava ocupada. Por volta de 1820, a fronteira encontrava-se do outro lado do Rio Mississípi, e ao redor de 1840 chegaram ao meridiano 100. Depois de 1865, as planícies localizadas além deste meridiano foram submetidas com a ajuda das novas tecnologias: o arado de aço, a pistola de seis tiros e as cercas de arame farpado. Depois do censo de 1890, o diretor do mesmo observou que pela primeira vez na história da América do Norte não havia uma só linha fronteiriça no mapa. A fronteira, neste sentido da palavra, havia desaparecido. 
            A Constituição foi promulgada em setembro de 1787, e atualmente ainda rege os Estados Unidos. Nela, estimula-se que o Pode Executivo será exercido por um presidente, eleito por quatro anos e reelegível. Colaboram  com ele um vice-presidente e um Parlamento bicameral, composto por um Senado e pela Câmara dos Representantes. O texto desta Carta Magna foi assinado por 39 dos 42 delegados que participaram no Congresso de Filadélfia, encabeçado por George Washington. Quase imediatamente, ficou demonstrada sua importância, já que, graças a ela, os pobres viram salvaguardados seus direitos e, portanto, renovaram sua lealdade ao país; os ricos sentiram uma nova confiança no futuro, estando mais dispostos a investir nele (sobretudo porque durante muito tempo estiveram isentos de grandes impostos). Esta confiança pública permitiu aos estados Unidos dar um grande passo: a "Compra da Louisiana" em 1803. Nessa data, grande parte do território situado a leste do Rio Mississípi, a oeste dos Montes Apalaches e ao sul dos Grandes Lagos foi organizada em novos Estados, que foram incorporados à União (Kentucky em 1792, Tennessee em 1796, Ohio em 1803). O( rio Mississípi, que durante o século XVIII  e início do XIX serviu de limite entre os primeiros |Estados da jovem nação, desempenhou imediatamente um papel econômico determinante ao permitir um notável desenvolvimento comercial e agilizar as comunicações entre as populações ribeirinhas. Próximo a 1880, com a navegação por seu leito de navios a vapor, essa função viu-se ainda mais favorecida.  
              Nesse período, a França (que havia recuperado recentemente da Espanha o território da Louisiana)  vendeu seus direitos sobre o território localizado entre o Rio Mississípi e as Montanhas Rochosas por 15 milhões de dólares, com o qual os Estados Unidos duplicou sua superfície. Logo que a notícia da compra foi divulgada, centenas de colonos cruzaram o Mississípi em busca de terras mais férteis, de fortuna e de uma maior liberdade, que sempre lhes pareceu existir mais além do lugar onde o sol se punha.  Este grande movimento de pessoas continuou até o final do século XIX. O país, que era formado por treze Estados em 1783 e dezessete em 1803, com uma população total de 4 milhões de habitantes, aumentou para 35 Estados em 1861, com 31 milhões de habitantes, e para 47  Estados  em 1900, com uma população de 90 milhões. 
             A "Compra da Louisiana" não foi a última aquisição. Algumas partes da Flórida foram conquistadas da coroa da Espanha e o resto do território conseguido mediante uma venda forçada em 1819. O Novo México e a Califórnia foram anexados depois de uma sanguenta guerra contra o México em 1848. O desejo dos Estados Unidos de conseguir o reconhecimento por parte do México da sua incorporação do Texas, efetuada em março de 1845, junto aos supostos maus-tratos sofridos pelos colonos norte-americanos, provocaram um conflito armado entre ambas as nações que se prolongou até 1848, e ao final do qual os Estados Unidos conseguiram a anexação do Texas. Novo México e Califórnia.  O Alasca foi comprado da Rússia em 1847. Entretanto, grande parte do território para o oeste dos Montes  Apalaches teve de ser arrebatado à foça aos seus primeiros habitantes, os indígenas. 
             As tribos indígenas das Grandes Planícies que enfrentavam o homem branco no século XIX eram muito mais ferozes do que na época de Hernán Cortês ou do capitão John Smith. Haviam adotado o cavalo através dos espanhóis no México; também aprenderam a usar armas de fogo em seus contatos com os franceses e os ingleses no leste e, até meados do século XVIII, algumas tribos indígenas, como os apaches e os sioux, eram peritas no uso combinado de cavalos e armas de fogo. Entretanto, não foi o suficiente. O poder das armas de fogo dos colonizadores brancos quase sempre foi superior ao das tribos que encontravam em seu caminho. Os brancos expulsaram os índios à força, sem piedade, sem nenhuma justificativa legal, das terras que queriam possuir. Nos anos de 1830, por exemplo, 50 mil cheroquis  da Geórgia foram encerrados em campos de concentração e enviados a pé, em pleno inverno, a uma reserva em Oklahoma. Muitos morreram no caminho. Outras tribos do sudeste tiveram o mesmo destino. Foram poucos os chefes tribais que, como o chefe Seattle na costa noroeste do Passífico, souberam jogar o mesmo jogo dos homens brancos e tirar proveito disso: em 1851, Seattle vendeu uma faixa de terra nocanal de Puget por uma significativa  soma de dinheiro, com a condição de que a cidade que levantassem ali levasse seu nome. Ainda o conserva. A maioria dos demais indígenas perdeu suas terras sem compensação nem monumento que os recorde; qualquer tentativa de abandonar as reservas arbitrárias  era sufocada com as pistolas Gatling do Exército dos Estados Unidos. Em 1500, a região ao norte do Rio Grande estava habitada, possivelmente, por uns 4,5 mihões de "peles Vermelhas"; entretanto em 1890, depois da grande derrota dos sioux na batalha de Wounded  Knee, restavam menos de 500 mil. Este foi um desastre humano muito semelhante à destruição do México asteca pelos espanhóis. 
           Os vencedores nestas primeiras guerras contra os índios foram em sua maioria brancos: criadores de gado protestantes, ingleses que continuaram sendo granjeiros durante muitos anos. Na primeira metade do século XIX, a população urbana dos Estados Unidos cresceu a um ritmo jamais igualado (em setenta anos saltou de cerca de 200 mil habitantes para mais de 5 milhões). Em outros lugares cortaram bosques, cultivaram pastagens e logo se fez sentir a extraordinária abundância de terras virgens da América do Norte. Em 1850, os Estados Unidos já exportavam cerca de 30 mil toneladas de grãos, 60 mil toneladas de tabaco em folha e não menos de 280 mil toneladas de algodão cru. Como a população crescia rapidamente, formou-se um grande mercado interno desejoso de consumir não somente os produtos agrícolas, mas também os manufaturados de uma florescente indústria nacional. 
        A expansão continental, a crescente produção e o forte aumento de população, fenômenos intimamente ligados entre si, foram a Obra de um povo enérgico, inteligente e preparado. Os norte-americanos foram entusiasmados democratas e nacionalistas orgulhosos, conseguiram u, dos melhores níveis educacionais do mundo e preocupavam-se em mantê-lo. Quase todos pensavam  que era indispensável frequentar a escola e que a educação era necessária tanto para os homens como às mulheres. Na maioria dos Estados, os homens brancos gozaram o direito ao voto e os eleitores mais pobres puderam usar seu  poder político para obrigar os ricos a financiar a educação. Em meados do século XIX, a educação primária estava quase generalizada no Nordeste e Centro-oeste, mas não no Sul.  Nos anos seguintes ampliou-se também a educação universitária. A primeira universidade  da América do Norte foi Harvard, fundada em 1636. Mais tarde, na época colonial, criaram-se muitas outras e, depois da independência, cada novo Estado fundou sua própria universidade, porque a prática se estendeu à medida que as pessoas partiam para o Oeste. 
          O alto nível de educação geral explica em parte o êxito e a criatividade dos norte-americanos. A jovem república lançou-se rapidamente à Revolução Industrial: em 1791 já havia uma fiação de algodão mecanizada em Rhode Island e, dois anos mais tarde, Eli Whitney fez funcionar seu descaroçador mecânico, o que permitiu cultivar e comercializar em larga escala o algodão de talo curto (o único tipo que se adapta nas terras altas do interior). Whitney também foi um dos primeiros a criar máquinas que usavam peças intercambiáveis, logo conhecido como "o sistema americano", facilitando enormemente a fabricação em massa. A colhedora mecânica revolucionou a produção de alimentos nos anos 1820 (e em 1840 surgiu uma verdadeira colhedora-enfardadora) e o arado motorizado a vapor em 1858; a conservação de alimentos tornou-se possível graças ao sistema de embalagem criado por Appert (a partir de 1811 usou vasilhames de lata) e ao método de refrigeração mecânica  inventado por Lowe (no decênio de 1860).
        Entretanto, o maior impacto na agricultura, bem como em todas as demais atividades produtivas, foi produzido, indubitavelmente, pela ferrovia, tornando possível a comercialização dos excedentes. A primeira ferrovia norte-americana foi inaugurada  em 1830. Nos primeiros vinte anos de funcionamento a estrada de ferro baixou os custos do transporte terrestre em aproximadamente 500¢ e as horas de viagem em 900%. A conquista do Oeste dificilmente seria possível sem a ferrovia. 
            Lamentavelmente, o preço que tiveram de pagar por estes avanços foi muito alto. os norte-americanos criaram forças que escapavam do seu controle. O sistema político que deu um impulsotão grande à iniciativa pessoal era democrático e continuou sendo mais à medida que cresciaa população, posto que o voto masculino era quase universal. De tal sorte que o poder devia ser compartilhado entre mais e mais pessoas. A comunidade inglesa protestante, ainda que prolífera, não era suficientemente grande para abrangê-lo integralmente, de modo que promoveu a vinda de levas de imigrantes aos Estados Unidos, católicos e outras religiões, que falavam ou não o inglês. Entre os anos 1821 e 1840 chegaram menos de um milhão de pessoas aos Estados Unidos; em comparação, nas duas décadas seguintes os imigrantes superavam os 4,5 milhões, a maioria deles alemães e irlandeses. 
             Contudo, o país enfrentou uma série de dificuldades nos anos 1840 e 1850 que somente puderam ser solucionados satisfatoriamente com paciência, boa vontade e cálculos frios: a organização das novas terras do Oeste, a guerra contra o México e, sobretudo, o problema da escravidão. O "individualismo" somente podia piorá-las, e assim foi. 
            O cultivo do algodão e do tabaco nas plantações dos Estados do Sul baseava-se na exploração dos escravos negros. Este sistema foi criado no século XVII, mas subsistiu até o século XIX, graças aos enormes lucros que produzia o cultivo de algodão que consumia nas prósperas fiações de Lancashire e Nova Inglaterra. os homens brancos dos Estados algodoeiros do Sul não podiam sequer imaginar que pudessem viver sem este sistema que lhes aportava tanta riqueza, apesar da crescente indignação que provocava entre os brancos dos demais Estados esta flagrante violação dos mais elementares princípios cristãos e democráticos. Pouco a pouco as diferenças chegaram a dominar e envenenar a política norte-americana. 
             Curiosamente, o problema eclodiu exatamente nos territórios usurpados dos índios. Os estados do Norte e do Oeste haviam decidido que as terras recém-incorporadas do Kansas e outras somente deveriam ser trabalhadas por homens livres. Contudo, temiam que competindo abertamente com o sistema da escravidão, os agricultores livres pudessem sair prejudicados por falta de capital e custos mais elevados. Os Estados do Sul, por sua vez, temiam que se fosse proibida a extensão da escravidão aos novos territórios, eles ficariam demasiado enfraquecidos dentro da União para opor-se à facção do Norte, que era partidária da sua abolição. A violência entre as partes foi aumentando à medida que cada um considerava seu ponto de vista inalterável.
          Em 1860 essas duas posições já haviam alcançado o ponto da ruptura. A eleição de um presidente absolutamente contrário a escravidão, Abraham Lincoln, de Ilinóis, em novembro desse ano, convenceu os dirigentes do Sul que a União já não representava seus interesses. O estado da Carolina do Sul promulgou uma ordem de secessão no dia 20 de dezembro, e antes de Abraham Lincoln assumir o poder, em janeiro de 1861, seis Estados fizeram o mesmo.  Em fevereiro desse ano formaram uma nova República do Sul: Os estados Confederados da América do Norte. Impacientes por desfazer-se do Norte, atacaram Forte Sumter, na Baia de Charleston, obrigando-o a render-se em 13 de abril de 1861. Contudo, os Estados do Norte e o governo dos Estados Unidos, determinados a conserva o sistema político ao qual atribuíam grande parte do êxito dos últimos oitenta anos, decidiram sufocar a rebelião pela força. isto levou os estados Unidos do Alto Sul,  chefiados por Virgínia, a unir-se à Confederação e os estados Unidos mergulhou em uma grande guerra civil. 
            O Norte tinha grandes vantagens. Era três vezes mais rico que o Sul e sua indústria manufatureira era dez vezes superior (na fabricação de armas a relação era  de trinta para um) e a relação entre os navios mercantes era de nove para um. Além disso, o Norte recrutou 2,2 milhões de homens no transcurso da guerra, contra 800 mil do Sul. Mas o Sul teve suficientes recursos para adiar sua derrota durante  anos e estar inclusive, por vezes, próximo à vitória. Somente lhe bastava anular a vontade  dos nortistas para poder continuar. Pelo contrário, estes últimos tinham de reconquistar cada pedaço de terra do Sul. Foi uma luta renhida. 
          O exército da União sofreu mais de 600 mil baixas contra aproximadamente 400 mil da Confederação, porque durante grande parte da guerra o Sulo teve melhores comandantes; o mais famoso foi o general Robert E. Lee, considerado um dos militares mais hábeis do século. Paulatinamente, Abraham Lincoln foi emergindo como um grande presidente, capaz de convencer o mundo de que esta guerra era para assegurar a sobrevivência da democracia e a abolição da escravidão. Entretanto, finalmente, foi a estratégia nortista do desgaste, junto à intensa propaganda, que derrotou o general Lee.  Como resultante da "marcha em direção ao mar" através da Geórgia do general Sherman  e as sangrentas campanhas do general Grant na Virgínia, nos anos 1864 - 1865, o Sul ficou convertido em um deserto, com a metade de seu exército morto nos campos de batalha; no final prevaleceu a superioridade das forças do Norte. A união se manteve, e a escravidão, causa imediata da guerra, foi abolida. 
            A vitória do Norte não foi somente um triunfo dos objetivos políticos e sociais de unidade e emancipação, mas também para a modernização econômica. Antes da guerra, o sistema econômico escravocrata nas planícies do Sul e o capitalismo com trabalhadores livres do Norte foram motivo de um encarniçado conflito ideológico entre partidários escravocratas, que finalmente foi resolvido no campo de batalha. O Norte ganhou a guerra fundamentalmente porque sua economia moderna podia mobilizar maiores e melhores recursos para a guerra que o Sul, dedicado à agricultura. Ainda que muitos dos critérios de modernização - aumento da produtividade per capita agrícola e industrial, inovação tecnológica, urbanização, ampliação e elevação do nível educacional - estivessem presentes antes da guerra, sua aplicação se limitava essencialmente ap Norte. A guerra debilitou a classe governante do Sul e libertou a sua força de trabalho, removendo, deste modo, o principal obstáculo para o triunfo do capitalismo com mão-de-obra competitiva livre. 
            Entre 1825 e 1910, a economia norte-americana cresceu a uma taxa anual de 1,6% per capita. Ao mesmo tempo, a população - pelo crescimento natural e a constante imigração - duplicava-se a cada 27 anos, dando aos Estados Unidos a taxa de crescimento econômico mais rápida do mundo. 
        O que mais contribuiu para este resultado foi o crescimento da produção agrícola. A paulatina incorporação das terras virgens do Oeste, o aumento da mecanização e o uso de fertilizantes e de novas variedades de algodão, milho e trigo, assim como um manejo agrícola mais eficiente, fizeram dos Estados Unidos o primeiro produtor agrícola do mundo da época. 
          Os espetaculares avanços realizados em matéria de transporte entre 1790 e 1840 - estradas com pedágio, pontes, canais, navios a vapor de alta pressão e ferrovias - reduziram os custos, incrementaram o volume de transações e criaram novos mercados para os produtos agrícolas. Devido ao tamanho do país e ao fato de que a revolução industrial norte-americana coincidiu com a grande era da construção de ferrovias, estas desempenharam um papel mais importante no desenvolvimento econômico dos estados Unidos que em qualquer outro país. Ao redor de 1890, a rede ferroviária norte-americana era mais extensa que a de todas a Europa, incluindo as ilhas Britânicas e a Rússia. 
           Estes progressos na agricultura e no transporte, unidos à abundância de recursos, a uma população alfabetizada, à inovação tecnológica, à experiência administrativa, á estabilidade política e a uma ética empresarial amplamente compartilhada, promoveram investimentos de capital em grande escala e a rápida industrialização dos Estados Unidos no século XIX. O maior crescimento industrial ocorreu entre 1877 e 1892, quando as fábricas norte-americanas triplicaram sua produção. Por volta de 1890, os Estados Unidos já eram a primeira potência industrial do mundo. 
           No século XIX, os estados Unidos eram importadores de capital e grande parte do crescimento econômico do país foi impulsionado pelo investimento britânico e europeu. Durante a Primeira Guerra Mundial esse equilíbrio mudou; depois de 1918, os Estados unidos se converteram em exportador de capital. 
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sábado, 21 de novembro de 2020

O FIM DA IDADE MÉDIA E AS NOVAS MONARQUIAS

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      Ainda sob as sequelas da Peste negra, poucos observadores poderiam ter previsto que a Europa Cristã alcançaria a força política, econômica e tecnológica necessária para dominar o planeta. Seus Estados eram numerosos, pequenos e fracos, e permanentemente estavam desperdiçando suas energias em guerra destrutivas. A economia era precariamente desenvolvida e 90% da população morava em zonas rurais, trabalhando em atividades agrícolas de subsistência. A peste continuou incidindo periodicamente sobre a Europa, desde fins do século XIV até meados do século XVII. A expansão do Império Otomano continuava; próximo ao ano 1400, Bulgária e Sérvia estavam sob seu controle; Constantinopla caíra em 1453 e no início do século XVI todos os países dos Balcãs até Hungria e Transilvânia estariam sob o domínio islâmico. A Igreja Católica, já aflita pelo inconformismo e os desentendimentos, experimentou um profundo cisma ideológico devido à Reforma do século XVI, provocando lutas entre vizinhos e nações. mesmo assim, próximo ao ano de 1600, a Europa estava empenhada  em conseguir o controle da maior parte do mundo. 
         Mas, como isso aconteceu? Quais foram as forças que possibilitaram à Europa esquecer o mundo medieval e se projetar rumo à nascente era moderna? As razões que explicam este progresso são muito variadas. Por um lado, o crescimento econômico que havia começado no século XIII continuava apesar das desgraças; não foi um crescimento rápido, mas, em compensação, surgiu uma habilidade crescente para organizar eficazmente os recursos e adaptar-se às circunstâncias e oportunidades junto a uma vigorosa capacidade empresarial. Por outro lado, o desenvolvimento dos estudos seculares, principalmente o humanismo clássico, a ciência e a tecnologia, construiu uma força importante que floresceu no Renascimento europeu. O maior benefício destes fatores foi o crescimento das Nações-estados (precursoras de muitos Estados europeus modernos), sob a liderança de numerosos monarcas esclarecidos e  progressistas.   
         Uma circunstância concomitante da Nação-Estado foi o desenvolvimento de um novo corpo político: poderosas e complicadas burocracias e cortes, forças armadas mais profissionais e,acima de tudo (e talvez o mais importante), a aceitação de que o conhecimento, organizado e explorado de forma adequada, significa poder. 
        No fim do século XV, os avanços registrados no campo da navegação, com a confecção dos primeiros mapas e o aparecimento da bússola, favoreceram as viagens a lugares afastados. Com isto iniciou-se uma nova e apaixonante etapa da História humana, que marcou uma linha divisória entre o mundo medieval e o moderno, onde o Oceano Atlântico ofereceu extraordinárias e ambiciosas  perspectivas de abastecimento, de novas rotas comerciais, de novos e inexplorados territórios. O interesse pela exploração geográfica e pela conquista de lugares desconhecidos estimulou as vocações marítimas dos países da costa atlântica européia, especialmente Portugal e Espanha, que através de suas primeiras explorações e conquistas (Madeira, em 1421; Açores e cabo Verde, 1460; e Ilhas canárias etc.) introduziram os métodos que possibilitaram o descobrimento da América por Colombo e a circunavegação da Terra por Magalhães durante a última década do século XV e as primeiras décadas do século XVI. 
       Com estas transcendentais viagens exploratórias, os europeus alcançaram uma liderança política internacional, conseguindo uma importante superioridade para o futuro próximo: o domínio dos mares e o controle do comércio ultramarino. 
          O historiador indiano Panikkar descreveu o período compreendido entre 1498 e 1947, do descobrimento da rota marítima à Índia por Vasco da Gama até a declaração da independência desta nação, como a era européia da História Universal. Apesar de um certo grau de exagero, existe algo de verdade.A maior parte das civilizações medievais havia desenvolvido principalmente contatos terrestres, sendo os marítimos menos importantes. Desde o ano 1500 estabeleceu-se um contato direto, por via marítima, entre os continentes. Como resultado, o cenário da História não apenas expandiu para regiões que até então haviam percorrido seu próprio caminho, mas também rompeu-se o antigo equilíbrio entre as civilizações euro-asiáticas baseado nas contiguidades terrestres. As consequências seriam três séculos de conquistas, ocupações e colonialismo europeu em expansão e o surgimento de uma comunidade internacional liderada pela Europa e sua civilização até meados do século XX. 
          Como consequência dos retrocessos econômicos e políticos do século XIV, não existia nenhum Estado dominante na Europa ao redor do ano 1400. Alemanha e Itália estavam fragmentadas e nenhuma delas exercia uma influência. No leste, os poderosos Estados do século XIV desintegraram-se e os novos impérios, como os de Casimiro IV da Polônia (1447 - 1492) ou Matias Corvino da Hungria (1458 - 1490), resultaram insignificantes. No oeste, a Península Ibérica caía vítima da guerra civil, enquanto a França estava dividida pela feroz luta entre Borguinhões e Armagnacs, situação que piorou ainda mais quando Henrique V da Inglaterra (1413 - 1422), aliado da Borgonha, invadiu a Normandia no ano 1415 e estendeu o domínio inglês até o Loire. 
           este último equilíbrio instável rompeu-se depois em 1450. Os moscovitas e os otomanos dominaram rapidamente extensas zonas das estepes e das planícies da Europa Ocidental. No oeste, a Borgonha, a estrela nascente do século XV, aparentemente destinada a tornar-se uma potência líder entre a França e a Alemanha, foi dividida após a morte de Carlos, o Temerário, no campo de batalha no ano 1477. Já os ingleses foram expulso do território francês, exceto de Calais,em 1453. na Espanha, os reinos guerreiros de Castela e Aragão uniram-se em 1479, e em 1492 suas forças econômicas complementaram a reconquista da última fortaleza islâmica no país. Na Inglaterra, a perda da Normandia no ano de 1450 e os fracasso na França provocaram uma guerra civil, que ficou conhecida como a "Guerra das Duas Rosas". No entanto, depois de 1485, uma nova dinastia, os Tudor, conseguiu restituir a ordem e estender o controle real nas regiões mais afastadas mediante o Conselho do Norte e o Conselho da Marcha e de Gales. na Alemanha, uma série de alianças dinásticas uniram as terras dos Habsburgos com as de Luxemburgo em 1437 e Borgonha em 1477. Todas estas possessões, e posteriormente as da família imperial espanhola, foram legadas ao imperador Carlos V (1519 - 1556), tornando-o no maior dos monarcas cristãos desde Carlos Magno. Ele ampliou cada uma destas heranças e o temor da hegemonia dos Habsburgos dominou a Europa por dois séculos.  
          Os estados que conseguiram estas conquistas territoriais eram muito diferentes das monarquias feudais dos séculos XII e XIII. Falava-se de  novos conceitos na arte de governar, exemplificados para as gerações posteriores pelo famoso tratado de Maquiavel, O Príncipe,  e criaram-se  novas instituições para aumentar a autoridade do rei.  Novos tribunais, como a Câmara Estrelada Inglesa, estabeleceram-se para impor a lei e a ordem:; foram introduzidos novos impostos, como a taille francesa de 1439, e mecanismos para arrecadá-los. No campo internacional, em,baixadores permanentes vigiavam as ações dos Estados vizinhos. Também houve um notável crescimento dos exércitos e das armas. Na França, regimentos regulares reais, antecessores do Exército permanente, foram recrutados a partir do ano 1445, e Luiz XI (1461 - 1483) pôde dispor das melhores colunas de artilharia da Europa nas suas lutas contra inimigos estrangeiros e vassalos poderosos. As forças armadas do rei da Espanha contavam somente com 30 mil homens em 1470; porém, sessenta anos depois, haviam chegado a 150 mil. 
       A atitude dos novos monarcas foi manifestada  por Matias Corvino quando disse, perante uma assembléia silesiana no ano de 1474, que era "senhor e rei" e que o que ele e seus conselheiros consideravam o melhor para eles era "atuar como vassalos obedientes". Os habitantes de muitos países, principalmente as classes comerciantes, estavam dispostos a tolerar esta forma de absolutismo real em troca de segurança e do fim da guerra civil. A recuperação econômica, efetiva dese 1450, ajudou gerando mais impostos. A guerra civil e as recentes economias haviam enfraquecido a antiga nobreza, sendo a Igreja submetida também a um crescente controle real. Em várias concordatas com a Áustria (1448), a França (1516) e a Espanha (1526), o papado foi obrigado a conceder direitos de grande importância sobre as Igrejas nacionais e em vários países protestantes o governante assumiu abertamente o controle sobre os assuntos espirituais. Henrique VII da Inglaterra, por exemplo, declarou-se em 1534 o Líder Supremo da Igreja da Inglaterra. Contudo, a organização institucional das novas monarquias era mais frágil do que parecia, e sua suposta modernidade não escapava ao superficialismo. O novo e exaltado sentido de autoridade do príncipe se projetou no futuro, porém, monarcas como Carlos, o Temerário, de Borgonha e maximiliano I da Áustria, e inclusive Carlos V, que abdicou em 1556 e passou seus últimos anos em reclusão monástica, mantiveram-se fiéis aos ideais da época dos cavaleiros. O Estado secular, no qual a política está divorciada da religião e organizada em torno de um sistema de governo impessoal, centralizado e unificador, estava ainda a dois séculos de distância; as  novas monarquias eram, no melhor dos casos, suas precursoras. 
       Os acontecimentos dos últimos anos do século XV abriram um futuro econômico promissor para a Europa. Com o descobrimento da América pelos espanhóis e a chegada dos portugueses à Índia, o comércio e as finanças, que realmente haviam ultrapassado o contente, estenderam seus horizontes até lugares remotos do globo terrestre. As novas oportunidades para obter lucro logo transformaram os modelos tradicionais do comércio medieval nas estruturas básicas do mundo comercial moderno. 
          No ano de 1500, a riqueza e o desenvolvimento urbano estavam concentrados principalmente  em torno do mediterrâneo e basicamente na Itália. Ali, com exceção de paris, era onde estavam as únicas cidades com mais de 100 mil habitantes: Nápoles, Veneza, Milão e Constantinopla. Nesta última, mantinha-se o equilíbrio entre o norte e o sul  e entre a Europa e o Oriente. Via terrestre,desde a Ásia e o Levante, as caravanas árabes, falidas pelos altos custos dos intermediários, transportavam especiarias, sedas, algodão e medicamentos. Através do Saara, chegavam o ouro e o marfim. Via marítima, Veneza garantia as viagens e organizava as frotas de galeras mercantes que navegavam o Mediterrâneo e, inclusive, aventuravam-se além de Gibraltar para a Inglaterra e Flandres. De Veneza a Nápoles, a duração de uma viagem por terra era de  9 dias, de 27 dias até Londres ou 46 dias até Lisboa e, via marítima,de 65 dias até a Alexandria. 
        No norte, o comércio e o povoamento eram mais escassos. Inclusive entre as famosas Reichstadte do sacro Império Romano-Germânico, apenas Augsburgo e Colônia podiam sustentar mais de 40 mil cidadãos. Caminhos ruins, transporte precário e a lentidão das comunicações acentuavam as diferenças regionais, isolando as comunidades num caleidoscópio de mercados locais. 
           Apesar das dificuldades, as conexões italianas chegavam a todos os lugares. Os Médicis de Florença, seguindo o exemplo dos Bardi e Peruzzi um século e meio antes, controlavam importantes sucursais bancárias nas principais capitais setentrionais. O norte especializou-se em produtos marinhos, agrícolas, mineiros e florestais, muitos dos quais eram monopolizados pelos mercadores da Liga Hanseática.  A Hansa era uma associação de  cidades alemães que promovia monopólios comerciais, conseguindo privilégios exclusivos na Escandinávia, nos Países Baixos, R[ussia, Alemanha e Inglaterra. Suas atividades estavam baseadas principalmente numa rede de cidades na Alemanha e quatro grandes feitorias ou kontore: o Tyskebrugge em Bergen (madeira e peixe), o Peterhof em Novgorod (couros), o Steelyard em Londres (lã e tecidos) e as Assembleias em Bruges (tecidos).  este último foi o principal entreposto de armazenagem que unia os interesses do Mediterrâneo com os do Báltico e o Mar do Norte, até que a capacidade do seu porto foi excedida no fim do século XV. Enquanto isso, as exigências de crédito e pagamentos necessários para facilitar a movimentação de mercadorias ainda eram satisfeita pelas grandes feiras periódicas que haviam surgido durante a Idade Média. Depois da breve prosperidade de Genebra, a feira de Lyon tornou-se a mais famosa do século XV, devido á sua estratégica localização na grande rota comercial do vale do Ródano. 
            No entanto, a estrutura do comércio tradicional era cada vez menos adequada. Já não podia mais dar continuidade às oportunidades oferecidas pelo Atlântico: os fluxos crescentes de ouro e de prata e as façanhas comerciais dos mescadores de Portugal e da Espanha. Próximo a 1550, estas duas grandes potências coloniais não somente haviam descortinado o mundo, mas também descobriram a necessidade de investir em novos métodos e instituições. Portugueses e espanhóis precisavam desenvolver uma tecnologia  avançada para conquistar os oceanos, descobrir rotas marítimas mais rentáveis e treinar os marinheiros para dominar ventos e correntes diferentes daquelas que existiam nos mares Adriático e Egeu. Surgiram novas estruturas de mercado para satisfazer  as variadas solicitações e necessidades. As feiras periódicas deram passagem a mercados mais permanentes, abertos todos os dias da semana e o ano inteiro. Com o eclipse de Bruges, a comunidade mercantil se deslocou para Antuérpia, sobre o Rio Scheldt, que se tornou um ponto de encontro para a Europa graças ao seu acesso ano reno, às cidades produtoras de tecidos de Flandres Meridional e a suas  versáteis  e convenientes facilidades financeiras. 
         Junto com o desenvolvimento do comércio surgiu uma nova geração de prósperos mercadores e banqueiros, destacaram-se  os Függers de Augsburgo. Ainda que a Hansa e Bruxelas houvessem declinado de forma progressiva e as potências ibéricas crescido vigorosamente, depois de um retrocesso inicial, Veneza  encontrou uma maneira de chegar a um acordo com os portugueses. O equilíbrio das forças políticas e econômicas estava mudando. Quando Carlos V subiu ao trono imperial em 1519, ficaram reunidos sob um único monarca todo o Sacro Império Romano-Germânico, a Espanha, os Países Baixos, a Alemanha, a Áustria e a maioria do Novo Mundo, sendo em grande parte os Függers aqueles que haviam financiado esta empreitada. De origem camponesa a dedicado à exploração da prata, cobre e mercúrio, esta família alemã tronou-se imensamente rica e poderosa ao converter-se em agiotas da corte e da aristocracia.  Como a garantia, habitualmente o Függers exigiam direitos ao monopólio sobre diversas atividades comerciais, de mineração e sobre a arrecadação de impostos públicos. Controlavam a alfândega espanhola e ampliaram gradativamente sua influência através de todo o império e suas colônias de ultramar. Suas operações estendiam-se de Dantzig até Lisboa, de Budapeste até Roma e de Moscou até o Chile. Certamente, o famoso empréstimo que fizeram em 1552 a Carlos V em Villach salvou, provavelmente, sua campanha militar da derrota. 
                Ao desenvolver as atividades bancárias, as cartas de crédito e os cheques, os mercadores italianos do século XIV estavam copiando uma invenção muçulmana.Entretanto, inicialmente estes estiveram limitados às empresas privadas. Somente a partir de 1580 surgiram bancos públicos de importância, avalizados pelos Estado: o Banco de San Giorgio, de Gênova (1584, e o Banco Rialto, de Veneza (1587, na Itália; e depois, na Europa Setentrional, o Banco de Intercâmbio, de Amsterdã (1609), e o Banco de Hamburgo (1619). A quantidade de dinheiro administrado por estas instituições era colossal. A partir de 1580, os bancos genoveses manejavam mais de 11 milhões de libras esterlinas cada ano, isto é, aproximadamente, trinta vezes o total das receitas anuais da Inglaterra de Elizabeth I e seis vezes as da Espanha, o estado europeu mais rico do seu tempo. 

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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

REINOS AFRICANOS

 

               A história dos reinados e impérios  negros da África admite, ainda  hoje, muitos pontos obscuros e muitas lacunas. A vida e depois a morte deste ou daquele reino, o esplendor e depois a queda brutal  deste ou daquele império, nos são em grande parte desconhecidos. Há muitas razões para isso. Os Estados africanos que existiram durante  a Idade Média deixaram apenas arquivos  raros, incompletos e, frequentemente, incompreensíveis.  E a maior parte desses estados não dispunha de arquivo algum. As outras fontes, sejam escritas ou orais, são frequentemente imprecisas, até incoerentes, e é preciso constantemente interpretá-las e retificá-las.  "A história da África medieval", escreve  o grande arqueólogo Henri Lhote, "é cheia de ambiguidade, de incertezas, de dúvidas. Só as futuras descobertas da arqueologia nos permitirão, talvez, preencher as lacunas consideráveis dessas história". A arqueologia tem melhores condições  para revelar-nos florestas, especialmente ao valer-se de uma quantidade de disciplinas científicas em todos os estágios de seu desenvolvimento. 
           No período compreendido entre os anos 900 e 1500 houve crescimento de Estados em grande parte da região setentrional da África, intimamente associados com a consolidação de laços comerciais. Encontram-se no Saara escultura  em rocha que datam do ano  1. a.C. e que representam quadrigas, o que significa que já existiam contatos entre o Mediterrâneo e a África Subsaariana. A primeira consequência tangível desse comércio foi o desenvolvimento da fundição do ferro na África Tropical. Apesar de recentes reivindicações de que a fundição do ferro foi inventada e desenvolvida localmente na região, a ausência de qualquer tradição metalúrgica anterior - não existiu Idade do Bronze na África Subsaariana  torna improvável esta tese. A evidência mais antiga de fundição de ferro encontrada ao sul do Saara provém da área localizada justamente ao norte da confluência no Niger e do Benue. Neste lugar, os fornos de fundição de ferro de Taruga datam aproximadamente do ano 450 a.C. Este desenvolvimento pode ter sido consequência direta  do comércio fenício através do Saara. 
             O ritmo dos contatos transaarianos incrementou-se no século VIII d.C. quando os mercadores muçulmanos vindos do litoral do norte da África começaram a penetrar nas regiões do Subsaara. O Islã havia se estendido pela África Setentrional no século anterior e os comerciantes muçulmanos operavam ativamente tanto no Mediterrâneo com no longo das rotas comerciais terrestres. Para estes mercadores, o deserto do Saara era como um oceano, com "portos comerciais" nos limites sul e norte, onde estabeleceram colônias e quartéis. Os artigos de luxo, como lâmpadas de óleo, vidro, cerâmica fina e conchas de cauri, eram trazidas do norte e trocadas por escravos e produtos da selva e da savana, como marfim, ébano e ouro. 
            A necessidade das cidades litorâneas de se abastecerem de matérias-primas, junto ao interesse das regiões do interior em adquirirem certos bens santuários, fez com que surgisse entre elas um importante intercâmbio comercial. A escultura de Sanga, Zaire, do século XII, além de muitos objetos encontrados neste túmulo, como as joias de cobre e conchas  de ciprea, revelam a importância do comércio entre regiões, às vezes afastadas. Também a figura antropomórfica de bonze, provavelmente do Grande Zimbábue. (século XII a XIV; a Caldeira de Kilwa com adornos na borda inferior. A maior parte da cerâmica encontrada em Kilwa era importada do Oriente no século XIV. 
            Gana, provavelmente o primeiro dos estados da  África Ocidental, estava estrategicamente localizado entre as jazidas de ouro do sudoeste e os consumidores do norte da África. Foram encontrados densos grupos de assentamentos na fértil terra do delta do Niger, importante região onde o rio divide-se em vários braços. Este foi um antigo centro de cultivo do arroz africano. Estes assentamentos dependiam dessas colheitas e de outros cultivos básicos para o sustento. Dai surgiu o primeiro centro urbano no sul do Saara conhecido até agora: Jenne-Jeno. Antes da chegada dos árabes, a cidade era essencialmente um centro de comércio local, embora de razoável tamanho e importância. A chegada dos árabes no século VIII incrementou sua importância quando introduziu artigos suntuários do comércio a distância. Entretanto, o comércio local continuou sendo prioritário para a economia de Jenne-Jeno e acidade teve um papel significativo como exportadora de alimentos para as cidades nascentes em áreas menos férteis ao longo do limite meridional do deserto, como Tombuctu, que se desenvolveu como um importante mercado de sal. Jeene-jeno, localizada numa ilha do Rio Niger, é a cidade mais antiga conhecida ao sul do Saara.  Foi habitada inicialmente, ao redor do ano 200 d.C., por povos que conheciam o ferro, mas o povoamento intensivo somente começou em 400 d.C., alcançando seu apogeu 500 anos depois. A muralha de tijolos da cidade (400 - 800 d.C.) tinha até 11 m de largura e 2 quilômetros  de circunferência, circundava casas de adobe circulares e retangulares. O fértil terreno aluvial do delta do Niger garantia sua sobrevivência e de sua grande população. A cidade estava bem localizada para o comércio, já os objetos volumosos podiam ser transportados por via fluvial com facilidade. Era um próspero centro urbano antes da chegada dos mercadores muçulmanos no século VIII. 
             O comércio continuou prosperando através do Saara e os mercadores muçulmanos que se fixaram nas cidades dos limite do deserto e no entorno da savana difundiram rapidamente sua fé entre a população nativa, substituindo religiões tradicionais africanas, que sobreviveram somente ao sul da África Ocidental. Contudo, o avanço da nova fé foi vagaroso e, às vezes, as práticas religiosas misturavam-se. Em Mali, por exemplo, os enterros continuaram sendo feitos  em túmulos, como nas épocas antigas, mas a partir de então o túmulo foi orientado em direção leste-oeste de acordo às normas islâmicas.
              Enquanto cidades como Jenne-Jeno desenvolviam-se  ao redor da savana, novos reinos emergiam ao sul, ao longo do limite da selva tropical. 
      O surgimento das elites indígenas pode ser datado no século VIII d.C. sendo que o controle do  comércio foi mais uma vez o elemento crucial. As elites do sul derivaram seu poder da exploração de recurso florestais que comercializavam ao norte com os intermediários do Sahel e com as cidades da savana. As novas elites do sul representaram uma procura crescente por artigos de luxo que estimulou os artesãos locais. Esta demanda originou a especialização e novas técnicas de manufatura. Utilizava-se o método da fundição à "cera perdida" para o latão e o bronze, talvez introduzido, junto com o cobre do Saara, pelo mundo mediterrâneo devido aos contatos desenvolvidos nas rotas comerciais transaarianas. A escassez de água e os contínuos ataques às caravanas não impediram que os comerciantes muçulmanos desenvolvessem um intenso comércio.
            Esta perigosa viagem era lenta e feita dos pontos comerciais até ambos extremos do deserto, como, por exemplo, Sijilmassa e Walata. Transportavam  objetos de valor e sal para os território da África negra ao sul do Saara. Em troca obtinham metais preciosos, peles e escravos.
          Existem poucos portos naturais na África ao sul do Saara. as linhas terrestres de comunicação, que servem tanto para o comércio como para as ideias, têm sido mais importantes do que as rotas marítimas, com exceção do Mar Vermelho e partes do litoral da África Oriental. Neste sentido a história medieval da África foi totalmente diferente da européia. Os grandes impérios da África, que nasceram e floresceram durante os anos 900 e 1500, eram todos Estados mediterrâneos, com frequência localizados no coração do continente. Ao contrário da Europa, a África tendeu a desenvolver-se para o interior. 
              Ifé, a capital do povo ioruba, era famosa pelas suas cabeças rituais de latão fundido com refinada técnica. A fundição de ferro também expandiu-se, sendo a região de bosques uma fonte tanto de minério de ferro quanto de madeira para fundição. 
          Situada na orla das florestas equatoriais que se estendem ao sudeste da atual Nigéria, a antiga cidade de Ifê não cessa, desde o começo do século, de deslumbrar arqueólogos e historiadores da arte. Na Idade média, sendo capital religiosa e artística do território ioruba que cobria uma parte da Nigéria, o sudeste e o centro da atual República do Daomé, fonte mística do poder e da legitimidade, lugar onde partia a consagração espiritual e para onde voltavam os restos mortais e as insígnias de todos os reis iorubas, Ifê continua um dos mais fascinantes enigmas da África antiga. 
           A civilização de Ifê, ainda hoje pouco conhecida, apresenta uma criação artística variada, de um admirável realismo, enquanto que a arte africana é geralmente abstrata. Pelo material empregado, a arte de Ifê espanta e abisma os historiadores e os africanistas: ao lado de esculturas em pedra e em barro, tradicionais da África, em Ifê, desenterraram-se também esculturas em bronze.
           O surgimento das elites do sul revela-se arqueologicamente  com a afortunada descoberta do túmulo de um dignatário em Igbo Ukbu, próximo do Rio Niger. Neste lugar existiam dois grandes poços retangulares: um deles continha a sepultura de um monarca, ataviado com suas insignias reais, e o outro, próximo do primeiro, continha os ricos materiais e elementos de um santuário. O nível da fundição de cobre exibido demonstra o alto grau de conhecimento que a os artesãos nativos da África Ocidental haviam atingidos por volta do século VII ou IX d.C.  
           A idade Média foi testemunha da prodigiosa expansão da civilização do Velho mundo que alcançou, pela primeira vez, os limites da Eurásia. Surgiram poderosos reinos e grandes monumentos em novas áreas. Na África, ao sul do Saara, por exemplo, os povos bantos, já familiarizados com o uso do ferro, construíram notáveis recintos de pedra no Grande Zimbábue, enquanto, concomitantemente, enormes capitais muradas e túmulos ricamente adornados dão provas do surgimento de Estados centralizados na África Ocidental, sustentados pelas ricas reservas de ouro da região. Enquanto esses significativos progressos ocorriam na Velho Mundo, no Novo Mundo aconteciam mudanças transcendentais, com o nascimento de vigorosos impérios na América Central e na América do Sul.  No México Central e na América do Sul. No  México, a antiga tradição da civilização foi aproveitada pelos astecas, que criaram um império assentado na guerra e nos sacrifícios sangrentos. Mais ao sul, no Peru, os incas foram os depositários do poder hegemônico. Recolhendo a herança da civilização sul=-americana dos chimúes, criaram o maior de todos os impérios do Novo Mundo. Abrangia do Equador ao Chile meridional, ligado por um extenso sistema de caminhos. Além disso, enquanto os incas construíam seus caminhos e os astecas inauguravam seus grandiosos templos piramidais, as comunidades dispersas das ilhas do pacífico desenvolveram culturas próprias no Havaí e na Ilha de Páscoa.
            O Grande Zimbábue é o maior e o mais célebre de uma série de recintos de pedra da África Oriental que data dos séculos X a XV d.C. O recinto principal, o Edifício Elíptico, é a maior estrutura de pedra desse período encontrada na África Subsaariana, possivelmente a residência do chefe e seus familiares. No lugar foram encontrados objetos de luxo, incluindo cerâmica chinesa e islâmica, conchas de cauri e contas vindas de cidades litorâneas como Kilwa, que os mercadores shawahili comercializavam provavelmente através do Rio Sabi.  O Grande Zimbábue fornecia matérias-primas para as cidades litorâneas, principalmente ouro, cobre, estanho e ferro. É possível que os monarcas aborígenes arrecadassem impostos, principalmente alimentos, mercadorias e mão-de-obra, da população agrícola vizinha. A jazida decaiu em 1450 d.C.
           A  Grande Zimbábue foi construída sobre e ao redor de rochas naturais de granitos, cercadas por duas muralhas curvas de mais de 9 m de altura, coroadas com monólitos de alvenaria que possivelmente tinham uma função ritual. Ali foram encontrados os assentamentos mais antigos do século X d.C., bem como colunas de esteatita, baixelas e pequenas figuras humanas. 
               O Edifício Elíptico ou Grande Recinto, era o centro político e ritual de todo o assentamento que continha as choças chamadas daga (em argila e pedregulho) do rei  e seu séquito. A muralha exterior foi construída depois, aumentando em tamanho e qualidade à media que avançava. Na sua etapa final media 244 metros de comprimento, 5,2 metros de espessura e 9,8 metros de altura, e foi coroada por monólitos.  A Torre cônica construída durante a última fase, com 5,5 metros de diâmetro e 10,4 metros de altura com a parte superior truncada. Acreditava-se que representava um chefe primitivo e pode ter servido também para uma função ritual. 
                  Todas essas civilizações foram obra de povos  governados por poderosos monarcas.
              Os Estados e centros urbanos da África Ocidental desenvolveram-se numa escala sem precedentes no século XIII e seguintes. Mais uma vez, o comércio foi fator decisivo e o contato com os mercadores islâmicos do norte da África foi fundamental.  De fato, em torno de 13560, pelo menos dois terços da produção mundial de ouro vinham da África Ocidental. O surgimento e a queda dos reinos da savana é atribuído, em grande parte, às mudanças políticas e econômicas. No oeste, o Império Mali exerceu o controle parcial do Rio Niger e das importantes cidades comerciais ali localizadas. Mali era um império tão vasto e rico que na realidade, quando em 1324 o rei Mansa  Musa peregrinou a Meca, a quantidade de ouro que ele e seu séquito levaram desvalorizou temporariamente  a moeda do Cairo. Entretanto, no século XV, a exploração de novas fontes de ouro em Akan ocasionou a reorganização das rotas comerciais para o leste e Mali foi substituída por Songhai. Ao mesmo tempo, e centralizado no lago Chad, nasceu o poderoso estado de Bornu, que incorporou o antigo reino de Kanem. Os reis kanuris de Bornu, conhecidos como Maias, acabaram sendo uma das dinastias mais longevas da História, sendo destronados finalmente no século XIX. 
         A construção de espetaculares mesquitas, feitas de tijolos de barro, nas principais cidades desses Estados da savana, como as de Jeene e Tombuctu, ilustra a difusão do Islã entre as classes  reinantes e dos comerciantes nos séculos XIII e XIV. Muitas dessas mesquitas foram erguidas graças à conduta mecênica dos reis. 
           Próximo ao fim da Idade Média, enquanto a Europa experimentava uma decadência após os estragos da Peste Negra e da Guerra dos Cem Anos, os reinos negros do Sudão Ocidental e Central estavam no seu apogeu. Vários reis africanos - Mansa Musa e Sonni Ali, para somente dois  - eram famosos em todo o Islã e no mundo cristão à sua riqueza, brilho e às criações artísticas dos seus súditos. Suas capitais eram enormes cidades muradas, lotadas de mercadores de várias nacionalidades. Ao lado das mesquitas erguiam-se universidades (em Tombuctu e Jenne, por exemplo) que atraíam eruditos e poetas de todas as partes. O domínio destes reis africanos era amplamente reconhecido e exercido mediante uma combinação de poder militar e de diplomacia, incluindo alianças matrimoniais com chefes locais. Os juízes reais exerciam a justiça, e a burocracia real administrava os impostos e controlava o comércio, o sangue dos impérios da savana. 
         Mais ao sul, também ocorreram progressos espetaculares nos séculos XIII e XV, embora a escassez de fontes históricas torne difícil acompanhar os detalhes. Contudo, fica claro que nasceram vários Estados poderosos cujas riquezas  estavam baseadas no ouro de Akan e numa variedade de outros produtos essenciais, noz-de-cola, marfim e escravos. à medida que se formavam os reinos e floresciam as economias, apareciam os primeiros povoados e cidades na região da selva. No mesmo Akan, existiam vários Estados pequenos e sabe-se que as cidades de Bono Manso e Begho foram importantes centros políticos. Begho, entre 1400 e 1750, era uma cidade mercado que atuava como centro de coleta de ouro e mantinha estreitos vínculos com o Império Mali, principalmente com a grande cidade comercial de Jenne. O comércio exterior da cidade reflete-se diretamente no seu sistema de pesos e medidas. No início, eram utilizadas as unidades islâmicas de peso na corte do rei Begho, clara evidência da importância das rotas que iam de Begho para os centros islâmicos da savana e o Sahel e, depois, através do Saara para o Mediterrâneo. Contudo, ao redor de 1500, os pesos islâmicos foram substituídos pelo padrão europeu, introduzido pelos mercadores portugueses.  A chegada de navios lusitanos no litoral africano ocidental transtornou seriamente o comércio tradicional transsaariano quando abriu importantes  e novos mercados de exportação ao sul. 
            Na Nigéria, o reino meridional mais importante desse período foi Benin. Fundado no século XI ou XII, estava centralizado na grande cidade de Benin, onde o obá, que era o chefe político e religioso, morava com sua corte. A economia de Benin baseava-se no comércio, principalmente de escravos, primeiro com os reinos da savana ao norte e em seguida com os europeus pelo litoral. A cidade em si estava cercada por enormes aterros, incluindo um circuíto interno de defesa que media 17  metros desde o fundo da vala até a parte superior dos muros. Um sistema defensivo desse porte deve ter exigido muitas horas e homens para ser construído, fato que evidencia o poder doas obas. Entretanto, é provável que as relíquias mais famosas do reino de Benin sejam as cabeças de latão, algumas datadas do século XV. Similares às antigas cabeças de latão e terra-cota de Ifé, representam os obas, chefes de tribos,  cerimônias da corte, caçadores, comerciantes e inclusive soldados portugueses. A maioria das cabeças de latão de Benin foram roubadas por colonos europeus no século XIX e doadas a museus ocidentais, restando pouquíssimas na Nigéria. Atualmente, algumas dessas peças estão retornando para sua terra de origem. 
         Os povos bantos da África careciam de cidades e não conheciam a escrita. Sua arquitetura monumental, fruto de um florescimento cultural local que devia pouco ou nada ao contato  externo, permite, porém, outorgar-lhe a categoria de civilização. 
           O argumento levantado no início deste século de que as maravilhas do Grande Zimbábue não puderam ser criadas por africanos negros, mas devia-se à influência do Oriente Próximo - dos navegantes fenícios ou da rainha de Sabá - já não é levado a sério pelos arqueólogos atuais. Porém, negar esses românticos mitos modernos a respeito do passado não tornam menos impressionantes as grandes estátuas da Ilha de Páscoa ou as muralhas do Grande Zimbábue; pelo contrário, serve para aumentar nossa admiração pelas grandes obras feitas pelas sociedades humanas de diversas partes do mundo durante o período conhecido na história européia com Idade Média. 
          Enquanto a África Ocidental estava separada  das civilizações clássicas da Grécia e de Roma pelas areias do Saara, a Africa Oriental estava  isolada por montanhas e pântanos. Um dos traços  mais importantes da história africana é a influência egípcia circunscrita à parte setentrional do grande Vale do Nilo. Fica evidente que fortes influências egípcias penetraram o Sudão pelo menos até a confluência do Nilo Azul e o Nilo Branco em Kartum. Mais além, porém, interferiam barreiras naturais: as terras altas etíopes e o pântano Sudd. Desta forma as civilizações nativas  que se desenvolveram na Etiópia possuíam mais vínculos com a Arábia do que com o Egito. 
           O primeiro  grande reino que surgiu na África Oriental deveu muito do seu desenvolvimento aos prósperos contatos comerciais com as ativas cidades do Egito e do Mediterrâneo Oriental. Aparentemente, a procura por incenso e mirra, espécies aromáticas disponíveis somente na Arábia Meridional e na Somália, ativou o motor da civilização. O Egito, principalmente, utilizava o incenso em cerimônias religiosas e abalsamamento, enquanto a mirra era usada frequentemente em todo o Oriente Próximo como matéria-prima de caros perfumes e cosméticos. No início, a mirra e o incenso eram comercializados pelas caravanas de camelos ao longo das rotas terrestres, desde a Arábia Meridional, através d Meca e Medina, até Petra, o Jordão e o Mediterrâneo. 

            Contudo, quando os conhecimentos marítimos se aperfeiçoaram, uma crescente proporção do comércio passou a utilizar as rotas marítimas e este avanço trouxe às primeira civilizações da Etiópia sua grande oportunidade. Um importante reino nasceu à beira do Mar Vermelho, tendo por centro Axum, sua capital. Próximo ao século IV d.C., Axum havia se tornado o poder comercial predominante da região com frotas de barcos mercantes que utilizavam as vias marítimas não apenas até o cabo do mar  Vermelho, mas também até a Pérsia, Índia e Zanzibar. Axum atuava tanto como exportador  de marfim e outros produtos da África Oriental como também de intermediário do comércio marítimo entre o mundo mediterrâneo e os mercados de especiarias da Índia. No sécvuloIV, os reis de Axum se converteram ao cristianismo e daí em diante existiram laços diplomáticos entre este vigoroso  Estado e o Império de Bizâncio, embora Axum sempre guardasse certa distância política e religiosa. 
          O reino de Axum floresceu durante mais de 5500 anos, desde o século III até o século VIII d.C., estabelecendo as bases de uma civilização cristã duradoura que deu origem à lenda européia medieval do Preste João, um poderoso protetor cristão que governava uma terra axótica e misteriosa. 
            A Igreja Cristã floresceu no Egito pós-romano e, aproximadamente, no ano 300 d.C. expandiu-se em direção ao sul para estabelecer-se na Etiópia sob os monarcas de Axum. Os reis de Axum diziam sere descendentes diretos de Salomão e da rainha de Sabá. O cristianismo de Axum, uma vez que seus vizinhos se converteram ao Islã, levou-os a um isolamento e à decadência final. Para impedir esse processo, o centro do poder transladou-se ao sul, para Lalibela, onde por volta de 1200 construíram dez amplas igrejas esculpidas na rocha, ainda em uso na atualidade, apesare de isoladas do resto do mundo cristão durante muitos séculos. A Etiópia conservou sua fé característica e seus rituais coptos. A igreja de São Jorge na Lalibela foi esculpida em rocha viva. 
           A realidade era menos impressionante. O surgimento do Islã no século VII, começou a ameaçar a supremacia do reino de Axum, e um ataque sobre Jidda,o porto de Meca, em 1702, desencadeou toda a fúria da vingança muçulmana. A dinastia axumita manteve precária existência por outros 200 anos e, finalmente, extinguiu-se no século X. Contudo, a tradição cristã conseguiu ser mais permanente, apesar dos ataques islâmicos que partiam do vale do Nilo e do Mar vermelho. Uma nova dinastia cristã fundou sua capital em Lalibela, no século XII, construindo, durante os séculos que se seguiram, uma série de grandiosas igrejas esculpidas em rocha, principalmente na capital. 
           A Etiópia cristã sobreviveu,porém, somente como um Estado isolado, cercado por potências islâmicas hostis. Mais do sul, o Islã, e não o cristianismo, era a religião dominante ao longo do litoral da África Oriental. Os mercadores árabes começaram a comercializar e a estabelecer-se ali no século IX, criando prósperas cidades comerciais, como Manda, que exportava madeira de mangue e possivelmente ferro e marfim em troca de fina cerâmica e outras importações de luxo. Ao redor do século XIII, a hegemonia havia passado de manda  para Kilwa, onde os edifícios de pedra e argamassa  começaram a substituir os de adobe. Um palácio extraordinário, o Husumi Kubwa, foi erguido para a dinastia árabe governante desse importante porto comercial. Da mesma forma que tinha acontecido com mandas, Kilwa dependia muito das exportações de matérias-primas típicas da África Oriental, como ouro, marfim, chifres, couros, casco de tartarugas marinhas e escravos do interior. tais mercadorias eram vendidas na arábia e na Índia em troca de cerâmica chinesa e islâmica. 
             O comércio árabe exerceu uma grande estímulo sobre o desenvolvimento econômico e social do interior. Como na África Ocidental, os primeiros assentamentos comerciais islâmicos foram logo seguidos pelo desenvolvimento de Estados centralizados nas regiões florestais de onde se obtinham valiosas matérias-primas. O comércio no interior da África Oriental ficou nas mãos de uma poderosa elite que controlava a exportação de matérias-primas para o litoral e utilizava as importações e os artigos de metal produzidos na região para mostrar seu prestígio e nível social. Em lugares como Ingombe Ilede, o cobre era fundido em molde em forma de cruz e os lingotes assim produzidos  eram amplamente comercializados, e é provável que serviram como uma espécie de moeda.  
              Os magníficos recintos de pedra no Grande Zimbábue eram certamente o centro de operações de um grupo de governantes que controlava a produção e exportação de ouro das planícies do Zimbábue. O Grande Zimbábue era, sem dúvida,o maior assentamento do seu gênero, abrangendo cerca de 40 hectares antes de sua decadência no século XV; entretanto, existiam mais de uma centena destes recintos de pedra na região. Alguns deles alojavam famílias individuais, enquanto outros, como Chummungwa e Manekweni, eram capitais territoriais. Em conjunto, constituíam um sistema comercial integrado que estava unido ao litoral. Outros sinais de mudanças sociais podem ser observados nas sepulturas de Sanga, no Zaire. Antes de 1300, os túmulos desse cemitério continham cerâmica e metal, inclusive jóias de cobre; o metal era extraído a cerca de 300 quilômetros ao sul, em Kansanshi e Kipushi. Num curto espaço de tempo, porém, estes objetos de valor foram complementados por outros artigos, entre eles gongos de ferro, que ainda são considerados símbolos tradicionais da monarquia na região. 
          A semelhança entre o desenvolvimento da África Ocidental e Oriental é impressionante. Em ambos os casos, os primeiros sinais da civilização foram rapidamente ultrapassados pelo tremendo impacto dos mercadores islâmicos de regiões mais povoadas. O deserto do Saara e o Oceano Índico tiveram papéis compatíveis neste processo, ambos atuando como barreiras, mas aumentando, ao mesmo tempo, o valor dos produtos comercializados por seu intermédio. As cidades comerciais muçulmanas da savana da África Ocidental foram cabeças de ponte da mesma forma que os povos árabes no litoral da África Oriental. Em ambas as regiões, o resultado não foi apenas o estabelecimento de novos Estados islâmicos, mas também o desenvolvimento das primeiras civilizações autenticamente nativas da África do Subsaara: Benin, Akan e Zimbábue.
         As civilizações medievais da África, Polinésia e América, sem ligação com o mundo clássico da Eurásia, ilustram a diversidade das realizações humanas e a expressão cultural em uma escala geograficamente mais ampla que nunca. É surpreendente pensar, por exemplo, que no 1487, quando Michelangelo tinha 12 anos, os astecas sacrificaram 20 mil pessoas na consagração de seu novo templo em Tenochtitlán. Foram os caminhos separados e independentes do desenvolvimento cultural nas diferentes regiões do mundo que contribuíram para esses surpreendentes contrastes. Contudo, os dias da grande diversidade já estavam por terminar. os reinos africanos acharam-se sob a crescente influência dos portugueses à medida que transcorria o século XV e o isolamento da América terminou no ano 1492 com a chegada de Cristóvão Colombo. Ao redor do ano 1550 as grandes civilizações da América haviam chegado ao fim e a escravidão estava desmoralizando e despovoando os outrora poderosos reinos da África Ocidental. Dai em diante, o predomínio pertenceria á civilização européia; contudo, as civilizações autóctones (que nasceu e vive na região) da África e da América não desapareceram sem deixar marcas. Ainda hoje são realizadas tradicionalmente oferendas nas montanhas da América do Sul que remontam à época dos incas. 
           Três processos dominaram a história da África de 1500 a 1800. O primeiro foi o crescimento de grandes unidades políticas na maior parte da África negra. Por três séculos, Estados africanos política e culturalmente independentes atingiram o apogeu e, através do cinturão sudanês da África Ocidental, substituíram impérios  estabelecidos como os de Gana e Mali. Em 1464, Sunni Ali, um dos mais famosos reis e heróis militares africanos, tornou-se governante do povo Songai, que habitava  a margem leste da curva do Niger. 
             As conquista de Sunni Ali construíram o vasto império Songai, mas seu filho foi deposto por Askia, o Grande, que reinou de 1493 a 1528. O comércio floresceu - especialmente através do Saara - e o Império Songai incorporou grandes cidades comerciais, como Timbuktu, Jenne (Djenné) e Gao, que se tornaram centros muçulmanos de aprendizado e devoção. 
         Comunidades de mercadores das ricas cidades - Estado hauçás e outras dos dyolas, povo mandinga de Mali e Songai possibilitaram o crescimento de vários Estados (Mossi-Dagomba e Akan-Ashanti) nas savanas e florestas ao sul do Niger. Perto de 1500, Oyo e Benin, dois grandes estados da Nigéria, emergiram das florestas a oeste do delta do Niger, onde magníficos exemplos das artes plásticas da Árica eram produzidos como as terracotas e bronzes de Ife e Benin. 
            Por toda a África negra, processos semelhantes estavam em andamento, dando lugar a reinos poderosos a partir de sociedades  agrícolas, que trabalhavam o ferro e criavam gado. Em ambientes favoráveis, a população cresceu, o rebanho de gado aumentou e as economias se diversificaram; e o comércio se expandiu, especialmente o de bens produzidos com ferro e cobre. Quando os portugueses aportaram na costa  sul do estuário do rio Congo (Zaire), em 1484, chegaram justamente ao reino de Congo. Ao sul da bacia do Congo havia uma série de estados de língua banto, incluindo os reinos de Luba e Lunda; nas terras férteis entre os lagos da África Oriental uma sucessão de Estados se desenvolveu, os mais importantes Ruanda e Buganda.
           Outra região próspera era o platô do atual Zimbábue (antiga Rodésia), com diversos reinos ali baseados; o Império Monomotapa, conhecido dos portugueses e outros europeus, situava-se a nordeste da moderna Harare. Diversos outros povos que viviam entre os grandes reinos e o sul da África desenvolveram aos poucos Estados menores e menos brilhantes.  
           Os primeiros traços de ocupação do Zimbábue datam do início da Idade do Ferro. A região foi ocupada pela segunda vez no século X, por povos que comercializavam cobre e ouro e 200 anos depois, pedras eram trabalhadas para atividades de construção. Mais tarde, o fogo destruiu o Zimbábue, reconstruído em meados do século XIV. As ruínas atuais são impressionantes: um imenso palácio no vale é circundado por uma muralha de mais de 10 metros de altura, construída de pedra trabalhada; o monte que domina o palácio é encimado por um templo maciço ao acrópole. No auge da grandeza, o Zimbábue era o centro político e religioso de um Estado mercantil considerável, com conexões em regiões tão longínquas quanto a China. 
              Entre 1500 e 1800, o curso da história africana desenvolveu-se seguindo tanto linhas bem estabelecidas quanto novos caminhos. A interação entre a África mediterrânea e a África sudanesa, que começaram em épocas pré-romanas, teve continuidade, com o Islã fazendo  profundas investidas  pela África tropical. Os Estados e culturas africanos, geralmente localizados bem no interior do continente, continuaram seu crescimento constante e lento - com alguns períodos mais dinâmicos . Porém, muitas partes da África caíram sobre a crescente influência econômica dos Estados ocidentais europeus, com profundas consequências políticas e econômicas para as populações costeiras. 
               Segundo processo histórico dominante foi a contínua  expansão do Islã. Não apenas  o norte da África estava islamizado, mas entre 1500 e 1800, o Islã consolidou posição em terras sudanesas e se espalhou para o sul e pela costa leste da Árica. No Chifre da África, a rivalidade inicialmente comercial entre a Etiópia cristã e os Estados costeiros muçulmanos transformou-se em longo conflito político e religioso; o sultão de Adal, Ahmad Gran, lançou, em 1520, um ataque violento e os exércitos muçulmanos alcançaram o centro da Etiópia. Pagan Oromo, de Galla, com tropas vindas do sul e do leste, invadiu e sitiou o exaurido império cristão e o próprio sultanato de Adal. 
             Em 1517, os otomanos conquistaram os mamelucos no Egito e passaram a controlar Trípoli e Túnis; Argel era governada por príncipes piratas aliados dos otomanos. O único Estado a permanecer independente foi o Marrocos, governado em quase todo o período por facções da dinastia Xerife. 
            No século XVI, a maior parte da costa norte da África foi cenário de conflitos econômicos e religiosos entre as potências cristãs, especialmente Espanha e Portugal, e entre o Império Otomano e o Marrocos. Em 1590, no auge do poder, o Marrocos invadiu o Império Songai e organizou um Estado dependente no Sudão; essa invasão desorganizou a vida econômica da região mas, no início do século XVIII, comércio e política da África Ocidental muçulmana voltaram a crescer, numa explosão do proselitismo islâmico que chegou ao ápice com as grandes Guerras Santas de 1790. O terceiro processo assistiu ao crescente envolvimento dos europeus nos destinos da África, à medida em que procuravam ouro, marfim, madeira e, sobretudo, escravos para trabalhar nas minas e plantações das Américas. Embora em 1800 o número de possessões européias em território africano fosse pequeno, o domínio das rotas comerciais oceânicas teve efeito direto e indireto sobre a maioria dos africanos, inclusive os que habitavam o interior. Após 1652, colonos holandeses e huguenotes franceses chegaram ao extremo sul da África e por volta de 1800 já tinham exterminado ou conquistado os povos khoisan, mas encontraram a resistência dos bandos do sudeste. 
             O comércio de escravos começou com os portugueses, seguidos pelos holandeses, franceses e britânicos, com a instalação de feitorias na costa, onde eram comprados os escravos. Entre 1450 e 1870, pelo menos 11,5 milhões de africanos foram capturados para venda dos quais talvez 10 milhões tenham sobrevivido aos horrores da travessia para as Américas. A maioria dos escravos era originária da costa oeste da África, mas por volta de 1800 a América Oriental contribuía não só para o sistema atlântico, como enviava escravos para a Índia e o mundo muçulmano. Nem isso fez a tradicional rota transaariana declinar. 
             Os efeitos precisos do comércio de escravos são tema de calorosos debates, especialmente  quanto ao montante da população  e o surgimento de Estados como Daomé ou Ashanti, fornecedores de escravos. Em termos globais, os europeus foram os mais beneficiados e o desenvolvimento econômico da África foi provavelmente sustado. Por volta de 1800, os africanos tinham feito progressos no desenvolvimento de formas sociais e políticas muito nítidas, mas sua independência já estava comprometida. 
             Até o ano de 1879, a África continuava  sendo um território quase desconhecido às potências européias; era somente um intrincado caleidoscópio de reinos tribais e territórios de caça delimitados pela tradição. Antes de 1880 eram poucas as regiões africanas dominadas diretamente  pela Europa. Ao norte, a França estava empenhada em conquistar a Argélia a partir da década  de 1830; na África Ocidental havia pequenas colônias francesas e britânicas (Senegal, Serra Leoa, Costa do Ouro, Lagos e Gabão) e antigas mas decadentes colônias portuguesas  em Angola e ao longo do vale do Zambeze, em Moçambique. Somente havia uma verdadeira penetração na África Meridional, onde os colonos britânicos do cabo já estavam em franca hostilidade com os africâneres do Transval e do Estado Livre de Orange. Nas demais regiões, salvo na Argélia francesa e os Estados endividados do Egito e Tunísia, a ocupação, inclusive a influência estrangeira, estava reduzida a um punhado de centros de intercâmbio, destacamentos militares e as ilhas frente às costas, como Madagascar e Zamzibar. Entretanto, em apenas duas décadas todo o continente foi conquistado,anexado, disputado e repartido. Das quarenta unidades políticas em que foi dividido - às vezes somente com uma régua e um lápis empunhado em Londres, Paris ou Berlim - 36 deles ficaram sob o domínio direto da Europa. Somente a Etiópia, que lutou contra os italianos por sua independência, e a Libéria, que mantinha laços econômicos com os Estados Unidos, podiam afirmar que eram verdadeiramente independentes. A França, o país mais beneficiado, controlava quase 10 milhões de quilômetros quadrados de uma superfície total de 20  milhões que a África tem.
            Foram muitos os fatores que contribuíram para  esta expansão imperialista. O auge da industrialização na Europa criou a necessidade de abrir novos mercados e deu origem a tensões sociais até então desconhecidas, para os quais alguns políticos (como Joseph Chamberlain , por exemplo) viram na colonização uma boa saída. As rivalidades entre os Estados europeus foram transladados ao mundo exterior e particularmente ao continente africano. Isto significou que, algumas oportunidades, os incidentes mais triviais entre comerciantes europeus competidores na África se convertessem em grandes crises internacionais e que as iniciativas locais dos agentes desencadeassem todo tipo de confusas manobras para apoderar-se do continente. A divisão da África foi, em grande medida, fruto do respaldo que as metrópoles davam às atividades descoordenadas de seus representantes locais para os quais a melhor maneira de solucionar pequenos conflitos, fosse com Estados africanos ou europeus, era apoderar-se de mais territórios. 
           Na África Ocidental foram os franceses os mais inclinados a esse tipo de ações. Uma das mais importantes foi a façanha do Exército da França, quando tentou avançar pelo Rio Senegal até chegar ao Alto Niger. Os oficiais franceses, que não tiveram a oportunidade de se vingar da derrota de 1870, buscaram a glória nas poeirentas planícies  ao sul do Saara (região do Sudão). Isto fez com que entrassem em conflito com os britânicos em Gâmbia e Serra Leoa e com alguns Estados  africanos, como os impérios de Samory e de El-Hadj Omar. Na costa da África Ocidental houve uma intensa rivalidade anglo-francesa nas regiões da Costa do Ouro, Togo, Daomé e Ioruba. Os franceses endureceram sua atitude frente à Grã-Bretanha após a invasão e ocupação unilateral do Egito pelos ingleses em 1882, mas foi a intervenção de outras potências europeias que levou a eclosão do conflito em todo o continente. 
               Depois da épica viagem do explorador Stanley pelo Rio Congo, em 1877, o ambicioso rei Leopoldo  da Bélgica contratou-o para seu serviço pessoal. Em 1879, Stanley regressou ao Baixo Congo e fundou as bases do enorme domínio privado que o rei reservou para seu uso pessoal na bacia do Rio Congo. A façanha de Stanley encontrou imitadores . O francês De Brazza conseguiu alguns tratados de vital importância com os chefes africanos e, quando regressou à Europa, a França imediatamente os reconheceu. Esta ação da França provocou uma rápida reação dos ingleses e dos portugueses, que acabou em nada devido à pressão exercida por Bismarck. O chanceler prussiano quis compensar os desejos de vingança dos franceses  pela perda da Alsácia dando-lhes liberdade na África, e conseguiu isso chantageando a Grã-Bretanha em função do ocorrido no Egito. Logo, a própria Alemanha, durante o governo de Bismarck, entrou na carreira expansionista apoderando-se de territórios em quatro regiões muito distantes entre si: Togo, Camarões, sudoeste da África e África Oriental. As ações francesas e alemães na África Ocidental obrigaram a Grã-Bretanha a uma intervenção imediata, sobretudo para assegurar os territórios que se converteriam posteriormente no Estado da Nigéria. O coração da África foi deixado aos franceses, os quais em 1900 ultrapassaram, a região ocidental do Sudão. 
            A presença alemã no sul da África reavivou as ambições portuguesas e a ameaça de expansão africânder deu origem a incursões inglesas no interior da África Central, onde mais tarde seriam Rodésia, Zâmbia e Malávi. A iniciativa desta incursões foi principalmente de Cecil Rhodes, industrial e político do Cabo. Além disso, a colonização alemã na África Oriental (Tanganica) deu origem a uma contrapartida britânica quando o primeiro ministro, Lord Salisbury, reclamou para a Inglaterra a região dos Grandes lagos (Uganda) e o território adjacente até a costa, que seria mais tarde o Quênia. A partir de sua posição no Egito, os ingleses também foram levados a intervir nos assuntos do Sudão, que se rebelou contra o Egito em 1881 sob o mando do lider religioso islâmico Mahdi. Simultaneamente, os êxitos franceses na parte ocidental (a ocupação do Gabão no Congo Ocidental, a conquista do antigo reino de Daomé em 1893 e as incursões por três rotas distintas em direção ao Lago Tchad) levaram a Grã-Bretanha a mobilizar os recursos da Companhia Real do Niger para conquistar os emirados de Nupe e Ilorin e para envolver-se em uma série de choques armados. Estes não foram somente com os franceses, mas - pela primeira vez - com os Estados africanos que estavam dentro de sua área de comércio. A tensão alcançou seu ápice em 1898, quando o comandante francês Marchand enfrentou, depois de uma marcha de dois anos a partir do Gabão, as tropas britânicas em Fashoda, no Nilo Branco, e ambos os países estiveram a ponto de entrar em uma guerra aberta. 
            A divisão da África, que havia começado como um processo relativamente pacífico, estava provocando agora derramamento de sangue cada vez maiores.  A Etiópia aplicou uma humilhante derrota aos italianos em Adowa, em 1896. Cerca de 20 mil sudaneses morreram quando a Grã-Bretanha arrasou o Estado de Mahdi. Enquanto avançavam para o norte, as forças colonizadoras de Rhodes se enfrentaram em encarniçadas batalhas com os matabelés e os mashonas, e em todos os lugares se generalizava o uso dos rifles de repetição e da metralhadora Maxim por parte dos colonizadores brancos. 
               O conflito alcançou seu ponto máximo na Guerra dos Böers (1899 - 1902), na qual os britânicos obtiveram, com grande dificuldade, o domínio das jazidas de ouro de Transvaal (descobertas em Witwatersrand  em 1886) e absorveram as repúblicas bôeres. As hostilidades começaram com a incursão de Jameson, em 1896, que foi um rotundo fracasso e significou o desprestígio de Rhodes. Entretando Chamberlain, o ministro britânico às colônias, e Milner, o alto comissariado na Cidade do Cabo, seguiram pressionando para impor as politicas de Rhodes quase até chegar à guerra. Por outro lado, os africanos, apesar de se oporem tenazmente aos "movimentos de avançada" das potências européias, nunca se uniram para formar uma resistência conjunta e foram facilmente  derrotados estando divididos. Dos muitos Estados africanos que ainda seguiram mantendo uma precária independência em 1902, a Líbia foi dividida Itália em 1911 e o Marrocos sobreviveu até 1912, antes de ser dividido entre a França e a Espanha. 


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